Reportagem: Vida e Morte, uma questão de dignidade – Fragmento
Mônica Manir
Por mais de 12 anos, o padre Leo
Pessini fez de um hospital sua paróquia. À beira dos leitos ou pelos
corredores, compartilhou graças de cura, ministrou extremas-unções, prestou
pronto-socorro às dores da alma. [...]

[...]
Você lerá a seguir algumas respostas
dadas pelo padre às questões propostas pelo jornal.
Para
fugir do rótulo de eutanásia, proibida pela legislação, os médicos retiraram o
tubo (de Terri Schiavo) em vez de oferecer algum medicamento que lhe tirasse a
vida. Ainda assim, a opção é vista como eutanásia?
Sim, é uma eutanásia passiva ou por
omissão, moralmente inaceitável. O termo “eutanásia” quer dizer, literalmente,
morte boa, sem dor nem sofrimento, assistida por um médico, ao doente
moribundo. No século XX, porém, esse tom benévolo ganhou um caráter pejorativo
depois que nazismo “eutanasiou” cerca de 100 mil pessoas, principalmente
recém-nascidos, idosos e deficientes físicos e mentais. A eutanásia pode ser
ativa ou passiva. Um exemplo de eutanásia ativa é a administração de uma
overdose de morfina. O caso de Terri ilustra a passiva.
A Igreja condena a eutanásia, mas
autoriza os médicos a deixarem uma pessoa morrer em paz. Qual é a diferença?
Deixar a pessoa morrer em paz é aceitar
a condição humana e evitar que se usem procedimentos médicos desproporcionais
em relação aos resultados esperados. É negar o abreviamento da vida ou
eutanásia, mas também o prolongamento exagerado da agonia, do sofrimento e da
morte do paciente por meio da tecnologia e dos medicamentos – a chamada distanásia.
Tratamento fútil e inútil, a distanásia não estende a vida propriamente dita, e
sim o processo de morrer. Diante de um prognóstico certo de que não há mais
cura para determinada doença – e nem sempre é fácil chegar a isso –, paira uma
obstinação terapêutica em busca da cura da morte. Nesse sentido, em vez de
manter a pessoa indefinidamente presa a uma máquina, seria mais apropriado
investir em cuidados paliativos que dessem mais conforto ao doente numa fase
terminal.
Negar
os recursos da tecnologia a um paciente não seria ferir um dos objetivos
clássicos da medicina, que é prolongar a vida?
Não sou contra a tecnologia, mas contra
a “tecnolatria”, que coloca os aparelhos e a farmacologia num pedestal. [...]
Hoje as UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) são modernas catedrais do
sofrimento humano. Só deveria ir para a UTI quem tem esperança de cura e saúde,
mas não é bem isso o que acontece.
[...]
Mônica Manir. O Estado
de São Paulo, 27/3/2005.
Fonte: Livro –
Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar
Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 224-225.
Entendendo a reportagem:
01 – Qual foi a experiência
marcante do Padre Leo Pessini mencionada no início do texto?
Por mais de 12
anos, ele fez de um hospital sua paróquia, compartilhando momentos com
pacientes à beira dos leitos e nos corredores, oferecendo apoio espiritual em
diversas situações.
02 – Como o Padre Leo Pessini
classifica a retirada do tubo de Terri Schiavo, mesmo sem a administração de
medicamentos letais?
Ele classifica
essa ação como eutanásia passiva ou por omissão, considerando-a moralmente
inaceitável.
03 – Qual a definição literal
de "eutanásia" apresentada no texto e como essa palavra adquiriu uma
conotação negativa?
Literalmente, "eutanásia"
significa "morte boa, sem dor nem sofrimento, assistida por um médico, ao
doente moribundo". A palavra ganhou um caráter pejorativo devido ao uso
pelo nazismo para justificar a morte de cerca de 100 mil pessoas.
04 – Qual a distinção que a
Igreja faz entre eutanásia e "deixar a pessoa morrer em paz", segundo
o Padre Leo Pessini?
"Deixar a
pessoa morrer em paz" significa aceitar a condição humana e evitar
procedimentos médicos desproporcionais. Diferentemente da eutanásia, que
abrevia a vida, e da distanásia, que prolonga exageradamente o sofrimento, essa
abordagem foca em não impedir o curso natural da morte quando a cura não é mais
possível.
05 – O que é distanásia, e
qual a crítica do Padre Leo Pessini a essa prática?
Distanásia é o
prolongamento exagerado da agonia e da morte de um paciente por meio de
tecnologia e medicamentos, mesmo quando não há mais esperança de cura. O Padre
Pessini critica essa prática, chamando-a de tratamento fútil e inútil que apenas
estende o processo de morrer.
06 – Qual a ressalva feita
pelo Padre Leo Pessini em relação ao uso da tecnologia na medicina?
Ele não é contra a tecnologia em si, mas
sim contra a "tecnolatria", que supervaloriza aparelhos e
farmacologia. Ele argumenta que as UTIs, por exemplo, deveriam ser reservadas
para quem tem esperança de cura, o que nem sempre acontece.
07 – Qual a alternativa de
cuidado que o Padre Leo Pessini sugere para pacientes em fase terminal, em vez
da obstinação terapêutica?
Ele sugere
investir em cuidados paliativos, que visam dar mais conforto e dignidade ao
doente em fase terminal, em vez de manter a pessoa indefinidamente presa a
máquinas na busca incessante pela cura da morte.
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