domingo, 23 de março de 2025

TEXTO: RAÍZES DO BRASIL - FRAGMENTO - SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA - COM GABARITO

 Texto: Raízes do Brasil – Fragmento

            Sérgio Buarque de Holanda

        [...]

        Nas formas de vida coletiva podem assinalar-se dois princípios que se combatem e regulam diversamente as atividades dos homens. Esses dois princípios encarnam-se nos tipos do aventureiro e do trabalhador. Já nas sociedades rudimentares manifestam-se eles, segundo sua predominância, na distinção fundamental entre os povos caçadores ou coletores e os povos lavradores. Para uns, o objeto final, a mira de todo esforço, o ponto de chegada, assume relevância tão capital, que chega a dispensar, por secundários, quase supérfluos, todos os processos intermediários. Seu ideal será colher o fruto sem plantar a árvore.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxCwJvnxtCWNtP93wqIuAKRpe23GKXGQkt-GCR7kJIj_7tf5Cn2Yvr-GZhOENsP0yaMQL0y6fWbWg69-mQUBek2T83W28iRv1e982e67NKJ6Ro4uodR7OTdq2cmzs-C6Sw8ctSZkKmfe88D4gMs738pbpc4v_T7-LE28U4fhDmGj6C84Y4M2m1mK2tVUE/s320/rac3adzes-do-brasil-2.jpg


        Esse tipo humano ignora as fronteiras. No mundo tudo se apresenta a ele em generosa amplitude e, onde quer que se erija um obstáculo a seus propósitos ambiciosos, sabe transformar esse obstáculo em trampolim. Vive dos espaços ilimitados, dos projetos vastos, dos horizontes distantes.

        O trabalhador, ao contrário, é aquele que enxerga primeiro a dificuldade a vencer, não o triunfo a alcançar. O esforço lento, pouco compensador e persistente, que, no entanto, mede todas as possibilidades de esperdício e sabe tirar o máximo proveito do insignificante, tem sentido bem nítido para ele. Seu campo visual é naturalmente restrito. A parte maior do que o todo.

        Existe uma ética do trabalho, como existe uma ética da aventura. Assim, o indivíduo do tipo trabalhador só atribuirá valor moral positivo às ações que sente ânimo de praticar, e, inversamente, terá por imorais e detestáveis as qualidades próprias do aventureiro — audácia, imprevidência, irresponsabilidade, instabilidade, vagabundagem – tudo, enfim, quanto de relacione com a concepção espaçosa do mundo, característica desse tipo.

        Por outro lado, as energias e esforços que se dirigem a uma recompensa imediata são enaltecidos pelos aventureiros; as energias que visam à estabilidade, à paz, à segurança pessoal e os esforços sem perspectiva de rápido proveito material passam, ao contrário, por viciosos e desprezíveis para eles. Nada lhes parece mais estúpido e mesquinho do que o ideal do trabalhador.

        [...]

Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil. 8. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975. p. 13.

Fonte: Lições de texto. Leitura e redação. José Luiz Fiorin / Francisco Platão Savioli. Editora Ática – 4ª edição – 3ª impressão – 2001 – São Paulo. p. 256-257.

Entendendo o texto:

01 – Quais são os dois princípios que regulam as atividades humanas, segundo o autor?

      Os dois princípios são o do aventureiro e o do trabalhador, que representam diferentes formas de encarar a vida e o trabalho.

02 – Como o aventureiro encara o trabalho e os objetivos?

      O aventureiro foca no objetivo final, buscando resultados imediatos e desprezando os processos intermediários. Ele valoriza a amplitude, a liberdade e a superação de obstáculos.

03 – Qual a visão do trabalhador sobre o trabalho e os objetivos?

      O trabalhador valoriza o esforço lento e persistente, a atenção aos detalhes e o aproveitamento máximo dos recursos. Ele se preocupa mais com as dificuldades a serem superadas do que com o triunfo final.

04 – Como a ética do trabalho e a ética da aventura se contrapõem?

      O trabalhador valoriza a moralidade nas ações, enquanto o aventureiro exalta a busca por recompensas imediatas. O que é considerado positivo por um é visto como negativo pelo outro.

05 – Quais características são atribuídas ao aventureiro?

      O aventureiro é caracterizado por sua audácia, imprevidência, irresponsabilidade, instabilidade e busca por resultados rápidos.

06 – Quais características são atribuídas ao trabalhador?

      O trabalhador é caracterizado pela persistência, atenção aos detalhes, valorização do esforço e busca por estabilidade.

07 – Qual a crítica presente no fragmento em relação aos dois tipos de indivíduos?

      O fragmento apresenta uma análise crítica das duas mentalidades, mostrando como elas influenciam as formas de vida coletiva e as relações sociais. O autor não toma partido de nenhum dos dois modelos, apenas os contrapõe.

 

 

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