Crônica: Uma Campanha Alegre – Fragmento
Eça de Queirós
[...]
II – Os quatro partidos políticos
Há em Portugal quatro partidos: o
partido histórico, o regenerador, o reformista, e o constituinte. Há ainda
outros, mas anónimos, conhecidos apenas de algumas famílias. Os quatro par.
tidos oficiais, com jornal e porta para a rua, vivem num perpétuo antagonismo,
irreconciliáveis, latindo ardentemente uns contra os outros de dentro dos seus
artigos de fundo. Tem-se tentado uma pacificação, uma união. Impossível! eles
só possuem de comum a lama do Chiado que todos pisam e a Arcada que a todos
cobre. Quais são as irritadas divergências de princípios que os separam? –
Vejamos:

O partido regenerador é constitucional,
monárquico, intimamente monárquico, e lembra nos seus jornais a necessidade da
economia.
O partido histórico é constitucional,
imensamente monárquico, e prova irrefutavelmente a urgência da economia.
O partido constituinte é
constitucional, monárquico, e dá subida atenção à economia.
O partido reformista é monárquico, é
constitucional, e doidinho pela economia!
Todos
quatro são católicos.
Todos quatro são centralizadores.
Todos quatro têm o mesmo afeto à ordem.
Todos quatro querem o progresso, e
citam a Bélgica.
Todos quatro estimam a liberdade.
Quais são então as desinteligências? –
Profundas! Assim, por exemplo, a ideia de liberdade entendem-na de diversos
modos.
O partido histórico diz gravemente que
é necessário respeitar as Liberdades Públicas. O partido regenerador nega, nega
numa divergência resoluta, provando com abundância de argumentos que o que se
deve respeitar são – as Públicas Liberdades.
A conflagração é manifesta!
[...].
Eça de Queiroz. Obras
de Eça de Queiroz. Porto, Lello, 1966. v. 3. p. 974-975.
Fonte: Lições de texto.
Leitura e redação. José Luiz Fiorin / Francisco Platão Savioli. Editora Ática –
4ª edição – 3ª impressão – 2001 – São Paulo. p. 384.
Entendendo a crônica:
01
– Quantos partidos políticos são mencionados na crônica e como são descritos?
A crônica menciona
quatro partidos políticos: o histórico, o regenerador, o reformista e o
constituinte. São descritos como estando em "perpétuo antagonismo",
com divergências que, segundo o autor, são mais aparentes do que reais.
02
– Qual a principal crítica de Eça de Queirós em relação aos partidos políticos
portugueses?
A principal
crítica é a de que, apesar das aparentes divergências, os partidos compartilham
os mesmos princípios básicos e a mesma busca pelo poder. Ele satiriza a falta
de substância nas discussões políticas da época.
03
– Quais os pontos em comum entre os quatro partidos, segundo a crônica?
Todos os quatro
partidos são descritos como: Constitucionais; Monárquicos; Preocupados com a
economia; Católicos; Centralizadores; Defensores da ordem e do progresso; Apreciadores
da liberdade.
04
– Como Eça de Queirós ironiza as divergências entre os partidos?
Eça de Queirós
ironiza as divergências ao mostrar que as discussões políticas são muitas vezes
sobre detalhes sem importância, como a ordem das palavras em uma frase
("Liberdades Públicas" vs. "Públicas Liberdades").
05
– Qual a importância do Chiado e da Arcada no contexto da crônica?
O Chiado e a
Arcada são mencionados como espaços públicos frequentados por todos os
partidos, simbolizando a superficialidade das divisões políticas e a
proximidade física entre os oponentes.
06
– Qual o tom geral da crônica em relação à política portuguesa?
O tom geral é de
sátira e ironia, com Eça de Queirós usando o humor para criticar a falta de
substância e a hipocrisia na política portuguesa.
07
– Qual a atualidade da crítica presente na crônica de Eça de Queirós?
A crítica de Eça
de Queirós à superficialidade das discussões políticas e à falta de substância
nos debates ainda é relevante, pois muitas vezes a política contemporânea
também é marcada por disputas vazias e pela busca pelo poder em si.
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