domingo, 23 de março de 2025

CRÔNICA: UMA CAMPANHA ALEGRE - FRAGMENTO - EÇA DE QUEIRÓS - COM GABARITO

 Crônica: Uma Campanha Alegre – Fragmento

              Eça de Queirós

        [...]

        II – Os quatro partidos políticos

        Há em Portugal quatro partidos: o partido histórico, o regenerador, o reformista, e o constituinte. Há ainda outros, mas anónimos, conhecidos apenas de algumas famílias. Os quatro par. tidos oficiais, com jornal e porta para a rua, vivem num perpétuo antagonismo, irreconciliáveis, latindo ardentemente uns contra os outros de dentro dos seus artigos de fundo. Tem-se tentado uma pacificação, uma união. Impossível! eles só possuem de comum a lama do Chiado que todos pisam e a Arcada que a todos cobre. Quais são as irritadas divergências de princípios que os separam? – Vejamos:

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrWP9ilHiPIldOTHMC6hV2G0ypnUbIvZtHTBzxfivVQIzuYw-aniLzaGQvQ0smSo33aLFcYSVTn-bWEtb3fUHM6Ajsr3PDItNRyuyJp8t4yLB_z2CpnO7WuVKFAWGubEkq-le5LZV0QTQw4FRU0rpI_tFIOeZ_yslGJDsS9N5PIwUZlKE9tL7Y6eJac_Y/s320/parlamento-portugal-10-mar-2024-02.png


        O partido regenerador é constitucional, monárquico, intimamente monárquico, e lembra nos seus jornais a necessidade da economia.

        O partido histórico é constitucional, imensamente monárquico, e prova irrefutavelmente a urgência da economia.

        O partido constituinte é constitucional, monárquico, e dá subida atenção à economia.

        O partido reformista é monárquico, é constitucional, e doidinho pela economia!

        Todos quatro são católicos.

        Todos quatro são centralizadores.

        Todos quatro têm o mesmo afeto à ordem.

        Todos quatro querem o progresso, e citam a Bélgica.

        Todos quatro estimam a liberdade.

        Quais são então as desinteligências? – Profundas! Assim, por exemplo, a ideia de liberdade entendem-na de diversos modos.

        O partido histórico diz gravemente que é necessário respeitar as Liberdades Públicas. O partido regenerador nega, nega numa divergência resoluta, provando com abundância de argumentos que o que se deve respeitar são – as Públicas Liberdades.

        A conflagração é manifesta!

        [...].

Eça de Queiroz. Obras de Eça de Queiroz. Porto, Lello, 1966. v. 3. p. 974-975.

Fonte: Lições de texto. Leitura e redação. José Luiz Fiorin / Francisco Platão Savioli. Editora Ática – 4ª edição – 3ª impressão – 2001 – São Paulo. p. 384.

Entendendo a crônica:

01 – Quantos partidos políticos são mencionados na crônica e como são descritos?

      A crônica menciona quatro partidos políticos: o histórico, o regenerador, o reformista e o constituinte. São descritos como estando em "perpétuo antagonismo", com divergências que, segundo o autor, são mais aparentes do que reais.

02 – Qual a principal crítica de Eça de Queirós em relação aos partidos políticos portugueses?

      A principal crítica é a de que, apesar das aparentes divergências, os partidos compartilham os mesmos princípios básicos e a mesma busca pelo poder. Ele satiriza a falta de substância nas discussões políticas da época.

03 – Quais os pontos em comum entre os quatro partidos, segundo a crônica?

      Todos os quatro partidos são descritos como: Constitucionais; Monárquicos; Preocupados com a economia; Católicos; Centralizadores; Defensores da ordem e do progresso; Apreciadores da liberdade.

04 – Como Eça de Queirós ironiza as divergências entre os partidos?

      Eça de Queirós ironiza as divergências ao mostrar que as discussões políticas são muitas vezes sobre detalhes sem importância, como a ordem das palavras em uma frase ("Liberdades Públicas" vs. "Públicas Liberdades").

05 – Qual a importância do Chiado e da Arcada no contexto da crônica?

      O Chiado e a Arcada são mencionados como espaços públicos frequentados por todos os partidos, simbolizando a superficialidade das divisões políticas e a proximidade física entre os oponentes.

06 – Qual o tom geral da crônica em relação à política portuguesa?

      O tom geral é de sátira e ironia, com Eça de Queirós usando o humor para criticar a falta de substância e a hipocrisia na política portuguesa.

07 – Qual a atualidade da crítica presente na crônica de Eça de Queirós?

      A crítica de Eça de Queirós à superficialidade das discussões políticas e à falta de substância nos debates ainda é relevante, pois muitas vezes a política contemporânea também é marcada por disputas vazias e pela busca pelo poder em si.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário