Notícia: DISPARIDADES RACIAIS
Fator decisivo para a superação do
sistema colonial, o fim do trabalho escravo foi seguido pela criação do
"mito da democracia racial" no Brasil. Nutriu-se desde então a falsa
ideia de que haveria no país um convívio cordial entre as diversas etnias.

Aos poucos, porém, pôde-se ver que a
coexistência pouco hostil entre brancos e negros, por exemplo, mascarava-se sob
a manutenção de uma descomunal desigualdade socioeconômica entre os dois grupos
e não advinha de uma suposta divisão igualitária de oportunidades.
O cruzamento de alguns dados do último
censo do IBGE relativos ao Rio de Janeiro permite dimensionar algumas dessas
inequívocas diferenças. Em 91, o analfabetismo no Estado era 2,5 vezes maior
entre negros do que entre brancos, e quase 60% da população negra com mais de
10 anos não havia conseguido ultrapassar a 4ª série do 1º grau, contra 39% dos
brancos. Os números relativos ao ensino superior confirmam a cruel seletividade
imposta pelo fator socioeconômico: até aquele ano, 12% dos brancos haviam
concluído o 3º grau, contra só 2,5% dos negros.
É inegável que a discrepância racial
vem diminuindo ao longo do século: o analfabetismo no Rio de Janeiro era muito
maior entre negros com mais de 70 anos do que entre os de menos de 40 anos.
Essa queda, porém, ainda não se traduziu numa proporcional equalização de
oportunidades.
Considerando que o Rio de Janeiro é uma
das unidades mais desenvolvidas do país e com acentuada tradição urbana, parece
inevitável extrapolar para outras regiões a inquietação resultante desses
dados.
Mesmo questionando algumas iniciativas
excessivamente rígidas – como a criação de "cotas raciais" no
oferecimento de vagas nas universidades e no mercado de trabalho, bastante
comum nos EUA –, é fundamental que se destaquem também as desigualdades
étnicas, para que seja possível avaliar, com máximo realismo, as dimensões
exatas da brutal dívida social brasileira.
Folha de São Paulo, 9
jun. 1996. Caderno Brasil. p. 2. – Adaptado.
Fonte: Português. Série
novo ensino médio. Volume único. Faraco & Moura – 1ª edição – 4ª impressão.
Editora Ática – 2000. São Paulo. p. 251-252.
Entendendo a notícia:
01 – Qual o "mito"
mencionado no início da notícia?
O "mito da
democracia racial" é a falsa ideia de que existe um convívio harmonioso
entre as diferentes etnias no Brasil, mascarando as desigualdades raciais
existentes.
02 – Que dados do IBGE são
utilizados para demonstrar as disparidades raciais no Rio de Janeiro?
A notícia utiliza
dados sobre analfabetismo e nível de escolaridade. Em 1991, o analfabetismo
entre negros no Rio de Janeiro era 2,5 vezes maior do que entre brancos. Além
disso, a porcentagem de negros com mais de 10 anos que não haviam concluído a
4ª série do ensino fundamental era significativamente maior do que a de
brancos.
03 – Como a notícia avalia a
evolução das disparidades raciais ao longo do tempo?
A notícia
reconhece que houve uma diminuição das disparidades raciais ao longo do século,
com a queda do analfabetismo entre a população negra. No entanto, ressalta que
essa redução não resultou em uma igualdade proporcional de oportunidades.
04 – Qual a posição da notícia
em relação às "cotas raciais"?
A notícia
questiona a rigidez de iniciativas como as "cotas raciais", comuns
nos Estados Unidos, mas enfatiza a importância de destacar as desigualdades
étnicas para avaliar a "brutal dívida social brasileira".
05 – Qual a conclusão da
notícia sobre a desigualdade racial no Brasil?
A notícia conclui
que, mesmo com a diminuição das disparidades raciais ao longo do tempo, ainda
existe uma grande desigualdade socioeconômica entre brancos e negros no Brasil.
Essa desigualdade não é resultado de uma falta de oportunidades iguais, mas sim
de um sistema que perpetua a discriminação racial.
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