quarta-feira, 2 de abril de 2025

REPORTAGEM: A DITADURA DA MODA - (FRAGMENTO) - FOLHA DE SÃO PAULO - COM GABARITO

 Reportagem: A ditadura da moda – Fragmento

          Uma garota morre de vontade de comer cachorro-quente e tomar sorvete, mas não come nada porque quer que lhe caia bem uma calça de cintura baixa que acabou de comprar. Um rapaz odeia fazer exercícios, mas passa horas na academia só pra ter o corpo malhado e ser elogiado pelas garotas. Afinal, quem é que manda em nosso corpo e em nossas vontades? Que valores são esses que, quando menos percebemos, começamos a incorporar?

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4ToMh2i8ymaE43yll4Yp2TQBe-PqF3ZQ8z344CW1KcGCPjGPBpxvP8T_8xzOGkUjzgc0A2902-PkBoFumFKTlFJck3S5ulZAzj1VCMK38RFuvhMxSFJKfQC-zxpbyRmqQwHhIFKeQxjHHKxPoTO6rH_ZfGud2rECsPj4PecTLHqQyJubY2YfgrvyeE-c/s320/DITADURA.jpg


Diários do terror

        Garotas correm risco de morrer ao defender em blogs a anorexia e a bulimia como estilo de vida

        Um perigo para a saúde internet. Para defender o que estilo de vida e que, na verdade, são dois distúrbios alimentares graves que podem levar à morte, algumas meninas escrevem blogs, participam de discussões e criam comunidades no Orkut dedicados à bulimia e à anorexia.

        A anorexia faz com que meninas, mesmo magras, se sintam gordas e não comam; já a bulimia é marcada por episódios de compulsão alimentar seguidos de culpa. É comum passar de urna doença para a outra.

        Cúmplices nesse suicídio lento, algumas meninas criam uma rede amigas virtuais, na qual se conhecem apenas pelo MSN (programa de mensagens instantâneas), por e-mail, cartas e pelos comentários que deixam nos blogs (diários on-line) das outras. Com idades entre 15 e 17 anos, descobrem nos sites uma maneira de conseguir apoio para continuarem doentes, usando esses blogs para confessar práticas como vomitar após comer e dietas conhecidas por "no food" (sem comida), na qual ficam muitos dias sem se alimentar.

        Esses sites também acabam atraindo garotas que têm todos os fatores de risco para desenvolver um distúrbio alimentar para embarcar nessa prática mortal.

        Chamam-se entre si de “ana” e “mia”, nomes “carinhosos” para defender a anorexia e a bulimia. Nos blogs, "miar" é sinônimo de "vomitar". Sem limites, elas querem ser as mais magras possíveis. Sofrem ainda de forte depressão e são indiferentes quanto ao risco de morte que correm.

        Sem sair da frente do computador, elas trocam dicas de corno provocar o vômito, de como enganar os familiares e amigos e de como suportar ficar dias sem comer. "A anorexia e a bulimia” são dois grandes estados de solidão. Elas dizem que não é doença, é opção de vida. Não é verdade. Quando a doença toma conta, tira delas qualquer opção", afirma a psiquiatra Tatiana Moya, que defendeu tese na USP sobre transtornos alimentares.

        "Fiz o blog há um ano para contar a minha vida. Começaram a visitá-lo e daí conheci outros. Na internet eu posso ser qualquer um", conta Renata, 17 anos, que tem 1,63 m e 48 kg. Para ela, "35 kg estará de bom tamanho", apesar de saber que, antes de chegar a esse peso, já poderá estar morta. "Sinto os meus batimentos cardíacos fracos e a capacidade dos meus pulmões meio reduzida. Não é agradável, mas é necessário, embora eu saiba que posso morrer antes."

        A família dela já sabe do problema, mas não do blog. Renata é tratada por um psicólogo e um psiquiatra. "Eles me dizem o quanto é bom comer, que é sinal de felicidade. Para meu psiquiatra, tenho um misto de anorexia e bulimia, mas para mim não é. Não estou doente. Sinto-me indiferente."

        Nesse universo secreto, há até uma certa disputa macabra de quem consegue ficar mais tempo em uma dieta "no food". "Já fiquei oito dias sem comer nada. Depois, o corpo não vai aguentar uma quantidade estúpida de comida."

