Notícia: O casal, a morte e o jogging – Fragmento
Este poderia ser o título da foto
publicada no JB de quinta-feira, dia 122 de dezembro, página 26, Cidade
Estarrecedora imagem. Reveladora da pouca importância dada à vida e à morte no
mundo em que vivemos. Paulo [...] foi atropelado e morto em cima do calçadão da
Avenida Senambetiba. Eram três e quinze da tarde. O responsável pelo acidente,
Renan [...], tentou fugir, segundo o relato de transeuntes. Não conseguiu
porque a roda de sua Parati ficou travada. Renan declarou que o atropelamento,
seguindo de morte, do engenheiro Paulo, foi uma fatalidade. Seu carro teria
sido fechado por um ônibus que o empurrou para o calçadão. Tendo sido assim,
por que tentar fugir?

Eram seis horas da tarde e o corpo de
Paulo continuava lá. Coberto por um plástico que alguém, certamente algum tipo
de ser humano em extinção, teve a compaixão de estender para proteger a
exposição do corpo, morto e machucado. A matéria do jornal não explica. Por que
Paulo, além de ter sido roubado de sua vida ao ir buscar cigarros com sabor de
canela num quiosque conhecido, ficou ali exposto à visitação pública durante
quase três horas? Por que, além da vida, roubaram também a Paulo o direito de
ser socorrido e, morto, de ser levado dali, onde tornou-se um objeto de
curiosidade dos passantes? Adriana Calcanhoto, no seu CD Senhas, na canção
“Milagres/misérias”, diz: “E eu pergunto e acho que precisaríamos perguntar em
coro: que mundo é este?” Que mundo é este em que estão se transformando as
pessoas que conseguem conversar naturalmente diante de um morto, como se nada
estivesse acontecendo?
Conseguem continuar a sua corrida sem
pensar que na frente, ao lado, havia um homem morto? Na minha infância me
lembro que, quando morria algum cachorro atropelado, a primeira preocupação era
a de enterrar o bicho morto. Preocupação de crianças. De um outro tempo. Não
tão longínquo assim. Escrevo para falar publicamente do meu choque, da minha
indignação, por um lado. E, por outro lado, de minha vergonha, da minha
tristeza enquanto cidadã deste país, moradora desta cidade onde tanta beleza
tem se contrastado com tanta feiura. Dia 11 foi Paulo. Amanhã pode ser qualquer
um de nós. Dá para viver assim?
Claudia Corbisier é
psicanalista, coordenadora da Recepção Integrada do Instituto Philippe Pinel.
Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 21 dez. 1996, Caderno Ideias, p. 6.
Fonte: Português. Uma
proposta para o letramento. Magda Soares – 8º ano – 1ª edição. Impressão
revista – São Paulo, 2002. Moderna. p. 105.
Entendendo a notícia:
01 – Qual é o evento central
relatado na notícia?
A notícia relata
o atropelamento e a morte de Paulo, um engenheiro, no calçadão da Avenida
Senambetiba, no Rio de Janeiro.
02 – Quais são os detalhes
sobre o responsável pelo acidente?
O responsável
pelo acidente é Renan, que tentou fugir do local, mas foi impedido pela roda
travada de seu carro. Ele alegou que o atropelamento foi uma fatalidade, causada
por um ônibus que o teria empurrado para o calçadão.
03 – Qual é a crítica
principal feita pela autora da notícia?
A autora critica
a indiferença das pessoas diante da morte, destacando o fato de que o corpo de
Paulo permaneceu no local por quase três horas, coberto apenas por um plástico,
enquanto as pessoas continuavam suas atividades normalmente.
04 – Como a autora expressa
seu choque e indignação?
A autora utiliza
uma linguagem forte e emotiva para expressar seu choque e indignação, questionando
a falta de compaixão e respeito pela vida e pela morte. Ela também expressa
vergonha como cidadã diante da situação.
05 – Qual é a reflexão da
autora sobre a mudança no comportamento das pessoas?
A autora compara o comportamento atual
das pessoas com o de sua infância, quando a preocupação era enterrar até mesmo
um cachorro atropelado. Ela lamenta a aparente perda de sensibilidade e empatia
na sociedade contemporânea.
06 – Qual a relação da citação
de Adriana Calcanhoto para o texto?
A citação da
música "Milagres/misérias" de Adriana Calcanhoto, é utilizado para
reforçar o sentimento de descrença e questionamento da autora em relação ao
mundo em que vivemos.
07 – Qual é a mensagem final
da autora da notícia?
A mensagem final
da autora é um alerta sobre a fragilidade da vida e a necessidade de reflexão
sobre os valores da sociedade. Ela questiona se é possível viver em um mundo
onde a morte é tratada com tanta indiferença.
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