quarta-feira, 2 de abril de 2025

NOTÍCIA: O CASAL, A MORTE E O JOGGING - FRAGMENTO - CLAUDIA CORBISIER - COM GABARITO

 Notícia: O casal, a morte e o jogging – Fragmento

        Este poderia ser o título da foto publicada no JB de quinta-feira, dia 122 de dezembro, página 26, Cidade Estarrecedora imagem. Reveladora da pouca importância dada à vida e à morte no mundo em que vivemos. Paulo [...] foi atropelado e morto em cima do calçadão da Avenida Senambetiba. Eram três e quinze da tarde. O responsável pelo acidente, Renan [...], tentou fugir, segundo o relato de transeuntes. Não conseguiu porque a roda de sua Parati ficou travada. Renan declarou que o atropelamento, seguindo de morte, do engenheiro Paulo, foi uma fatalidade. Seu carro teria sido fechado por um ônibus que o empurrou para o calçadão. Tendo sido assim, por que tentar fugir?

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjszRlcFGQpfaN4e2KMCFWyFbT_WBstEcZOUA_3cv7-4lS63LjDdATb221pzn3-fQ2WAHqZGdGo2U7WRU1Kl982GdZMIlxX2H7iY_ap40Hpmzsd12ZSufOry7_EiGIkxuiIO9KPzlYhEdXUtlapxCMN2nbYPT1raIhwpfPq1WTM2d05WRwGgyG0JQrqXms/s320/4422647-colisao-envolvendo-pedestre-rgb-color-icon-roadway-crash-batendo-andador-de-carro-pedestre-lesoes-risco-bater-e-correr-acidente-isolado-ilustracao-simples-cheio-linha-desenhando-vetor.jpg 


        Eram seis horas da tarde e o corpo de Paulo continuava lá. Coberto por um plástico que alguém, certamente algum tipo de ser humano em extinção, teve a compaixão de estender para proteger a exposição do corpo, morto e machucado. A matéria do jornal não explica. Por que Paulo, além de ter sido roubado de sua vida ao ir buscar cigarros com sabor de canela num quiosque conhecido, ficou ali exposto à visitação pública durante quase três horas? Por que, além da vida, roubaram também a Paulo o direito de ser socorrido e, morto, de ser levado dali, onde tornou-se um objeto de curiosidade dos passantes? Adriana Calcanhoto, no seu CD Senhas, na canção “Milagres/misérias”, diz: “E eu pergunto e acho que precisaríamos perguntar em coro: que mundo é este?” Que mundo é este em que estão se transformando as pessoas que conseguem conversar naturalmente diante de um morto, como se nada estivesse acontecendo?

        Conseguem continuar a sua corrida sem pensar que na frente, ao lado, havia um homem morto? Na minha infância me lembro que, quando morria algum cachorro atropelado, a primeira preocupação era a de enterrar o bicho morto. Preocupação de crianças. De um outro tempo. Não tão longínquo assim. Escrevo para falar publicamente do meu choque, da minha indignação, por um lado. E, por outro lado, de minha vergonha, da minha tristeza enquanto cidadã deste país, moradora desta cidade onde tanta beleza tem se contrastado com tanta feiura. Dia 11 foi Paulo. Amanhã pode ser qualquer um de nós. Dá para viver assim?

Claudia Corbisier é psicanalista, coordenadora da Recepção Integrada do Instituto Philippe Pinel. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 21 dez. 1996, Caderno Ideias, p. 6.

Fonte: Português. Uma proposta para o letramento. Magda Soares – 8º ano – 1ª edição. Impressão revista – São Paulo, 2002. Moderna. p. 105.

Entendendo a notícia:

01 – Qual é o evento central relatado na notícia?

      A notícia relata o atropelamento e a morte de Paulo, um engenheiro, no calçadão da Avenida Senambetiba, no Rio de Janeiro.

02 – Quais são os detalhes sobre o responsável pelo acidente?

      O responsável pelo acidente é Renan, que tentou fugir do local, mas foi impedido pela roda travada de seu carro. Ele alegou que o atropelamento foi uma fatalidade, causada por um ônibus que o teria empurrado para o calçadão.

03 – Qual é a crítica principal feita pela autora da notícia?

      A autora critica a indiferença das pessoas diante da morte, destacando o fato de que o corpo de Paulo permaneceu no local por quase três horas, coberto apenas por um plástico, enquanto as pessoas continuavam suas atividades normalmente.

04 – Como a autora expressa seu choque e indignação?

      A autora utiliza uma linguagem forte e emotiva para expressar seu choque e indignação, questionando a falta de compaixão e respeito pela vida e pela morte. Ela também expressa vergonha como cidadã diante da situação.

05 – Qual é a reflexão da autora sobre a mudança no comportamento das pessoas?

      A autora compara o comportamento atual das pessoas com o de sua infância, quando a preocupação era enterrar até mesmo um cachorro atropelado. Ela lamenta a aparente perda de sensibilidade e empatia na sociedade contemporânea.

06 – Qual a relação da citação de Adriana Calcanhoto para o texto?

      A citação da música "Milagres/misérias" de Adriana Calcanhoto, é utilizado para reforçar o sentimento de descrença e questionamento da autora em relação ao mundo em que vivemos.

07 – Qual é a mensagem final da autora da notícia?

      A mensagem final da autora é um alerta sobre a fragilidade da vida e a necessidade de reflexão sobre os valores da sociedade. Ela questiona se é possível viver em um mundo onde a morte é tratada com tanta indiferença.

 

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