Poema: Manucure – Fragmento
Mário de
Sá-Carneiro
[...]
Ah! mas que inflexões de precipício, estridentes, cegantes,
Que vértices brutais a divergir, a ranger,
Se facas de apache se entrecruzam
Altas madrugadas frias...
E pelas estações e cais de embarque,
Os grandes caixotes acumulados,
As malas, os fardos – pêle-mêle...
Tudo inserto em Ar,
Afeiçoado por ele, separado por ele
Em múltiplos interstícios
Por onde eu sinto a minh'Alma a divagar!...
– Ó beleza futurista das mercadorias!

– Serapilheira dos fardos,
Como eu quisera togar-me de Ti!
– Madeira dos caixotes,
Como eu ansiara cravar os dentes em Ti!
E os pregos, as cordas, os aros... –
Mas, acima de tudo,
como bailam faiscantes,
A meus olhos audazes de beleza,
As inscrições de todos esses fardos –
Negras, vermelhas, azuis ou verdes –
Gritos de atual e Comércio & Indústria
Em trânsito cosmopolita.
SÁ-CARNEIRO, Mário de.
Manucure. In: MORNA, Fátima Freitas. A poesia de Orpheu. Lisboa, Editorial
Comunicação, 1982. p. 156.
Fonte: Português. Série
novo ensino médio. Volume único. Faraco & Moura – 1ª edição – 4ª impressão.
Editora Ática – 2000. São Paulo. p. 449.
Entendendo o poema:
01 – Qual é a atmosfera geral
criada pelos primeiros versos do poema?
Os primeiros
versos criam uma atmosfera de vertigem e intensidade, com imagens de
"precipício", "vértices brutais" e "facas de
apache". Essa linguagem busca transmitir uma sensação de estranhamento e
choque, característica da estética futurista.
02 – Como o poeta descreve os
objetos presentes nas estações e cais de embarque?
Os objetos, como
"grandes caixotes", "malas" e "fardos", são
descritos de forma caótica e desordenada ("pêle-mêle"). No entanto, o
poeta encontra beleza nessa desordem, destacando a "beleza futurista das
mercadorias".
03 – Qual a relação do eu
lírico com os materiais dos objetos, como a "serapilheira dos fardos"
e a "madeira dos caixotes"?
O eu lírico
expressa um desejo intenso de se conectar com esses materiais, como se quisesse
se fundir com eles. Ele usa verbos como "tocar-me" e "cravar os
dentes" para transmitir essa vontade de interação física e sensorial.
04 – Qual o fascínio do poeta
pelas inscrições nos fardos?
O poeta se
encanta com as inscrições coloridas nos fardos, que ele descreve como
"gritos de atual e Comércio & Indústria / Em trânsito
cosmopolita". Essas inscrições representam a modernidade, o dinamismo e a
globalização, temas centrais da estética futurista.
05 – Como o poema reflete a
estética futurista?
O poema reflete a
estética futurista ao exaltar a velocidade, a modernidade e a industrialização.
A linguagem é dinâmica e sensorial, com imagens que evocam movimento, ruído e
cor. Além disso, o poema celebra a beleza dos objetos industriais e comerciais,
como os fardos e as inscrições, que se tornam símbolos do progresso e da vida
moderna.
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