sexta-feira, 28 de março de 2025

ROMANCE: SENHORA - 2ª PARTE - QUITAÇÃO VI - FRAGMENTO - JOSÉ DE ALENCAR - COM GABARITO

 Romance: Senhora – 2ª Parte – QUITAÇÃO VI – Fragmento

                  José de Alencar

        Aurélia passava agora as noites solitárias.

        Raras vezes aparecia Fernando, que arranjava uma desculpa qualquer para justificar sua ausência. A menina que não pensava em interrogá-lo, também não contestava esses fúteis inventos. Ao contrário buscava afastar da conversa o tema desagradável.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXxrGnu1_04k7oMuKXXdPl5J46izhkUujVeVYByo2ZBgZjh1RvOUECYLJ39hZ-37ADuHrKzdl14E52sf0BMKsbik3ASk0RIaXxPaygz7tRyH_LzbCsNtb1xaGSAsYOqp-8nFbQ1xYuGBROY76OysCl3r9WvqnOugKs7OaEi9e-393CLLrUS9kEtn6eDYA/s320/20180611-senhora.jpg


        Conhecia a moça que Seixas retirava-lhe seu amor; mas a altivez do coração não lhe consentia queixar-se. Além de que, ela tinha sobre o amor ideias singulares, talvez inspiradas pela posição especial em que se achara ao fazer-se moça.

        Pensava ela que não tinha nenhum direito a ser amada por Seixas; pois toda a afeição que lhe tivesse, muita ou pouca, era graça que ela recebia. Quando se lembrava que esse amor a poupara à degradação de um casamento de conveniência, nome com que se decora o mercado matrimonial, tinha impulsos de adorar a Seixas, como seu Deus e redentor.

        Parecerá estranha essa paixão veemente, rica de heróica dedicação, que entretanto assiste calma, quase impassível, ao declínio do afeto com que lhe retribuía o homem amado, e se deixa abandonar, sem proferir um queixume, nem fazer um esforço para reter a ventura que foge.

        Esse fenômeno devia ter uma razão psicológica, de cuja investigação nos abstemos; porque o coração, e ainda mais o da mulher que é toda ela, representa o caos do mundo moral. Ninguém sabe que maravilhas ou que monstros vão surgir desses limbos.

        Suspeito eu porém que a explicação dessa singularidade já ficou assinalada. Aurélia amava mais seu amor do que seu amante; era mais poeta do que mulher; preferia o ideal ao homem.

        [...].

ALENCAR, José de. Senhora. 24. ed. São Paulo, Ática, 1994. p. 97. (Série Bom Livro).

Fonte: Português. Série novo ensino médio. Volume único. Faraco & Moura – 1ª edição – 4ª impressão. Editora Ática – 2000. São Paulo. p. 209.

Entendendo o romance:

01 – Como Aurélia se sente em relação à ausência de Fernando?

      Aurélia percebe que Fernando se distancia, mas não o questiona. Ela tenta evitar o assunto, demonstrando uma mistura de resignação e orgulho ferido.

02 – Qual a visão de Aurélia sobre o amor?

      Aurélia tem uma visão singular do amor, influenciada por sua situação incomum. Ela vê o afeto de Fernando como uma graça, algo que ela não tem o direito de exigir.

03 – Por que Aurélia sente gratidão por Fernando?

      Aurélia é grata a Fernando porque o amor dele a salvou de um casamento de conveniência, que ela considera uma forma de degradação.

04 – Como o narrador descreve a reação de Aurélia ao declínio do amor de Fernando?

      O narrador descreve a reação de Aurélia como calma e impassível, sem queixas ou tentativas de reter a felicidade que se esvai.

05 – Qual a explicação do narrador para o comportamento de Aurélia?

      O narrador sugere que Aurélia ama mais o ideal do amor do que o próprio Fernando. Ela é mais poeta do que mulher, preferindo a idealização à realidade.

06 – O que o narrador quis dizer com a frase “Aurélia amava mais seu amor do que seu amante; era mais poeta do que mulher; preferia o ideal ao homem.”?

      Essa frase resume a complexidade da personagem Aurélia. Ela valoriza mais a ideia romântica do amor do que o relacionamento real com Fernando Seixas. Para ela, o amor é uma idealização, uma poesia, e a realidade do relacionamento com Fernando não atende às suas expectativas.

07 – O que o autor quis dizer com a frase “...o coração, e ainda mais o da mulher que é toda ela, representa o caos do mundo moral. Ninguém sabe que maravilhas ou que monstros vão surgir desses limbos.”?

      Essa frase reflete a visão do autor sobre a complexidade e a imprevisibilidade do coração humano, especialmente o da mulher. O autor sugere que o coração feminino é um mistério profundo, capaz de gerar tanto sentimentos nobres quanto obscuros.

 

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