terça-feira, 18 de março de 2025

ROMANCE: O GUARANI - I CENÁRIO - FRAGMENTO - JOSÉ DE ALENCAR - COM GABARITO

 Romance: O guarani – I Cenário – Fragmento

                 José de Alencar

        I CENÁRIO

        De um dos cabeços da Serra dos Órgãos desliza um fio de água que se dirige para o norte, e engrossado com os mananciais que recebe no seu curso de dez léguas, torna-se rio caudal.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgD2iYau9ixieLewb4HsGpM7zWdtxVjN3zqzGLCEIoUAxr75MEySuGUGQBbV1gN3Up2G1RPllOobxJyvyeenZisWeGDXywMsljhB7kz_6p1SkS4hZRkwedOALUSZwNTpZQlh4zFVESftToXO27x8ElrgDYZlrGPe6PHNzfGdBrKVMr9OSpwTvstwi8P9jE/s320/Amanhecer_no_Hercules_--.jpg


        É o Paquequer: saltando de cascata em cascata, enroscando-se como uma serpente, vai depois se espreguiçar na várzea e embeber no Paraíba, que rola majestosamente em seu vasto leito.

        Dir-se-ia que, vassalo e tributário desse rei das águas, o pequeno rio, altivo e sobranceiro contra os rochedos, curva-se humildemente aos pés do suserano. Perde então a beleza selvática; suas ondas são calmas e serenas como as de um lago, e não se revoltam contra os barcos e as canoas que resvalam sobre elas: escravo submisso, sofre o látego do senhor.

        Não é neste lugar que ele deve ser visto; sim três ou quatro léguas acima de sua foz, onde é livre ainda, como o filho indômito desta pátria da liberdade.

        Aí, o Paquequer lança-se rápido sobre o seu leito, e atravessa as florestas como o tapir, espumando, deixando o pelo esparso pelas pontas do rochedo, e enchendo a solidão com o estampido de sua carreira. De repente, falta-lhe o espaço, foge-lhe a terra; o soberbo rio recua um momento para concentrar as suas forças, e precipita-se de um só arremesso, como o tigre sobre a presa.

        Depois, fatigado do esforço supremo, se estende sobre a terra, e adormece numa linda bacia que a natureza formou, e onde o recebe como em um leito de noiva, sob as cortinas de trepadeiras e flores agrestes.

        A vegetação nessas paragens ostentava outrora todo o seu luxo e vigor; florestas virgens se estendiam ao longo das margens do rio, que corria no meio das arcarias de verdura e dos capitéis formados pelos leques das palmeiras.

        Tudo era grande e pomposo no cenário que a natureza, sublime artista, tinha decorado para os dramas majestosos dos elementos, em que o homem e apenas um simples comparsa.

        No ano da graça de 1604, o lagar que acabamos de descrever estava deserto e inculto; a cidade do Rio de Janeiro tinha-se fundado havia menos de meio século, e a civilização não tivera tempo de penetrar o interior.

        Entretanto, via-se à margem direita do rio uma casa larga e espaçosa, construída sobre uma eminência, e protegida de todos os lados por uma muralha de rocha cortada a pique.

        A esplanada, sobre que estava assentado o edifício, formava um semicírculo irregular que teria quando muito cinquenta braças quadradas; do lado do norte havia uma espécie de escada de lajedo feita metade pela natureza e metade pela arte.

        Descendo dois ou três dos largos degraus de pedra da escada, encontrava-se uma ponte de madeira solidamente construída sobre uma fenda larga e profunda que se abria na rocha. Continuando a descer, chegava-se à beira do rio, que se curvava em seio gracioso, sombreado pelas grandes gameleiras e angelins que cresciam ao longo das margens.

        Aí, ainda a indústria do homem tinha aproveitado habilmente a natureza para criar meios de segurança e defesa.

        De um e outro lado da escada seguiam dois renques de árvores, que, alargando gradualmente, iam fechar como dois braços o seio do rio; entre o tronco dessas árvores, uma alta cerca de espinheiros tornava aquele pequeno vale impenetrável.

José de Alencar. O guarani. 17. ed. São Paulo: Ática, 1992. p. 15-16.

Fonte: Lições de texto. Leitura e redação. José Luiz Fiorin / Francisco Platão Savioli. Editora Ática – 4ª edição – 3ª impressão – 2001 – São Paulo. p. 199-200.

Entendendo o romance:

01 – Qual é o rio principal descrito no início do romance?

      O rio principal é o Paquequer, que nasce na Serra dos Órgãos e deságua no rio Paraíba.

02 – Como o rio Paquequer é descrito em sua parte alta e em sua foz?

      Na parte alta, o rio é descrito como selvagem, rápido e impetuoso, saltando entre rochas e florestas. Próximo à foz, ele se torna calmo e sereno, como um lago, submisso ao rio Paraíba.

03 – Qual é a comparação utilizada para descrever o rio Paquequer em sua fúria?

      O rio é comparado a um "tapir" e a um "tigre", destacando sua força e velocidade ao atravessar as florestas e se precipitar em cascatas.

04 – Como é a vegetação nas margens do rio Paquequer?

      A vegetação é descrita como exuberante e selvagem, com florestas virgens, arcarias de verdura e palmeiras, criando um cenário grandioso e natural.

05 – Em que ano se passa a história descrita no fragmento?

      A história se passa no ano de 1604.

06 – Como era a ocupação da região na época em que se passa a história?

      A região era deserta e inculta, com a cidade do Rio de Janeiro recém-fundada e a civilização ainda não tendo penetrado no interior.

07 – O que se encontra na margem direita do rio?

      Na margem direita, encontra-se uma casa grande e espaçosa, construída sobre uma elevação rochosa e protegida por uma muralha natural.

08 – Como é o acesso à casa descrita no fragmento?

      O acesso é feito por uma escada de lajedo e uma ponte de madeira sobre uma fenda na rocha, com um vale protegido por cercas de espinhos.

09 – Qual a importância do cenário natural na obra de José de Alencar?

      O cenário natural em "O Guarani" não é apenas um pano de fundo, mas um elemento que interage com os personagens e a trama, refletindo a grandiosidade e a selvageria do Brasil colonial. Além disso o autor utiliza do cenário para mostrar a diferença entre a natureza e o homem, onde a natureza é sublime e o homem um simples coadjuvante.

10 – Quais elementos de segurança e defesa foram construídos ao redor da casa?

      Foram construídos uma escada de lajedo, uma ponte de madeira sobre uma fenda na rocha e uma cerca de espinhos que protege o vale que dá acesso à casa.

 

 

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