Notícia: Filme propõe um olhar amoroso mas não idealizado
Por LUIZ ZANIN ORICCHIO – O Estado de S. Paulo
– 05/04/2012 | 03h10
Cao Hamburger pensou a saga da criação
do Parque Nacional do Xingu da maneira como foi – resultado de idealismo e do
sentimento de aventura. Qualidades, aliás, que se foram erodindo com o tempo
até caírem de moda, pelo menos no plano prático. Nos discursos vazios,
continuam sendo palavras nobres.

Os irmãos eram de fato aventureiros,
mas nada preocupados em amealhar riquezas. Era o aspecto humano que os tentava.
No caso, a sobrevivência dos índios no interior de um país que já começava a
fechar-lhes o cerco. Sua missão era basicamente humanística, no que essa
qualidade tem de mais nobre: respeitar e preservar culturas alheias. Mesmo que
seja à força: numa das cenas, uma família é arrancada da sua terra, sob ameaça
de arma, e embarcada rumo ao Xingu. Se permanecesse onde queria, seria
dizimada.
É bom também que os Villas Bôas não
sejam apresentados como seres perfeitos. Cada um deles é visto em suas
contradições. Leonardo (Caio Blat) com sua fraqueza e o envolvimento com uma
índia; Cláudio (João Miguel) com suas incertezas, o que faz dele o personagem
mais complexo, muito por mérito do ator; Orlando (Felipe Camargo), com seu
senso prático obstinado. Há conflitos entre os irmãos. Leonardo é alijado do
grupo. Cláudio acusa Orlando de excessiva flexibilidade política; este lhe
responde que, sem negociar, nada conseguiriam. É verdade. Tanto assim que obtém
a assinatura do decreto que cria o Parque Nacional do Xingu do mais improvável
dos personagens, Jânio Quadros, em sua breve e desastrada presidência.
E há os índios, seu meio ambiente, seu
modo de ser, que se tornam, de fato, os personagens maiores deste filme
amoroso, mas nada piegas e nem cultor do mito do bom selvagem. A natureza é
tanto sedutora quanto hostil. As relações humanas, tão fraternas quanto ásperas
em algumas passagens. E, do todo, fica a sensação desolada de que, no encontro
entre duas culturas, sendo uma muito mais predatória que a outra, uma delas
tende a sucumbir. Xingu descreve esse ato heroico de preservação, sempre
precário, sempre provisório, felizmente contra a lógica do mais forte. Essa
disposição de lutar contra as evidências é o grande legado dos Villas-Boas.
O Estado de São Paulo, 5/4/2012.
Fonte: Livro –
Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed.
– Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 333-334.
Entendendo a notícia:
01 – Segundo o autor da
notícia, qual foi a principal motivação de Cao Hamburger ao abordar a criação
do Parque Nacional do Xingu no filme?
Segundo Luiz
Zanin Oricchio, Cao Hamburger pensou a saga da criação do Parque Nacional do
Xingu como resultado de idealismo e do sentimento de aventura, qualidades que o
autor da notícia lamenta terem se erodido com o tempo.
02 – Qual era o principal
interesse dos irmãos Villas Bôas, de acordo com a notícia, em contraste com a
preocupação em acumular riquezas?
O principal
interesse dos irmãos Villas Bôas era o aspecto humano, especificamente a
sobrevivência dos indígenas em um contexto de crescente ameaça às suas terras e
culturas.
03 – A notícia destaca que o
filme não idealiza os irmãos Villas Bôas. Que exemplos de suas contradições são
apresentados?
A notícia
menciona a fraqueza e o envolvimento de Leonardo com uma índia, as incertezas
de Cláudio que o tornam o personagem mais complexo, e o senso prático obstinado
de Orlando, além dos conflitos existentes entre os irmãos, como a exclusão de
Leonardo do grupo e as acusações de Cláudio sobre a flexibilidade política de
Orlando.
04 – Como a notícia descreve a
representação dos indígenas e da natureza no filme?
A notícia
descreve que os indígenas e seu modo de ser se tornam os "personagens
maiores" do filme, que é apresentado como amoroso, mas sem ser piegas ou
cultuar o mito do bom selvagem. A natureza é mostrada como tanto sedutora
quanto hostil, e as relações humanas entre os indígenas são retratadas como
fraternas, mas também ásperas em alguns momentos.
05 – Qual a "sensação
desolada" que o filme evoca, segundo o autor da notícia, em relação ao
encontro entre culturas?
O filme evoca a
sensação desolada de que, no encontro entre duas culturas com um desequilíbrio
de poder e uma sendo mais predatória que a outra, há uma tendência de que uma
delas sucumba.
06 – Quem foi o personagem
improvável que assinou o decreto de criação do Parque Nacional do Xingu,
conforme mencionado na notícia?
O personagem
improvável que assinou o decreto de criação do Parque Nacional do Xingu foi
Jânio Quadros, durante sua breve e considerada desastrada presidência.
07 – Qual é o "grande
legado" dos irmãos Villas Bôas destacado na conclusão da notícia?
O "grande legado" dos irmãos
Villas Bôas, segundo a notícia, é a disposição de lutar contra as evidências e
a lógica do mais forte, em um ato heroico e sempre precário de preservação.
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