domingo, 22 de outubro de 2017

TEXTO LITERÁRIO: MENINO DE ENGENHO -JOSÉ LINS DO REGO - COM GABARITO

TEXTO LITERÁRIO: MENINO DE ENGENHO
                                        José Lins de Rego

   Eu tinha uns quatro anos no dia em que minha mãe morreu. Dormia no meu quarto, quando pela manhã acordei com um enorme barulho na casa toda. Eram gritos e gente correndo para todos os cantos. O quarto de dormir de meu pai estava cheio de pessoas que eu não conhecia. Corri para lá e vi minha mãe estendida no chão e meu pai caído em cima dela como um louco. A gente toda que estava ali olhava para o quadro como se estivesse a assistir a um espetáculo. Vi então que minha mãe estava toda banhada em sangue, e corri para beijá-la, quando me pegaram pelo braço com força. Chorei, fiz o possível para livrar-me. Mas não me deixaram fazer nada. Um homem que chegou com uns soldados mandou estão que todos saíssem, que só podia ficar ali a Polícia e mais ninguém. Levaram-me para o fundo da casa, onde os comentários sobre o facto eram os mais variados. O criado, pálido, contava que ainda dormia quando ouvira uns tiros no primeiro andar. E, correndo para cima, vira o meu pai ainda com o revolver na mão e a minha mãe ensanguentada. “O doutor matou a Dona Clarisse! Por quê?” Ninguém sabia compreender. O que eu sentia era uma vontade desesperada de ir para junto de meus pais, de abraçar e beijar minha mãe. Mas a porta do quarto estava fechada, e o homem sisudo que entrara não permitia que ninguém se aproximasse dali. O criado e a ama, diziam, estavam lá dentro em interrogatório. O que se passou depois não me ficou bem na memória.
        À tarde o criado leu para a gente da cozinha os jornais com os retratos grandes de minha mãe e meu pai. Ouvi como se aquilo fosse uma história de Trancoso. Pareciam-me tão longe, já, os factos da manhã, que aquela narrativa me interessava como se não fossem os meus pais os protagonistas. Mas logo que vi na página de um dos jornais a minha mãe, estendida, com os cabelos soltos e a boca aberta, caí num choro convulsivo. Levaram-me estão para a praça que ficava perto de minha casa. Lá estavam outros meninos do meu tamanho e eu brinquei com eles a tarde toda. As crianças é que conversavam muito sobre o meu pai e a minha mãe, contando umas às outras coisas a que eu não prestava atenção, pois no que eu cuidava era nos meus brinquedos com os amigos. Na hora de dormir foi que senti de verdade a ausência da mãe. A casa vazia e o quarto dela fechado. Um soldado tomando conta de tudo. As criadas da vizinhança queriam vir conversar por ali. O soldado não consentia. Deitaram-me a dormir, sozinho. E o sono demorou a chegar. Fechava os olhos, mas faltava-me qualquer coisa. Pela minha cabeça passavam, às pressas e truncados, os sucessos do dia. Então começava a chorar baixinho para o travesseiro, um choro abafado, de quem tivesse medo de chorar.
                                            José Lins do Rego. Menino de Engenho.
                                                   Rio de Janeiro: José Olimpyo, 2006.

Interpretação do texto:

1 – Imagine que, em uma aula expositiva. O(a) professor(a) de Biologia explica aos alunos o funcionamento de uma estrutura orgânica do corpo humano. Supondo essa situação, responda:
a)   Existe interação face a face entre alunos e professor(a)?
Sim.

b)   O(A) professor(a) e os alunos podem recorrer a expressões mimogestuais?
Sim.

c)   A entoação expressiva é um elemento desejável ou indesejável nessa situação? Por quê?
Desejável, pois permite sinalizar a (in)compreensão do que se comunica.

2 – Lembre-se da situação em que assistimos a um telejornal. Nesse caso:
a)   Existe algum tipo de interação face a face entre o apresentador e os espectadores? Em caso afirmativo, como é essa interação?
Sim. Os espectadores veem o apresentador. A interação face a face ocorre para um dos interlocutores.

b)   Pode-se afirmar que o telejornal apresenta uma situação dialogal? Por quê?
Não. Porque os interlocutores não podem interferir na comunicação (levantar uma questão ou assaltar o turno, por exemplo).

c)   É possível a algum dos participantes dessa interação o recurso ao mimogestrual? Por quê?
Sim. Ao apresentador. Mas, devido ao nível de formalidade, a expressão mimogestual se restringe ao mínimo.

d)   Existe o assalto do turno?
Não.

3 – Imagine esta situação: você está ouvindo uma rádio e chega o momento em que uma propaganda vai ser feita pelo locutor da rádio e transmitida por essa emissora. Nesse caso:
a)   Quem são os interlocutores?
O locutor da propaganda e os ouvintes.

b)   Existe entoação expressiva? Em caso afirmativo, que função ela desempenha?
Sim. Por meio dela o locutor pode exprimir uma gama de sentimentos e emoções. Essa entoação supre a falta de expressão corporal e dos gestos.

c)   Quais características do oral estão ausentes nesse tipo de interação?
A interação dialogal é a principal delas.

d)   Existe expressão corporal? Em caso afirmativo, que função ela desempenha?
Não existe.  
   
e)   Os interlocutores podem interferir na comunicação?
Não.

4 -  Imagine uma conversa telefônica entre duas pessoas. Nesse caso:
a)   Como se inicia a interação oral?
Um dos interlocutores se expressa vocalmente (ele diz, por exemplo, “alo”).

b)   Há marcadores de oralidade nessa interação?
Sim. De diversos tipos: hesitação, assalto do turno, sobreposição, pausas, entoação expressiva. Só não há gestos e expressão corporal.

c)   Existe o assalto do turno?
Sim.

5 – Tendo em mente suas respostas anteriores, como você definiria um diálogo?
      Resposta pessoal do aluno.



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