Conto: A chave do tamanho – Cap. II – Fragmento
Monteiro Lobato
[...]
Ficou algum tempo deitada de costas, os
braços estendidos, sem pensar em coisa nenhuma. Primeiro descansar; depois o
resto. Ergueu os olhos para as chaves da parede. Não viu na parede chave
nenhuma. "Que história é esta? Será que as chaves se evaporaram?" Firmando
a vista, verificou que não. As chaves lá estavam, mas em ponto muitíssimo mais
alto. A parede crescera tremendamente. Parecia não ter fim. Tudo aumentara dum
modo prodigioso. E no chão viu uma coisa nova, que não existia antes; um
pedestal atapetado de papel amarelo.

Emília achava-se deitada justamente
sobre esse pedestal. Depois, olhando para o seu corpinho, verificou que estava
nua.
— Que história é esta? Eu, nua que nem
minhoca, em cima deste pedestal amarelo cheio de riscos pretos, ao lado duma
montanha de pano — e as chaves lá em cima — e tudo enormíssimo... Será que
estou sonhando?
Pôs-se a pensar com toda a força.
Examinou o tapete do pedestal. Percebeu que os riscos eram letras e teve de
ficar de pé para lê-las uma por uma. A primeira era um F; a segunda, um O; a
terceira um S. Chegando à última, viu que formava a palavra FÓSFOROS. Em
seguida vinha um D e um E, formando a palavra DE. E as últimas letras formavam
a palavra SEGURANÇA. Tudo reunido dava a expressão FÓSFOROS DE SEGURANÇA.
— Será possível? — exclamou Emília
consigo mesma. — Será que estou em cima da maior caixa de fósforos que jamais
houve no mundo? Mas se é assim, então cada pau de fósforo deve ser uma
verdadeira vigota de pinho — e como a caixa estivesse aberta, espiou. Não viu
lá dentro vigota nenhuma, sim uma espécie de areia grossa, da cor exata do
superpó do Visconde.
Nesse momento um raio de luz
iluminou-lhe o cérebro.
— Hum! Já sei. Isto é a caixa de
fósforos que eu trouxe e está do tamanho que sempre foi. Eu é que diminuí.
Fiquei pequeníssima; e, como estou pequeníssima, todas as coisas me parecem
tremendamente grandes. Aconteceu-me o que às vezes acontecia a Alice no País
das Maravilhas. Ora ficava enorme a ponto de não caber em casas, ora ficava do
tamanho dum mosquito. Eu fiquei pequenininha. Por quê?
[...]
Monteiro Lobato. A
chave do tamanho. São Paulo: Círculo do Livro, 1989.
Fonte: Português –
Novas Palavras – Ensino Médio – Emília Amaral; Mauro Ferreira; Ricardo Leite;
Severino Antônio – Vol. Único – FTD – São Paulo – 2ª edição. 2003. p. 541.
Entendendo o conto:
01
– Qual a primeira estranheza que Emília percebe ao acordar?
Ao acordar, Emília percebe
que as chaves que estavam na parede estão muito mais altas do que antes, como
se a parede tivesse crescido.
02
– Que descoberta Emília faz sobre o local onde está deitada?
Emília descobre
que está deitada sobre um pedestal atapetado de papel amarelo, que na verdade é
uma caixa de fósforos gigante.
03
– Qual a palavra que Emília forma ao ler as letras no pedestal?
Emília forma a
expressão "Fósforos de Segurança".
04
– Qual a conclusão que Emília chega sobre o tamanho das coisas ao seu redor?
Emília conclui
que não foram as coisas que aumentaram de tamanho, mas sim ela que diminuiu,
ficando pequeníssima.
05
– A que personagem de outra obra famosa Emília se compara?
Emília se compara
a Alice, do livro "Alice no País das Maravilhas", que também
vivenciava mudanças de tamanho.
06
– Como Emília se sente ao perceber que está nua?
Emília se sente
confusa e intrigada, questionando a situação inusitada em que se encontra.
07
– O que a leva a desvendar o mistério da caixa de fósforos gigante?
A curiosidade e a
observação atenta das letras no pedestal levam Emília a desvendar o mistério da
caixa de fósforos gigante.
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