TEXTO LITERÁRIO: MENINO
DE ENGENHO
José Lins de Rego
Eu tinha uns quatro anos no dia em que
minha mãe morreu. Dormia no meu quarto, quando pela manhã acordei com um enorme
barulho na casa toda. Eram gritos e gente correndo para todos os cantos. O
quarto de dormir de meu pai estava cheio de pessoas que eu não conhecia. Corri
para lá e vi minha mãe estendida no chão e meu pai caído em cima dela como um
louco. A gente toda que estava ali olhava para o quadro como se estivesse a
assistir a um espetáculo. Vi então que minha mãe estava toda banhada em sangue,
e corri para beijá-la, quando me pegaram pelo braço com força. Chorei, fiz o
possível para livrar-me. Mas não me deixaram fazer nada. Um homem que chegou
com uns soldados mandou estão que todos saíssem, que só podia ficar ali a
Polícia e mais ninguém. Levaram-me para o fundo da casa, onde os comentários
sobre o facto eram os mais variados. O criado, pálido, contava que ainda dormia
quando ouvira uns tiros no primeiro andar. E, correndo para cima, vira o meu
pai ainda com o revolver na mão e a minha mãe ensanguentada. “O doutor matou a
Dona Clarisse! Por quê?” Ninguém sabia compreender. O que eu sentia era uma
vontade desesperada de ir para junto de meus pais, de abraçar e beijar minha
mãe. Mas a porta do quarto estava fechada, e o homem sisudo que entrara não
permitia que ninguém se aproximasse dali. O criado e a ama, diziam, estavam lá
dentro em interrogatório. O que se passou depois não me ficou bem na memória.
À tarde o criado leu para a gente da
cozinha os jornais com os retratos grandes de minha mãe e meu pai. Ouvi como se
aquilo fosse uma história de Trancoso. Pareciam-me tão longe, já, os factos da
manhã, que aquela narrativa me interessava como se não fossem os meus pais os
protagonistas. Mas logo que vi na página de um dos jornais a minha mãe,
estendida, com os cabelos soltos e a boca aberta, caí num choro convulsivo.
Levaram-me estão para a praça que ficava perto de minha casa. Lá estavam outros
meninos do meu tamanho e eu brinquei com eles a tarde toda. As crianças é que
conversavam muito sobre o meu pai e a minha mãe, contando umas às outras coisas
a que eu não prestava atenção, pois no que eu cuidava era nos meus brinquedos
com os amigos. Na hora de dormir foi que senti de verdade a ausência da mãe. A
casa vazia e o quarto dela fechado. Um soldado tomando conta de tudo. As criadas
da vizinhança queriam vir conversar por ali. O soldado não consentia.
Deitaram-me a dormir, sozinho. E o sono demorou a chegar. Fechava os olhos, mas
faltava-me qualquer coisa. Pela minha cabeça passavam, às pressas e truncados,
os sucessos do dia. Então começava a chorar baixinho para o travesseiro, um
choro abafado, de quem tivesse medo de chorar.
José Lins do Rego. Menino de Engenho.
Rio de Janeiro: José Olimpyo,
2006.
Interpretação do texto:
1 – Imagine que, em uma aula
expositiva. O(a) professor(a) de Biologia explica aos alunos o funcionamento de
uma estrutura orgânica do corpo humano. Supondo essa situação, responda:
a)
Existe interação face a face entre alunos e
professor(a)?
Sim.
b)
O(A) professor(a) e os alunos podem recorrer
a expressões mimogestuais?
Sim.
c)
A entoação expressiva é um elemento desejável
ou indesejável nessa situação? Por quê?
Desejável, pois permite sinalizar a (in)compreensão do que se
comunica.
2 – Lembre-se da situação em
que assistimos a um telejornal. Nesse caso:
a)
Existe algum tipo de interação face a face
entre o apresentador e os espectadores? Em caso afirmativo, como é essa
interação?
Sim. Os espectadores veem o apresentador. A interação face a face
ocorre para um dos interlocutores.
b)
Pode-se afirmar que o telejornal apresenta
uma situação dialogal? Por quê?
Não. Porque os interlocutores não podem interferir na comunicação
(levantar uma questão ou assaltar o turno, por exemplo).
c)
É possível a algum dos participantes dessa
interação o recurso ao mimogestrual? Por quê?
Sim. Ao apresentador. Mas, devido ao nível de formalidade, a
expressão mimogestual se restringe ao mínimo.
d)
Existe o assalto do turno?
Não.
3 – Imagine esta situação:
você está ouvindo uma rádio e chega o momento em que uma propaganda vai ser
feita pelo locutor da rádio e transmitida por essa emissora. Nesse caso:
a)
Quem são os interlocutores?
O locutor da propaganda e os ouvintes.
b)
Existe entoação expressiva? Em caso
afirmativo, que função ela desempenha?
Sim. Por meio dela o locutor pode exprimir uma gama de sentimentos e
emoções. Essa entoação supre a falta de expressão corporal e dos gestos.
A interação dialogal é a principal delas.
d)
Existe expressão corporal? Em caso
afirmativo, que função ela desempenha?
Não existe.
e)
Os interlocutores podem interferir na
comunicação?
Não.
4 - Imagine uma conversa telefônica entre duas
pessoas. Nesse caso:
a)
Como se inicia a interação oral?
Um dos interlocutores se expressa vocalmente (ele diz, por exemplo,
“alo”).
b)
Há marcadores de oralidade nessa interação?
Sim. De diversos tipos: hesitação, assalto do turno, sobreposição,
pausas, entoação expressiva. Só não há gestos e expressão corporal.
Sim.
5 – Tendo em mente suas
respostas anteriores, como você definiria um diálogo?
Resposta pessoal
do aluno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário