Poema: Lembrança de Morrer – Fragmento
Álvares
de Azevedo
Quando em meu peito rebentar-se a fibra
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro
— Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
Como o desterro de minh'alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade — é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.
[...]
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
— Foi poeta — sonhou — e amou na vida. —
[...]
AZEVEDO, Álvares de.
Lembrança de morrer. In: Antologia dos poetas brasileiros; poesia da fase
romântica. Org. Manuel Bandeira; ver. Crítica Aurélio Buarque de Holanda. Rio
de Janeiro. Nova Fronteira, 1996. p. 175-177.
Fonte: Português. Série
novo ensino médio. Volume único. Faraco & Moura – 1ª edição – 4ª impressão.
Editora Ática – 2000. São Paulo. p. 176.
Entendendo o poema:
01 – Qual o pedido do poeta em
relação às suas lágrimas e flores após a morte?
O poeta pede para
que não derramem lágrimas por ele e nem desfolhem flores em seu túmulo.
02 – Como o poeta descreve sua
partida da vida?
O poeta compara
sua partida da vida ao tédio de um viajante no deserto, ao fim de um longo
pesadelo e ao fim de um exílio de sua alma atormentada.
03 – Qual a única saudade que
o poeta leva da vida?
A única saudade
que o poeta leva da vida são os tempos embelezados pela ilusão amorosa.
04 – Onde o poeta deseja que
seu leito solitário descanse após a morte?
O poeta deseja
que seu leito solitário descanse na floresta dos homens esquecida, à sombra de
uma cruz.
05 – Qual a inscrição que o
poeta pede para colocarem em sua cruz?
O poeta pede para
que escrevam em sua cruz: "Foi poeta — sonhou — e amou na vida."
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