        A desculpa de muitas garotas para seguir essa dieta mortal é à pressão da mídia e da publicidade. "Vivemos vendo aquelas modelos magérrimas em propagandas e todas aquelas mulheres maravilhosas na TV Com isso nos sentimos inferiores. A mais feia das feias", diz a gaúcha Karina, 16 anos, 1,70 m de altura, 55 kg, que quer pesar menos de 50 kg. "As adolescentes são mais suscetíveis às pressões para emagrecer. O estopim para desencadear esse processo doentio pode ser a imagem de magreza que o mercado da moda e a mídia colocam como ideal", diz a psicanalista Maria Beatriz Meirelles Leite, consultora de agências de modelos.

        Todas as entrevistadas pelo Folha Teen concordam que os blogs as influenciaram a seguir práticas que podem levar à anorexia. A gaúcha Karina aprendeu técnicas de como vomitar em um dos sites. "Os blogs me dão força de vontade. Fiz amigas, com as quais converso no MSN, mas não nos conhecemos pessoalmente." Disfarçar a existência do blog' é fácil; difícil é esconder às vezes que se vomita. "Procuro não fazer barulho. Lavo o rosto e vou para o quarto. Já vomitei sete vezes num dia", diz Karina.

        A paranaense Isabel, 15 anos, 1,70 m de altura, 64 kg, quer pesar 45 kg. Ela sobe na balança todos os dias, pela manhã, e diz que se sente horrível. Criou o blog há menos de um mês. "Fiquei sabendo deles quando, por curiosidade, resolvi ver blogs de anas e mias."

        Isabel sabe que pode morrer se continuar nesse regime, mas não pensa em se tratar. "Acho que todas as anas e as mias sabem que isso leva à morte. Várias meninas já perderam amigas anas por isso. Mas, mesmo assim, isso não nos leva a desistir."

        [...]

Folha de São Paulo, 7/2/005. FolhaTeen.

Fonte: Livro – Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 12-14.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual o principal problema abordado na reportagem?

      A reportagem aborda a influência da moda e da mídia na imposição de padrões de beleza irreais, levando jovens a desenvolverem distúrbios alimentares como anorexia e bulimia.

02 – Como a internet contribui para a disseminação desses distúrbios?

      A internet serve como um espaço onde jovens compartilham dicas e incentivam uns aos outros a manterem práticas prejudiciais à saúde, como dietas extremas e indução de vômito.

03 – Quais são os principais riscos à saúde mencionados na reportagem?

      A anorexia e a bulimia são destacadas como distúrbios alimentares graves que podem levar à morte, além de causarem depressão e outros problemas de saúde mental.

04 – Qual a influência da mídia e da publicidade nos padrões de beleza?

      A mídia e a publicidade promovem imagens de modelos extremamente magras, o que leva jovens a se sentirem pressionados a alcançar esses padrões irreais.

05 – Como os blogs e comunidades online influenciam as jovens com distúrbios alimentares?

      Esses espaços virtuais oferecem um senso de comunidade e apoio, mas também reforçam comportamentos doentios e dificultam a busca por tratamento.

06 – Qual o papel dos profissionais de saúde no tratamento desses distúrbios?

      Psicólogos e psiquiatras são essenciais para ajudar as jovens a reconhecerem a gravidade de seus problemas e a desenvolverem uma relação mais saudável com a comida e seus corpos.

07 – Qual a importância do apoio familiar no tratamento desses distúrbios?

      O apoio familiar é fundamental para o sucesso do tratamento, pois ajuda as jovens a se sentirem amadas e aceitas, independentemente de sua aparência.

08 – Como a reportagem descreve a relação das jovens com seus corpos?

      As jovens se sentem constantemente insatisfeitas com seus corpos, buscando incessantemente a magreza extrema, mesmo colocando em risco suas próprias vidas.

09 – Qual a mensagem principal da reportagem sobre a "ditadura da moda"?

      A reportagem critica a imposição de padrões de beleza irreais pela moda e pela mídia, destacando os perigos que esses padrões representam para a saúde física e mental dos jovens.

10 – Quais são os sinais de alerta que indicam que uma jovem pode estar sofrendo de anorexia ou bulimia?

      Perda de peso excessiva, obsessão por dietas e exercícios, isolamento social, mudanças de humor repentinas e comportamentos como induzir o vômito ou esconder alimentos são sinais de alerta importantes.

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