Poesia: Eu vejo uma gravura
Reynaldo
Jardim
Eu vejo uma gravura
grande e rasa.
No primeiro plano
uma casa.
À direita da casa
outra casa.
Lá no fundo da casa
outra casa.

Em frente da casa
uma vala:
onde escorre a lama
doutra casa.
E no chão da casa
outra vala:
onde escorre o esgoto
doutra casa.
Esta casa que eu vejo
não se casa
com o que chamamos
uma casa.
Pois as paredes são
Esburacadas
onde passam aranhas
e baratas.
E os telhados são
folhas de zinco.
E podem cair
a qualquer vento.
E matar uma mulher
que mora dentro.
E matar a criança
que está dentro
da mulher que mora
nessa casa.
Ou da mulher que mora
noutra casa.
É preciso pintar
outra gravura
com casas de argamassa
na paisagem.
Crianças cantando
a segurança
da vida construída
à sua imagem.
Joana em flor. Rio de
Janeiro: José Álvaro Editor, 1965. p. 63.
Fonte: Livro –
Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar
Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 123.
Entendendo a poesia:
01 – Qual é o tema central do
poema?
O tema central do
poema é a crítica à precariedade da habitação e das condições de vida em áreas
marginalizadas. Reynaldo Jardim utiliza a imagem da "gravura" para
representar a realidade crua e desoladora dessas comunidades.
02 – Como a repetição da
palavra "casa" contribui para o significado do poema?
A repetição da
palavra "casa" enfatiza a monotonia e a uniformidade das moradias
precárias. Essa repetição cria um efeito de estranhamento, pois as
"casas" descritas no poema não correspondem ao conceito tradicional
de lar, mas sim a estruturas frágeis e insalubres.
03 – Qual o significado das
"valas" mencionadas no poema?
As
"valas" representam a falta de saneamento básico e a precariedade da
infraestrutura nas áreas marginalizadas. A lama e o esgoto que escorrem pelas
valas simbolizam a insalubridade e o risco à saúde que os moradores dessas
comunidades enfrentam.
04 – Como a imagem dos
"telhados de zinco" contribui para a construção da crítica social?
Os "telhados
de zinco" simbolizam a fragilidade e a precariedade das moradias. A menção
à possibilidade de os telhados caírem com o vento e matarem os moradores
intensifica a sensação de insegurança e vulnerabilidade.
05 – Qual o significado do
verso "Esta casa que eu vejo não se casa com o que chamamos uma
casa"?
Esse verso
destaca o contraste entre a realidade das moradias precárias e o conceito
idealizado de lar. As "casas" descritas no poema não oferecem
segurança, conforto ou dignidade, e por isso não podem ser consideradas como
verdadeiros lares.
06 – Como a proposta de
"pintar outra gravura" se relaciona com a crítica social presente no
poema?
A proposta de
"pintar outra gravura com casas de argamassa na paisagem" representa
o desejo de transformar a realidade precária em um cenário de dignidade e
segurança. Essa proposta expressa a esperança de construir um futuro melhor
para as comunidades marginalizadas.
07 – Qual a mensagem principal
que Reynaldo Jardim transmite com esse poema?
Reynaldo Jardim
transmite uma mensagem de denúncia e esperança. O poema expõe a dura realidade
das moradias precárias, mas também expressa o desejo de construir um futuro
mais justo e digno para todos.
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