sexta-feira, 28 de março de 2025

CONTO: A VIDA EM OBLIVION - (FRAGMENTO) - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: A VIDA EM OBLIVION – Fragmento

            Monteiro Lobato

        A cidadezinha onde moro lembra soldado que fraqueasse na marcha e, não podendo acompanhar o batalhão, à beira do caminho se deixasse ficar, exausto e só. Com os olhos saudosos pousados na nuvem de poeira erguida além.

        Desviou-se dela a civilização. O telégrafo não a põe à fala com o resto do mundo, nem as estradas de ferro se lembram de uni-la à rede por intermédio de humilde ramalzinho.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzfrjYV1K_Q-LefnkC963BvHZAQdeWZua8hulzWg9K-zDyb1mLOgN89bZi5SSkVdTCf13j-sZeaEOttr1Af2jU4H0KsIM_GYJVNXfTjI2Pe5I-LnrkdBEB3PUdJq6h80NTY2BToPfXBbZs3nB_oVzkedjnNkQD5u-LGEqKXTUTVZFQjFLCu_b90NCKcL4/s1600/OBLIVION.jpg


        O mundo esqueceu Oblivion, que já foi rica e lépida, como os homens esquecem a atriz famosa logo que se lhe desbota a mocidade. E sua vida de vovó entrevada, sem netos, sem esperanças, é humilde e quieta como a do urupê escondido no sombrio dos grotões.

        Trazem-lhe os jornais o rumor do mundo, e Oblivion comenta-o com discreto parecer. Mas como os jornais vêm apenas para meia dúzia de pessoas, formam estas a aristocracia mental da cidade. São “Os Que Sabem”. Lembra o primado dos Dez de Veneza, esta sabedoria dos Seis de Oblivion.

        Atraídos pelas terras novas, de feracidade sedutora, abandonaram-na seus filhos; só permaneceram os de vontade anemiada, débeis, faquirianos. “Mesmeiros”, que todos os dias dizem as mesmas coisas, dormem o mesmo sono, sonham os mesmos sonhos, comem as mesmas comidas, comentam os mesmos assuntos, esperam o mesmo correio, gabam a passada prosperidade, lamuriam do presente e pitam – pitam longos cigarrões de palha, matadores do tempo.

        [...].

LOBATO, Monteiro. Cidades mortas. 12. ed. São Paulo, Brasiliense, 1965. p. 9-10.

Fonte: Português. Série novo ensino médio. Volume único. Faraco & Moura – 1ª edição – 4ª impressão. Editora Ática – 2000. São Paulo. p. 293.

Entendendo o conto:

01 – Como o narrador descreve a cidade de Oblivion?

      O narrador compara Oblivion a um soldado exausto, deixado para trás pela civilização, isolado e esquecido pelo mundo.

02 – Quais as características da vida em Oblivion?

      A vida em Oblivion é descrita como quieta, humilde e estagnada, comparada à de um "urupê escondido no sombrio dos grotões". Os habitantes vivem em uma rotina monótona, repetindo os mesmos hábitos e conversas.

03 – Quem são "Os Que Sabem" em Oblivion?

      "Os Que Sabem" são um pequeno grupo de pessoas que têm acesso aos jornais e, portanto, ao "rumor do mundo". Eles formam a aristocracia intelectual da cidade.

04 – Por que os jovens deixaram Oblivion?

      Os jovens foram atraídos pelas "terras novas, de feracidade sedutora", buscando prosperidade e oportunidades em outros lugares.

05 – Quem permaneceu em Oblivion?

      Permaneceram em Oblivion aqueles com "vontade anemiada, débeis, faquirianos", ou seja, pessoas sem ambição ou energia para buscar uma vida melhor.

06 – Qual a principal atividade dos habitantes de Oblivion?

      Os habitantes de Oblivion passam o tempo fumando longos cigarrões de palha, "matadores do tempo", enquanto lamentam o passado e esperam o correio.

07 – Qual o tema central do conto?

      O conto aborda o tema do isolamento, da estagnação e da decadência de uma cidade que foi esquecida pelo progresso e pela civilização, retratando a vida de seus habitantes presos a um ciclo de mesmice e nostalgia.

 

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