Conto: A VIDA EM OBLIVION – Fragmento
Monteiro Lobato
A cidadezinha onde moro lembra soldado
que fraqueasse na marcha e, não podendo acompanhar o batalhão, à beira do
caminho se deixasse ficar, exausto e só. Com os olhos saudosos pousados na
nuvem de poeira erguida além.
Desviou-se dela a civilização. O
telégrafo não a põe à fala com o resto do mundo, nem as estradas de ferro se
lembram de uni-la à rede por intermédio de humilde ramalzinho.

O
mundo esqueceu Oblivion, que já foi rica e lépida, como os homens esquecem a
atriz famosa logo que se lhe desbota a mocidade. E sua vida de vovó entrevada,
sem netos, sem esperanças, é humilde e quieta como a do urupê escondido no
sombrio dos grotões.
Trazem-lhe os jornais o rumor do mundo,
e Oblivion comenta-o com discreto parecer. Mas como os jornais vêm apenas para
meia dúzia de pessoas, formam estas a aristocracia mental da cidade. São “Os
Que Sabem”. Lembra o primado dos Dez de Veneza, esta sabedoria dos Seis de
Oblivion.
Atraídos pelas terras novas, de
feracidade sedutora, abandonaram-na seus filhos; só permaneceram os de vontade
anemiada, débeis, faquirianos. “Mesmeiros”, que todos os dias dizem as mesmas
coisas, dormem o mesmo sono, sonham os mesmos sonhos, comem as mesmas comidas,
comentam os mesmos assuntos, esperam o mesmo correio, gabam a passada
prosperidade, lamuriam do presente e pitam – pitam longos cigarrões de palha,
matadores do tempo.
[...].
LOBATO, Monteiro.
Cidades mortas. 12. ed. São Paulo, Brasiliense, 1965. p. 9-10.
Fonte: Português. Série
novo ensino médio. Volume único. Faraco & Moura – 1ª edição – 4ª impressão.
Editora Ática – 2000. São Paulo. p. 293.
Entendendo o conto:
01 – Como o narrador descreve
a cidade de Oblivion?
O narrador compara Oblivion a um soldado
exausto, deixado para trás pela civilização, isolado e esquecido pelo mundo.
02 – Quais as características
da vida em Oblivion?
A vida em Oblivion é descrita como
quieta, humilde e estagnada, comparada à de um "urupê escondido no sombrio
dos grotões". Os habitantes vivem em uma rotina monótona, repetindo os
mesmos hábitos e conversas.
03 – Quem são "Os Que
Sabem" em Oblivion?
"Os Que Sabem" são um pequeno
grupo de pessoas que têm acesso aos jornais e, portanto, ao "rumor do
mundo". Eles formam a aristocracia intelectual da cidade.
04 – Por que os jovens
deixaram Oblivion?
Os jovens foram atraídos pelas
"terras novas, de feracidade sedutora", buscando prosperidade e
oportunidades em outros lugares.
05 – Quem permaneceu em
Oblivion?
Permaneceram em
Oblivion aqueles com "vontade anemiada, débeis, faquirianos", ou seja,
pessoas sem ambição ou energia para buscar uma vida melhor.
06 – Qual a principal
atividade dos habitantes de Oblivion?
Os habitantes de
Oblivion passam o tempo fumando longos cigarrões de palha, "matadores do
tempo", enquanto lamentam o passado e esperam o correio.
07 – Qual o tema central do
conto?
O conto aborda o
tema do isolamento, da estagnação e da decadência de uma cidade que foi
esquecida pelo progresso e pela civilização, retratando a vida de seus
habitantes presos a um ciclo de mesmice e nostalgia.
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