Conto: Germinal – Fragmento
Émile Zola
Por pouco Etienne não fora esmagado.
Seus olhos habituavam-se, já podia ver no ar a corrida dos cabos, mais de
trinta metros de fita de aço que subiam velozes à torre, onde passavam em roldanas
para, em seguida, descer a pique ao poço e prenderem-se nos elevadores de
extração. […]

Só uma coisa ele compreendia
perfeitamente: que o poço engolia magotes de vinte e de trinta homens, e com
tal facilidade que nem parecia senti-los passar pela goela. Desde as quatro
horas os operários começavam a descer; vinham da barraca, descalços, lâmpada na
mão, e esperavam em grupos pequenos até formarem número suficiente. Sem ruído,
com um pulo macio de animal noturno, o elevador de ferro subia do escuro,
enganchava-se nas aldravas, com seus quatro andares, cada um contendo dois
vagonetes cheios de carvão. Nos diferentes patamares, os carregadores retiravam
osvagonetes, substituindo-os por outros vazios ou carregados antecipadamente
com madeira em toros. E era nesses carros vazios que se empilhavam os
operários, cinco a cinco, até quarenta de uma vez, quando ocupavam todos os
Compartimentos. Uma ordem partia do megafone, um tartamudear grosso e
indistinto, enquanto a corda, para dar o sinal embaixo, era puxada quatro
vezes, convenção que queria dizer “aí vai carne” e que avisava da descida desse
carregamento de carne humana. Em seguida, depois de um ligeiro solavanco, o
elevador afundava silencioso, caía como uma pedra, deixando atrás de si apenas
a fuga vibrante do cabo.
— É muito fundo? — perguntou Etienne a
um mineiro com ar sonolento que esperava perto dele.
— Quinhentos e cinquenta e quatro
metros — respondeu o homem. […]
Émile
Zola. Germinal. 2. ed. São Paulo: Círculo do Livro, 1976. p. 26-8.
Fonte: Livro –
Português: Linguagens, 2. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª Ed.
– Ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 229-230.
Entendendo o conto:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
--
Aldrava: pequena tranca metálica que fecha a porta.
-- Magote: ajuntamento de coisas ou pessoas; amontoado, porção.
-- Tartamudear: falar com dificuldade, gaguejar, balbuciar.
02 – Qual o perigo imediato
que Etienne quase enfrenta ao chegar ao local descrito no início do fragmento?
Etienne quase foi
esmagado pela corrida dos cabos de aço que subiam velozmente à torre,
utilizados para movimentar os elevadores de extração da mina.
03 – Como o narrador descreve
o processo de entrada dos mineiros no poço da mina e qual a quantidade de
homens que geralmente eram "engolidos" de uma vez?
O narrador
descreve o poço como algo que "engolia magotes" de vinte a trinta
homens com facilidade. Os operários chegavam descalços, com suas lâmpadas, e
esperavam em pequenos grupos até formar um número suficiente para descer no
elevador.
04 – Descreva o elevador
utilizado para transportar os mineiros e como ele operava no processo de
descida e subida, incluindo a convenção utilizada para sinalizar a descida de
pessoas.
O elevador de
ferro subia silenciosamente do escuro com quatro andares, cada um contendo dois
vagonetes de carvão. Nos patamares, os vagonetes eram trocados. Os operários se
empilhavam nos carros vazios, até quarenta de uma vez. Para sinalizar a descida
de pessoas, a corda era puxada quatro vezes, uma convenção que significava
"aí vai carne". Após um solavanco, o elevador afundava
silenciosamente.
05 – Que pergunta Etienne faz
a um dos mineiros e qual a resposta que ele recebe sobre a profundidade do
poço?
Etienne pergunta
a um mineiro com ar sonolento que esperava perto dele: "É muito
fundo?". O mineiro responde que o poço tem quinhentos e cinquenta e quatro
metros de profundidade.
06 – Que impressão geral o
fragmento transmite sobre o trabalho na mina e a relação dos mineiros com o
ambiente subterrâneo?
O fragmento
transmite uma impressão de um trabalho perigoso e rotineiro, onde os mineiros
são tratados quase como uma carga ("carregamento de carne humana"). A
descrição do poço como algo que "engole" os homens e a profundidade
mencionada reforçam a ideia de um ambiente hostil e imponente, onde a vida
humana parece ser apenas mais um elemento a ser transportado para as
profundezas da terra.
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