domingo, 23 de março de 2025

POEMA: FÁBULA DE UM ARQUITETO - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

 Poema: Fábula de um Arquiteto

             João Cabral de Melo Neto

A arquitetura como construir portas,
de abrir; ou como construir o aberto;
construir, não como ilhar e prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas;
casas exclusivamente portas e teto.
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqt6LhYMEA6jUrnC4u2V2kVnctg3i1a5GpQ4-j6vy4OI4tfEwEh2I_0KaP7xpdeoyVpQy4DQOrijx1d5f-vEf3kIz-PyfqR5KRAZTA3xfqRVayPBmmut_6_89g5bIvscbCr_a4vmUbO_Siav6lwfxb5GK1t1vrfDr_mxiKIcQ0FSDUab0zZsq3CJbqInI/s320/O-que-faz-um-arquiteto.jpg



Até que, tantos livres o amedrontando,
renegou dar a viver no claro e aberto.
Onde vãos de abrir, ele foi amurando
opacos de fechar; onde vidro, concreto;
até refechar o homem: na capela útero,
com confortos de matriz, outra vez feto.

João Cabral de Melo Neto. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 345-346.

Fonte: Lições de texto. Leitura e redação. José Luiz Fiorin / Francisco Platão Savioli. Editora Ática – 4ª edição – 3ª impressão – 2001 – São Paulo. p. 362.

Entendendo o poema:

01 – Qual a metáfora central do poema e o que ela representa?

      A metáfora central é a da arquitetura como construção de "portas", representando a criação de espaços de abertura, liberdade e comunicação entre os homens. O poema contrasta essa visão com a arquitetura de "muros", que simboliza o isolamento e a opressão.

02 – Como o poema descreve a mudança na visão do arquiteto?

      Inicialmente, o arquiteto é idealista, buscando criar espaços que promovam a liberdade e a razão. No entanto, ele se torna amedrontado pela própria liberdade que criou e passa a construir espaços fechados e opressivos, revertendo ao isolamento.

03 – Qual a crítica social presente no poema?

      O poema critica a tendência humana de buscar segurança e controle, mesmo que isso signifique sacrificar a liberdade e a comunicação. Ele aborda a relação entre poder e espaço, mostrando como a arquitetura pode ser usada para oprimir ou libertar.

04 – Qual a importância da linguagem concreta e precisa no poema?

      João Cabral de Melo Neto utiliza uma linguagem precisa e objetiva, com termos técnicos de arquitetura, para construir a metáfora e transmitir sua mensagem de forma clara e concisa. Essa escolha estilística reforça a ideia de que a poesia pode ser construída com a mesma precisão de uma obra arquitetônica.

05 – Qual a interpretação possível para o final do poema, com a imagem do homem como "feto" em uma "capela útero"?

      O final do poema sugere um retorno ao estado de dependência e segurança, onde o homem se refugia em um espaço fechado e controlado, abdicando da liberdade e da autonomia. Essa imagem pode representar a busca por conforto e proteção, mesmo que isso signifique abrir mão da individualidade.

 

 

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