CONTO: Pega ladrão, Papai Noel!
Marcos Rey
Ele não era bem um Papai Noel,
pois trabalhava numa grande loja, a Emperor, aquela grande, da avenida. Consta,
inclusive, que fez um curso de seis semanas para testar e aperfeiçoar sua
tendência vocacional, obtendo boa nota. Mas seu visual, mesmo sem uniforma,
impressionou favoravelmente a banca examinadora: era gordo, como convém a um
Papai Noel; tinha olhos da cor do céu e a capacidade de sorrir durante horas
inteiras sem nenhum motivo aparente. Aliás, um Papai Noel é isto: uma mancha
vermelha que sabe rir e às vezes fala.
-Você
está ótimo! – disse-lhe o chefe da seção de brinquedos. – As crianças vão
adorá-lo!
Era véspera de Natal e a loja
andava preocupadíssima com as vendas, inferiores ao ano anterior. E preocupada
com outra coisa, ainda: o incrível número de furtos, razão por que o Papai Noel
além de sorrir e estimular as vendas teria que ser também um olheiro, um
insuspeito fiscal de seção.
Ele passeava pelo atraente
departamento de brinquedos eletrônicos, juntamente com seu sorriso, e acabara
de passar a mão nos cabelos louros de um garotinho, quando viu. Viu o quê? Um
homem, e mais que ele, sua mão surrupiando um trenzinho de pilha, imediatamente
metido nua bolsa. Interrompendo em meio seu sorriso, Papai Noel deu um passo
firme, fez voz de vigia:
-Por
favor, me deixe ver essa bolsa!
Nem todo susto é paralisante:
o homem, sem largar a bolsa, saiu em disparada pela seção de brinquedos,
empurrando pessoas, chutando coisas, derrubando e pisando em brinquedos. Atrás
desse furacão, seguia outro furacão, este encarnado, o Papai Noel, que repetia
em cores mais vivas os desastres provocados pelo primeiro. A cena prosseguiu
com mais dramaticidade e ruídos na escadaria da loja, pois a seção de
brinquedos era no sexto andar. No quarto pavimento, Papai Noel chegou a
grampear o ldrão pelo braço, mas este conseguiu escapar, livrando oito degraus
entre o quarto e o segundo andares, Aí, novamente, Papai Noel pôs a mão
enluvada no fugitivo, mas um grupo de pessoas que saía do elevador poluiu a
imagem e ele tornou a ganhar distância.
Na avenida a perseguição teve
novos aspectos e emoções. A pista era melhor para corridas, mas ainda maior o
número de pessoas e obstáculos. O ladrão, logo à saída da loja, chocou-se com
uma mulher que carregava mil pacotes, pacotinhos e pacotões. Foram todos para o
chão. Um propagandista de longas pernas de pau fez uma aterrissagem forçada,
que o aeroporto de Congonhas teria desaconselhado devido ao mau tempo. O Papai
Noel também empurrava, esbarrava e derrubava, aduzindo ao seu esforço o
clássico “pega ladrão!”, um refrão tão comum na cidade que não entendo como
ainda não musicaram. Na primeira esquina, quase... Um carro bloqueou a fuga do
homem, que ficou hesitante enquanto seu colorido perseguidor se aproxima em
alta velocidade.
Consta que Papai Noel
perseguiu o ladrão inclusive no Minhocão, de ponta a ponta, onde é proibida a
circulação de pedestres. Também sem resultado.
A história, que nem história
é, podia acabar aqui, mas prefiro que acabe lá.
Lá, onde?
Naquele quarto de subúrbio.
Aquela noite, o ladrão, à
meia-noite em ponto, deu para o filho o belo presente das lojas Emperor, o
trenzinho de pilha, que tinha luzes diversas e até apitava, excessivamente
incrementado para qualquer garoto pobre.
O menino, que sabia dos apuros
do pai, não recebeu alegremente a maravilha eletrônica.
-Papai, o senhor não devia ter
comprado.
- Mas não comprei.
- Ahn?
- Ganhei.
- De quem?
-
De Papai Noel, ora. Bom cara. Nem precisei pedir, Ele correu atrás de mim e me
deu o presente. Disse que a pilha dura três meses. Legal, não?
In: Antônio de AlcântArA MAchAdo et al. De conto em conto.
São Paulo: Ática, 2006. p. 42-46. (Coleção Quero Ler: Contos).
http://biaatividades.blogspot.com/2013/01/texto-pega-ladrao-papai-noel.html
Desvendando o texto
01. Por que o homem roubou o trenzinho de pilha?
Para
presentear seu filho na noite de Natal.
02. O que você acha da atitude do ladrão?
Responda pessoal.
03. Você acha que o presente é o que mais importa no Natal?
Resposta pessoal.
04. Relacione o texto com a frase: “Os fins não justificam os meios”.
O fato de ele
querer dar um presente para seu filho, não ter como comprar e por isso roubar.
Nada justifica esta atitude.
05. O conto se inicia com a
apresentação de um personagem: um Papai Noel recém-contratado.
a) Que características
tornavam aquele homem ideal para o cargo?
Era
gordo, como convém a um Papai Noel; tinha olhos da cor do céu e a capacidade de
sorrir durante horas inteiras sem nenhum motivo aparente.
b) Além das habituais funções,
esse Papai Noel teria um trabalho especial. Qual? Por que ele havia se tornado
necessário?
Um olheiro, um
insuspeito fiscal de seção, porque aumentou o número de furtos no departamento
de brinquedos eletrônicos.
