quarta-feira, 2 de abril de 2025

REPORTAGEM: SEM PRECONCEITO NENHUM SOU PRETO - FRAGMENTO - ALMANAQUE BRASIL CULTURA POPULR - COM GABARITO

 Reportagem: SEM PRECONCEITO NENHUM SOU PRETO – Fragmento

          Deu no jornal: branco ganha mais que branca que ganha mais que negro, que ganha mais que negra. Mas já foi pior. Com otimismo contagiante, Martinho da Vila falou ao Almanaque Brasil Cultura Popular, no Papo-cabeça do mês em que se celebra o Dia da Consciência Negra

      “Nada antigamente era melhor do que hoje”

      Como você vê as conquistas?

        A mudança fundamental é a gente poder falar. Houve um tempo no qual era muito difícil, para os militantes, falar do movimento. Outro tempo foi o de contestação. A luta hoje é por participação na sociedade. A estratégia de protestar é fácil, basta agredir. A de contestar é mais difícil. Uns vinte anos atrás, vi em Nova York aqueles luminosos, achava fantástico, ao mesmo tempo estranho: era porque havia negros nos cartazes. Uma coisa que não havia no Brasil. Agora vemos aí vários cartazes com negros.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_5drfwkN9yrOCP47_SD7w62gpSEqLSdhKJyFrCrQ8hKrutvUaIlIk0LeveTGQTAw9v4DMUgGYknEzHAr8Pa2-jpk_jcK3yctOqr75ujGKDaaahxIXDQ0BG7ICnaRM8gG7ivU47PcOI4C7vCFbYDd6TckgGeHW9oE2PH8PLR2YVo1eDhNXAEXsQ2y29lA/s320/NEGRO.jpeg 


      Mas nós temos a peculiaridade da mestiçagem, que nos diferencia de vários países aos quais os negros chegaram como escravos.

        Isso é bom, porque criamos a raça- Brasil. Mas não saiu tão perfeito, porque na América do Norte o negro vive melhor e lá muito mais negros participam da administração, das universidades. Cheguei a um banco, vi aquele monte de negros trabalhando, olhei na gerência: só tinha negro! Uma coisa que não existe no Brasil. Aqui tratam você muito bem, tanto quanto qualquer cliente que tenha conta, não discriminam, tudo bem. Então a mestiçagem foi muito boa, mas contribui para manter essa diferença.

      Nos estados unidos existe obrigatoriedade de empregar uma proporção de negros, o sistema de cotas. Você é a favor?

        Sou favorável. Subir na sociedade depende da convivência. Um conhece um, outro conhece outro. Tanto é que a pessoa, mesmo sem ter preconceito doentio, diz: “eu vou na escola de samba, eu vou no botequim, eu vou na casa do empregado”, tudo certo. É uma coisa incrível. Por isso, sou a favor das cotas.

      O pessoal é contra, por quê?

        Porque acha que devíamos lutar para conquistar. E cada um que conquista é um exemplo. Dou razão a ele. Mas é um processo muito longo. [...]

      O povo negro tem consciência de sua história? Se não tem, por que não tem?

        Não tem. Nem o povo negro, nem o povo brasileiro. Creio que a maioria de vocês não sabe quem foi o tetravô, nem o bisavô, eu mesmo não sei direito.

      Vamos pegar então você, a sua genealogia.

        Tem aquela camisa “100% negro”; eu vou botar uma camisa “70%”. Dentro da minha família, a gente evitava falar, era perigoso. Você era doutrinado a não falar da cultura negra, religião afro, para poder avançar, conseguir emprego, estudar. Tinha que renegar a origem. [...] A gente nunca estudou o continente africano. Pulou! Éramos obrigados estudar países nórdicos, mas ninguém perguntava onde fica Angola, Moçambique. [...]

      A surrada questão que se discute é por que negro que sobe na escala social casa com branca.

        Primeiro, nós somos iguais a qualquer um, influenciáveis. Os padrões de beleza que nos venderam a vida inteira qual foi? A mulher branca. Isso fica no inconsciente, arquivado. O outro motivo: quando ele sobe, nos lugares onde anda só tem branca. Se ele não casar com branca, só se for racista. [...]

      A oportunidade é hoje maior para o jovem, a criança negra?

        Com certeza. Um filho de pobre, de negro, não podia sonhar em ser deputado, governador, senador. Hoje, qualquer filho nosso pode ser presidente. Antes, nem era cidadão.

      Resta algum preconceito em alguma camada?

        A juventude brasileira, arrisco dizer, é hoje sem preconceito. Existe ainda nas pessoas mais velhas, daquela classe dominante antiga, que perderam muita coisa. O Brasil não tem 4 mais o preconceito doentio. Estamos avançando. O Brasil está muito melhor. Minha mãe, que tem 92 anos, analfabeta, tem uma sabedoria fantástica. Sempre que alguém fala “ah, antigamente era melhor”, ela me chama e diz: “mentira, Martinho, nada antigamente era melhor do que hoje”. E tem razão.

Almanaque Brasil Cultura Popular, n. 8, nov. 1999, p. 22-23.

Fonte: Português. Uma proposta para o letramento. Magda Soares – 8º ano – 1ª edição. Impressão revista – São Paulo, 2002. Moderna. p. 147-148.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual a observação inicial da reportagem sobre a desigualdade racial no Brasil?

      A reportagem aponta para a desigualdade salarial, onde brancos ganham mais que brancas, que ganham mais que negros, que ganham mais que negras, reconhecendo que, apesar de tudo, a situação já foi pior.

02 – Qual a principal mudança observada por Martinho da Vila em relação à questão racial no Brasil?

      A possibilidade de falar abertamente sobre o movimento negro, algo que era difícil no passado.

03 – Como Martinho da Vila compara a situação dos negros no Brasil com a dos Estados Unidos?

      Ele reconhece que, apesar da mestiçagem brasileira, os negros nos Estados Unidos têm maior participação na administração e universidades, e vivem em melhores condições.

04 – Qual a opinião de Martinho da Vila sobre o sistema de cotas?

      Ele é favorável às cotas, pois acredita que a convivência é fundamental para a ascensão social dos negros.

05 – Por que algumas pessoas são contra o sistema de cotas, segundo Martinho da Vila?

      Porque acreditam que os negros devem conquistar seu espaço por mérito próprio, sem auxílio de cotas.

06 – Qual a observação de Martinho da Vila sobre o conhecimento da história pelos brasileiros, incluindo os negros?

      Ele acredita que a maioria dos brasileiros, incluindo os negros, desconhece sua própria genealogia e história.

07 – Qual a explicação de Martinho da Vila para o fato de negros que ascendem socialmente frequentemente se casarem com brancas?

      Ele aponta para a influência dos padrões de beleza impostos pela sociedade e para a maior convivência com pessoas brancas em determinados ambientes sociais.

08 – Martinho da Vila acredita que as oportunidades para jovens e crianças negras melhoraram?

      Sim, ele acredita que as oportunidades aumentaram significativamente, permitindo que negros alcancem posições de destaque na sociedade.

09 – Em quais camadas da sociedade Martinho da Vila acredita que ainda existe preconceito?

      Ele acredita que o preconceito ainda persiste em pessoas mais velhas, da antiga classe dominante.

10 – Qual a opinião da mãe de Martinho da Vila sobre a ideia de que "antigamente era melhor"?

      Ela discorda veementemente, afirmando que "nada antigamente era melhor do que hoje", e que hoje em dia, as coisas estão melhores.

 

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