Autobiografia: Aquilo por que vivi – Bertrand Russell
Três paixões, simples, mas
irresistivelmente fortes, governaram-me a vida: o anseio de amor, a busca do
conhecimento e a dolorosa piedade pelo sofrimento da humanidade.

Tais paixões, como grandes vendavais,
impeliram-me para aqui e acolá, em curso, instável, por sobre o profundo oceano
de angústia, chegando às raias do desespero.
Busquei, primeiro, o amor, porque ele
produz êxtase – um êxtase tão grande que, não raro, eu sacrificava todo o resto
da minha vida por umas poucas horas dessa alegria. Ambicionava-o, ainda, porque
o amor nos liberta da solidão – essa solidão terrível através da qual nossa
trêmula percepção observa, além dos limites do mundo, esse abismo frio e
exânime. Busquei-o, finalmente, porque vi na união do amor, numa miniatura
mística, algo que prefigurava a visão que os santos e os poetas imaginavam. Eis
o que busquei e, embora isso possa parecer demasiado bom para a vida humana,
foi isso que – afinal – encontrei.
Com paixão igual, busquei o
conhecimento. Eu queria compreender o coração dos homens. Gostaria de saber por
que cintilam as estrelas. E procurei apreender a força pitagórica pela qual o
número permanece acima do fluxo dos acontecimentos. Um pouco disto, mas não
muito, eu o consegui.
Amor e conhecimento, até ao ponto em
que são possíveis, conduzem para o alto, rumo ao céu. Mas a piedade sempre me
trazia de volta à terra. Ecos de gritos de dor ecoavam em meu coração. Crianças
famintas, vítimas torturadas por opressores, velhos desvalidos a construir um
fardo para seus filhos, e todo o mundo de solidão, pobreza e sofrimentos,
convertem numa irrisão o que deveria ser a vida humana. Anseio por afastar o
mal, mas não posso, e também sofro.
Eis o que tem sido a minha vida.
Tenho-a considerado digna de ser vivida e, de bom grado, tornaria a vivê-la, se
me fosse dada tal oportunidade.
Bertrand Russel, Autobiografia. Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira, 1967.
Fonte: Linguagem Nova.
Faraco & Moura. 5ª série – 17ª ed. 3ª impressão – São Paulo – Editora Ática
– 2003. p. 523.
Entendendo a autobiografia:
01 – Quais são as três paixões
que governaram a vida de Bertrand Russell?
As três paixões
que governaram a vida de Bertrand Russell são o anseio de amor, a busca do
conhecimento e a dolorosa piedade pelo sofrimento da humanidade.
02 – Por que Russell buscou o
amor?
Russell buscou o
amor porque ele produz êxtase, liberta da solidão e prefigura uma visão mística
de união, algo que santos e poetas imaginam.
03 – Como Russell descreve sua
busca pelo conhecimento?
Russell descreve
sua busca pelo conhecimento como uma paixão igual à do amor. Ele queria
compreender o coração dos homens, saber por que cintilam as estrelas e
apreender a força pitagórica dos números.
04 – Qual é o impacto da
piedade na vida de Russell?
A piedade sempre
trazia Russell de volta à terra. Ele sentia ecos de gritos de dor, sofrimentos
e injustiças da humanidade, o que convertia numa irrisão o que deveria ser a
vida humana.
05 – Quais são os exemplos de
sofrimento humano que ecoavam no coração de Russell?
Exemplos de
sofrimento humano que ecoavam no coração de Russell incluem crianças famintas,
vítimas torturadas por opressores, velhos desvalidos e todo o mundo de solidão,
pobreza e sofrimentos.
06 – Como Russell vê a relação
entre amor, conhecimento e piedade?
Russell vê amor e conhecimento como algo
que conduz para o alto, rumo ao céu, enquanto a piedade o trazia de volta à
terra, confrontando-o com o sofrimento humano.
07 – Qual é a conclusão de
Russell sobre a sua vida e a oportunidade de vivê-la novamente?
Russell considera
sua vida digna de ser vivida e afirma que, se lhe fosse dada a oportunidade,
ele a viveria novamente de bom grado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário