Notícia: As revelações sobre o cérebro adolescente – Fragmento
Mônica Tarantino,
Monique Oliveira e Luciani Gomes
[...]
Na tentativa de elucidar por que os
jovens atravessam o período de crescimento como se estivessem em uma montanha-russa,
um dos aspectos mais estudados é a tendência de se expor a riscos. No começo da
empreitada científica para decifrar os segredos do cérebro adolescente,
acreditava-se que a falta de noção do perigo iminente estivesse associada à
falta de amadurecimento do córtex pré-frontal, área ligada à avaliação dos
riscos que só atinge o desenvolvimento pleno por volta dos 20 anos. O avanço
das pesquisas, porém, está demonstrando que por volta dos 15 anos os jovens
conseguem perceber o risco da mesma forma e com a mesma precisão que um adulto.

Se sabem o que está acontecendo, por
que os jovens se colocam em situações ameaçadoras? Embora as habilidades
básicas necessárias para perceber os riscos estejam ativas, a capacidade de
regular o comportamento de forma consistente com essas percepções não está
totalmente madura. “Na adolescência, os indivíduos dão mais atenção para
as recompensas em potencial vindas de uma escolha arriscada do que para os
custos dessa decisão”, disse à ISTOÉ Laurence Steinberg, [...], um dos mais
destacados estudiosos da adolescência na atualidade.
A afirmação do pesquisador está
sustentada em exames de imagem que assinalam, no cérebro adolescente, uma
intensa atividade em áreas ligadas à recompensa. Por recompensa, entenda-se a
sensação prazerosa que invade o corpo e a mente após uma vitória, como ganhar
no jogo ou ser reconhecido como o melhor pelo grupo. Esse processo coincide com
alterações das quantidades de dopamina, um neurotransmissor (substância que faz
a troca de mensagens entre os neurônios) muito importante na experiência do
prazer ou recompensa. [...]
Ele também foi buscar na teoria da
evolução a justificativa para o mecanismo cerebral que premia os jovens com
sensações agradáveis por se arriscarem. “No passado, levavam vantagem sobre
outros da espécie aqueles que se deslocavam e assumiam riscos em busca de um
lugar com mais alimento”, pontua. “A busca por novidade e fortes emoções
representaria, à luz da teoria da evolução, um sinal da capacidade de adaptação
dos seres humanos a novos ambientes.” [...]
A busca de emoções e o desejo de ser
aceito e admirado pelos outros – duas características do adolescente – podem se
converter numa mistura explosiva. O psicólogo Steinberg demonstrou claramente
esse mecanismo com o auxílio de um jogo de videogame cuja proposta era dirigir
um carro pela cidade no menor tempo possível. No percurso, os sinais mudavam de
verde para amarelo quando o carrinho se aproximava. Se o competidor cruzasse o
sinal antes de ele ficar vermelho, ganhava pontos. Se ficasse no meio da pista
ou na faixa, perdiam-se muitos pontos. Ao disputarem os jogos a sós em uma
sala, os jovens assumiram riscos na mesma proporção que os adultos. Mas com a
presença de um ou mais amigos no ambiente houve mudança nos resultados. “Nessa
circunstância, os adolescentes correram o dobro dos riscos dos adultos”,
observou o pesquisador.
O papel do grupo na adolescência também
está sendo examinado. “Por volta dos 15 anos, registra-se o pico de atividade
dos neurônios-espelho, células ativadas pela observação do comportamento de
outras pessoas e que levam à sua repetição”, diz o neurologista Erasmo Barbante
Casella, do Hospital Albert Einstein e do Instituto da Criança da Universidade
de São Paulo. Esse é um dos motivos pelos quais os jovens adotam gestos e
roupas similares. Além disso, há a grande necessidade de ser aceito pelos
amigos e o peso terrível da rejeição. [...] Estudos apontam que há também uma
grande quantidade de oxitocina, hormônio relacionado às ligações sociais e
formação de vínculos, circulando no organismo, o que favoreceria a tendência de
andar em turma.
Afora o prazer de correr perigo e dos
altos e baixos humorais, a adolescência pode ser vista como uma fase de
altíssima resiliência, que é a capacidade de se adaptar e sobreviver às
dificuldades. Mas há desvantagens. O lado complicado é que o adolescente que
passa por tantas transformações está mais vulnerável ao aparecimento de
alterações como depressão, ansiedade e transtornos alimentares como a anorexia
e a bulimia. [...].
Mônica Tarantino,
Monique Oliveira e Luciani Gomes – Fonte: Isto É Independente.
Fonte: Livro –
Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed.
– Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 362.
Entendendo a notícia:
01 – Qual era a crença inicial
sobre a razão da tendência dos adolescentes a se exporem a riscos e como as
pesquisas recentes modificaram essa visão?
Inicialmente,
acreditava-se que a falta de noção do perigo nos adolescentes estava ligada ao
amadurecimento incompleto do córtex pré-frontal. No entanto, pesquisas recentes
demonstraram que por volta dos 15 anos, os jovens conseguem perceber o risco
com a mesma precisão que um adulto.
02 – Segundo Laurence
Steinberg, qual fator leva os adolescentes a se colocarem em situações de
risco, mesmo tendo a capacidade de perceber o perigo?
Steinberg afirma
que, na adolescência, os indivíduos tendem a dar mais atenção às recompensas
potenciais de uma escolha arriscada do que aos custos ou consequências
negativas dessa decisão.
03 – Que evidências
neurológicas sustentam a afirmação de Steinberg sobre o foco na recompensa no
cérebro adolescente?
Exames de imagem
revelam uma intensa atividade nas áreas do cérebro adolescente ligadas à
recompensa. Esse processo coincide com alterações nas quantidades de dopamina,
um neurotransmissor importante na experiência do prazer e da recompensa.
04 – Qual a justificativa
evolutiva apresentada para o mecanismo cerebral que recompensa os jovens por se
arriscarem?
A teoria da
evolução sugere que, no passado, aqueles que se deslocavam e assumiam riscos em
busca de mais alimento tinham vantagem. A busca por novidade e fortes emoções
representaria uma capacidade de adaptação a novos ambientes.
05 – Como a presença de amigos
influencia o comportamento de risco dos adolescentes, de acordo com o
experimento com o jogo de videogame?
No experimento,
quando jogavam sozinhos, os adolescentes assumiram riscos na mesma proporção
que os adultos. No entanto, com a presença de amigos, os adolescentes correram
o dobro dos riscos dos adultos, demonstrando a influência do grupo nesse
comportamento.
06 – Qual o papel dos
neurônios-espelho e da oxitocina no comportamento social dos adolescentes,
segundo a notícia?
Os
neurônios-espelho, com pico de atividade por volta dos 15 anos, levam os jovens
a repetir comportamentos observados em outras pessoas, influenciando a adoção
de gestos e roupas similares. A oxitocina, hormônio ligado às ligações sociais,
também está em alta, favorecendo a tendência de andar em grupo e a necessidade
de aceitação pelos amigos.
07 – Além da busca por
emoções, como a adolescência é caracterizada em termos de capacidade de
adaptação e quais são as possíveis desvantagens dessa fase de intensas
transformações?
A adolescência é
caracterizada como uma fase de altíssima resiliência, ou seja, grande
capacidade de se adaptar e sobreviver a dificuldades. No entanto, as intensas
transformações tornam os adolescentes mais vulneráveis ao desenvolvimento de
alterações como depressão, ansiedade e transtornos alimentares.
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