06. Releia o seguinte trecho.
“Ele passeava pelo atraente departamento de brinquedos eletrônicos, juntamente
com seu sorriso, e acabara de passar a mão nos cabelos louros de um garotinho,
quando viu. Viu o quê?”
Um homem, e mais que
ele, sua mão surrupiando um trenzinho de pilha.
a) A
expressão “juntamente com seu sorriso” contribui para a impressão de que o
Papai Noel age de modo simpático, divertido ou fingido? Por quê?
Para que ninguém suspeite que também
está fiscalizando o departamento.
b) Por
que você acha que o narrador usou a expressão “quando viu. Viu o quê?” em lugar
de contar diretamente o que foi visto?
Resposta pessoal.
c) O que
o Papai Noel fez depois de ter visto o que viu? Por que ele agiu assim?
Papai Noel deu um passo firme e fez
voz de vigia:
- Por favor, me deixe ver essa bolsa!
07. A partir do sexto
parágrafo, a narrativa começa a ficar parecida com cenas de filmes de ação.
a) Por que temos essa
impressão?
Porque o ladrão corre e o Papai Noel o
persegue incansavelmente, sem se importar com as pessoas nas ruas.
b) A relação com o cinema é explorada pelo
próprio narrador no oitavo parágrafo. Que palavras ou expressões do texto se
referem a essa arte?
“A história,
que nem história é, podia acabar aqui, mas prefiro que acabe lá.”
c) A narrativa se passa em São Paulo. Quais características dessa cidade contribuem para a construção das cenas de perseguição?
O aeroporto de Congonhas, a galeria da Barão e o Minhocão.
08. O final da história
surpreende o leitor.
A
história se passa em uma época específica do ano. Como ela ajuda a justificar a
ação do personagem?
A época é Natal. Nesse tempo as pessoas
ficam mais sensíveis, porque comemora o nascimento do menino Jesus.
09. Releia um dos parágrafos
do final do conto. “A história, que nem história é, podia acabar aqui, mas
prefiro que acabe lá.”
a) A que se refere o termo lá?
Refere-se a criança recebendo o presente de
Natal.
b) Se a história terminasse
aqui, falaria de um roubo. O que muda quando o narrador dá continuidade a ela.
Muda o espaço onde a história se passa,
pois agora já é o ambiente da casa, onde a criança recebe o presente.
10- Durante a perseguição,
você torcia pela captura do ladrão? Por quê?
Resposta pessoal.
11. Enumere os fatos na ordem em que apareceram
no texto:
( 3 ) A fuga e a
perseguição
( 5 ) A entrega do presente
( 1 ) A apresentação do Papai Noel
( 4 ) A interferência do narrador
( 2 ) O roubo e o flagrante
12. “Ele não era bem um Papai Noel, pois
trabalhava numa grande loja.”
Por essa
passagem, entende-se que:
a) Não
existe Papai Noel de verdade.
b) O
verdadeiro Papai Noel não precisa trabalhar em lugar nenhum.
c) Há
muitas pessoas que se fazem passar pelo bom velhinho.
d) As
lojas enganam os seus compradores com falsos velhinhos.
e) Nem
todo Papai Noel gosta do seu trabalho.
13. Observando o primeiro parágrafo, pode-se
afirmar que um Papai Noel deve ter todas estas características, exceto:
a) doçura
no olhar
b) sorriso
constante
c) aparência
favorável
d) voz
forte e imponente
e) vocação
para o papel
14. A relação causa-consequência se encontra incorreta
em:
a) A
loja vendera pouco. X Contrataram o Papai Noel.
b) Havia
muitos furtos na loja. X O Papai Noel deveria fiscalizar os compradores.
c) O
Papai Noel viu um homem roubando um brinquedo. X O homem fugiu, levando o que
roubara.
d) Havia
muitos obstáculos dentro e fora da loja. X Papai Noel não conseguia alcançar o
ladrão.
e) Papai
Noel entendeu o motivo de o homem ter roubado o trenzinho. X Papai Noel desistiu da perseguição.
15. Todos os motivos
contribuíram para o insucesso do papai Noel, exceto:
a) A
localização da seção de brinquedos.
b) O
peso do próprio corpo.
c) A
agilidade do homem “ladrão”.
d) O
movimento de clientes dentro da loja.
e) O
trânsito confuso =nas avenidas por onde passaram.
16. A partir do sexto parágrafo, a narrativa
começa a ficar parecida com cenas de filmes de ação.
a) Por que temos essa impressão?
( ) porque narra a passagem de um furacão
devastando uma loja de brinquedos.
( )
porque narra detalhes de um desastre e suas dificuldades.
( )
porque narra o drama de um ladrão.
(x ) porque narra uma perseguição, com
momentos em que o ladrão é quase capturado.
b) A relação com o cinema é explorada
pelo próprio narrador no oitavo parágrafo. Que palavras ou expressões do texto
se referem a essa arte?
( )
ladrão, brinquedo, galeria.
( ) Papai Noel, brinquedo, bom velhinho.
(x ) espectadores, câmera 2, fotogramas (
) impressão, milhas, quilômetros.
c) A narrativa se passa em São Paulo.
Quais características dessa cidade contribuem para a construção das cenas de
perseguição?
(x ) cidade populosa e movimentada.
( ) cidade com poucos habitantes.
( )
cidade tranquila e sem movimento.
( )
cidade pequena e sem conflitos.
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