Poema: Fábula de um Arquiteto
João Cabral de Melo Neto
A arquitetura como construir
portas,
de abrir; ou como construir o aberto;
construir, não como ilhar e prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas;
casas exclusivamente portas e teto.
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.

Até que, tantos livres o amedrontando,
renegou dar a viver no claro e aberto.
Onde vãos de abrir, ele foi amurando
opacos de fechar; onde vidro, concreto;
até refechar o homem: na capela útero,
com confortos de matriz, outra vez feto.
João Cabral de Melo Neto. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
1994. p. 345-346.
Fonte: Lições de texto.
Leitura e redação. José Luiz Fiorin / Francisco Platão Savioli. Editora Ática –
4ª edição – 3ª impressão – 2001 – São Paulo. p. 362.
Entendendo o poema:
01
– Qual a metáfora central do poema e o que ela representa?
A metáfora
central é a da arquitetura como construção de "portas", representando
a criação de espaços de abertura, liberdade e comunicação entre os homens. O
poema contrasta essa visão com a arquitetura de "muros", que
simboliza o isolamento e a opressão.
02
– Como o poema descreve a mudança na visão do arquiteto?
Inicialmente, o
arquiteto é idealista, buscando criar espaços que promovam a liberdade e a
razão. No entanto, ele se torna amedrontado pela própria liberdade que criou e
passa a construir espaços fechados e opressivos, revertendo ao isolamento.
03
– Qual a crítica social presente no poema?
O poema critica a tendência
humana de buscar segurança e controle, mesmo que isso signifique sacrificar a
liberdade e a comunicação. Ele aborda a relação entre poder e espaço, mostrando
como a arquitetura pode ser usada para oprimir ou libertar.
04
– Qual a importância da linguagem concreta e precisa no poema?
João Cabral de
Melo Neto utiliza uma linguagem precisa e objetiva, com termos técnicos de
arquitetura, para construir a metáfora e transmitir sua mensagem de forma clara
e concisa. Essa escolha estilística reforça a ideia de que a poesia pode ser
construída com a mesma precisão de uma obra arquitetônica.
05
– Qual a interpretação possível para o final do poema, com a imagem do homem
como "feto" em uma "capela útero"?
O final do poema sugere um
retorno ao estado de dependência e segurança, onde o homem se refugia em um
espaço fechado e controlado, abdicando da liberdade e da autonomia. Essa imagem
pode representar a busca por conforto e proteção, mesmo que isso signifique
abrir mão da individualidade.
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