Notícia: Somos todos um só – Fragmento
Pesquisa genética internacional
mostra que não existem raças na espécie humana, derrubando qualquer base
científica para a discriminação
NORTON GODOY
Se um pesquisador do IBGE bater à sua
porta e perguntar qual é sua raça, você terá dúvidas para responder? Por mais
banal que pareça, essa questão está gerando muita polêmica nos Estados Unidos.
O presidente Bill Clinton chegou a formar uma comissão de alto nível para
discuti-la. Isso porque, assim como os brasileiros, os americanos irão realizar
no ano 2000 o último censo do século. Lá, porém, o resultado do perfil racial
da população não é apenas mais um quesito estatístico. Influi, entre outras
coisas, na distribuição de recursos aos órgãos federais e não-governamentais
dedicados às chamadas minorias étnicas. Enquanto aqui você tem total liberdade
de definir qual é sua raça, lá é o recenseador quem identifica o cidadão entre
nada menos do que sete grupos raciais.
Mas, se a questão já tinha implicações
políticas, econômicas e culturais, ficou ainda mais difícil há poucos dias com
a publicação de um amplo e meticuloso trabalho científico que chegou a uma
conclusão taxativa: não existem raças na espécie humana.

Diferenças
insignificantes
Para chegar a esta afirmação, uma
equipe de cinco cientistas estudou e comparou mais de oito mil amostras
genéticas colhidas aleatoriamente de pessoas de todo o mundo. Segundo Alan
Templeton, biólogo americano que dirigiu a pesquisa, diferentemente de todas as
outras espécies de mamíferos, não há raças entre os humanos porque "as
diferenças genéticas entre grupos das mais distintas etnias são
insignificantes". Para que o conceito de raça tivesse validade científica,
"essas diferenças teriam de ser muito maiores". Ou seja, não importa
a cor da pele, as feições do rosto, a estatura ou mesmo a origem geográfica de
qualquer ser humano (traços que distinguem culturalmente as etnias):
geneticamente, somos todos muito semelhantes. [...]
O trabalho realizado pela equipe de
Templeton se somou a pesquisas anteriores que já vinham apontando essa unidade
na espécie humana. "Infelizmente, a noção popular de raça esteve sempre
tão vinculada erroneamente à biologia que será difícil derrubar essa
crença", afirmou o cientista americano.
[...]
Racismo
Mas o que diz quem está na linha de
frente do combate à chamada discriminação racial? Para a senadora Benedita da
Silva, negra de 56 anos, eleita vice-governadora do Rio de Janeiro, "a
pesquisa pode ser comparada a uma lei. Se a lei existe, mas não há vontade
política de usá-la como elemento promocional de igualdade entre os seres
humanos, ela acaba no arquivo" diz. "Antes de mais nada, é preciso
também acabar com essa história de minorias e diferenças. Minoria é uma
definição ideológica. Eu não quero ser diferente e essa ideologia não foi
criada por mim." Esse pensamento não é compartilhado por Francisco
Oliveira, editor da revista Raça, que não pretende mudar o nome da
publicação mesmo sabendo que não existem raças na espécie humana. "Pode
estar comprovado cientificamente, mas no âmbito cultural não muda nada. A
constatação não extrapola imediatamente para o comportamento social",
disse. [...]
Isto É, 18 nov. 1998,
p. 129-130, 133-134.
Fonte: Português. Uma
proposta para o letramento. Magda Soares – 8º ano – 1ª edição. Impressão
revista – São Paulo, 2002. Moderna. p. 126-127.
Entendendo a notícia:
01 – Qual foi a principal
conclusão da pesquisa genética internacional mencionada no texto?
A pesquisa
concluiu que não existem raças na espécie humana, pois as diferenças genéticas
entre os grupos étnicos são insignificantes.
02 – Qual a importância do
censo racial nos Estados Unidos, em contraste com o Brasil?
Nos Estados
Unidos, o resultado do censo racial influencia a distribuição de recursos para
órgãos federais e não governamentais dedicados às minorias étnicas. No Brasil,
há mais liberdade para o indivíduo definir sua própria raça.
03 – Quem liderou a pesquisa
genética que contestou o conceito de raça e qual a sua área de estudo?
Alan Templeton,
um biólogo americano, liderou a pesquisa.
04 – Qual a opinião da
senadora Benedita da Silva sobre a pesquisa e o combate à discriminação racial?
A senadora
acredita que a pesquisa é como uma lei que precisa de vontade política para ser
efetiva na promoção da igualdade. Ela também critica a ideia de
"minorias" e "diferenças", defendendo a igualdade entre os
seres humanos.
05 – Qual a posição de
Francisco Oliveira, editor da revista "Raça", sobre a pesquisa e o
impacto social?
Francisco
Oliveira reconhece a comprovação científica da inexistência de raças, mas
argumenta que isso não muda imediatamente o comportamento social e cultural.
06 – O que o biólogo Alan
Templeton afirma sobre as diferenças genéticas entre as etnias?
Alan Templeton
afirma que as diferenças genéticas entre grupos das mais distintas etnias são
insignificantes.
07 – Qual a implicação da
pesquisa para o conceito de raça na sociedade?
A pesquisa busca
derrubar a crença de que raças existem, mostrando que somos todos geneticamente
semelhantes, independentemente de cor da pele, feições, estatura ou origem
geográfica.
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