Artigo de opinião: Não há como ficar pior – Fragmento
Ronaldo França
Chacina
na Baixada Fluminense expõe a face mais cruel da violência no país: a polícia
organizada para matar inocentes
A corrupção policial é o inimigo número
1 da segurança pública. É ela que alimenta os bandidos com uma encorajadora
sensação de impunidade e esteriliza a ação do Estado. É também ela a porta de
entrada dos próprios policiais no mundo do crime. O exemplo extremo dessa
realidade foi visto na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, há duas semanas,
quando trinta pessoas foram assassinadas em menos de duas horas. O crime foi de
uma brutalidade nunca vista no país. Não apenas pelo número de vítimas, mas porque
foram contados nos corpos mais de sessenta tiros dados principalmente na
cabeça, no pescoço e na região do coração. Entre os mortos, adolescentes e
crianças. Todos absolutamente inocentes. A investigação inicial tem provas de
que os autores são policiais suspeitos de envolvimento em atividades de segurança
privada.

[...] O envolvimento de policiais com o
crime não é novidade e acontece em todo o país. Mas a frequência com que tem
ocorrido cresce assustadoramente. Especialista em supervisão de policiais, o
americano Paul Whisenand escreveu que a integridade faz parte da infraestrutura
da segurança pública. Quando ela se esvai, a polícia perde credibilidade e
eficiência. Várias cidades do mundo já se defrontaram com esse problema e a
experiência mostra que a faxina é inevitável quando se pretende construir uma
política de segurança eficaz.
[...] Em Nova Orleans, nos Estados
Unidos, um terço da força policial foi afastada com a implantação de uma
política de tolerância zero semelhante à de Nova York, onde o mesmo ocorreu. Em
Los Angeles, centenas de policiais foram postos para fora de seus distritos.
Nessas cidades os índices de criminalidade foram reduzidos em até um terço do
que eram, o que não se teria conseguido sem a limpeza na polícia.
A experiência americana mostra que o
expurgo dos policiais criminosos é vital, mesmo quando se sabe que no dia
seguinte à expulsão haverá um bandido a mais à solta. “É melhor um bandido na
rua, monitorado, do que disfarçado de policial e com sua ação criminosa
custeada pelo estado”, afirma o ex-secretário nacional de Segurança Pública
José Vicente da Silva Filho.
Ronaldo França. Veja,
n° 1900.
Fonte: Livro –
Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar
Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 241.
Entendendo o artigo:
01 – Qual o evento trágico que
motiva a reflexão do autor no artigo?
A chacina
ocorrida na Baixada Fluminense, onde trinta pessoas foram assassinadas com
extrema brutalidade, sendo muitas vítimas atingidas na cabeça e no coração,
incluindo adolescentes e crianças inocentes.
02 – Segundo o autor, qual é o
principal inimigo da segurança pública no Brasil?
A corrupção
policial é apontada como o inimigo número um da segurança pública, pois
alimenta a impunidade dos criminosos, impede a ação eficaz do Estado e serve
como porta de entrada para policiais no mundo do crime.
03 – Qual a principal
implicação da perda de integridade na polícia, de acordo com o especialista
Paul Whisenand citado no artigo?
A perda de
integridade na polícia leva à perda de credibilidade e eficiência da
instituição, prejudicando a segurança pública como um todo.
04 – Quais exemplos de cidades
americanas são mencionados no artigo como casos de sucesso na redução da
criminalidade através da "faxina" na polícia?
Nova Orleans e
Los Angeles, nos Estados Unidos, são mencionadas como cidades que implementaram
políticas de tolerância zero e afastaram um grande número de policiais,
resultando na redução significativa dos índices de criminalidade.
05 – Qual o argumento
apresentado pelo ex-secretário nacional de Segurança Pública, José Vicente da
Silva Filho, sobre a importância de expurgar policiais criminosos da
corporação?
Ele argumenta que
é preferível ter um bandido na rua, mesmo que monitorado, do que um criminoso
disfarçado de policial, cuja ação criminosa é financiada pelo próprio Estado.
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