sábado, 7 de outubro de 2017

POEMA: LIBERDADE - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

LIBERDADE

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada.
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quando é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

                               Fernando Pessoa. Obra Poética. Rio de Janeiro:
                                                               Nova Aguilar, 1977 p. 188-9.
Interpretação:
1 – Existe no poema uma oposição entre o dever e o prazer. A que elementos o autor associa o dever? A que outros elementos associa o prazer?
      O dever está associado às atividades de nosso mundo cultural: ler um livro, estudar, ter um dever a cumprir.
      O prazer está associado ao mundo natural: o sol, a lua, o rio, a brisa, as flores, a música, as crianças...

2 – Quanto às rimas, o que você nota? Qual a relação desse tipo de rima com o conteúdo do poema?
      As rimas são irregulares, perfeitamente adequadas ao tema do poema.

      3 – Comente esta definição do autor: “Livros são papéis pintados com tinta”.
      Resposta pessoal do aluno.

4 – Compare a visão que o poeta tem da escrita com a visão da personagem do texto “A descoberta da escrita”.
      É uma visão totalmente diferente. Enquanto o poeta “desfaz” dos livros e da literatura, a personagem de A descoberta da escrita dedica toda sua vida para encontrar um meio de poder escrever...

5 – o poeta enaltece os encantos do mundo natural, contrapondo-o à artificialidade do mundo cultural, e declara sua preferência pela natureza. Por outro lado, quando se escreve um poema, o que se pressupõe? Que contradição existe na postura do poeta?
      Ao mesmo tempo em que critica os livros, é por meio de um deles que o autor fará chegar seus versos ao leitor. É um “papel pintado com tinta” que imortaliza a voz do poeta.

6 – Observe a última estrofe do poema. Qual sua opinião sobre o argumento utilizado para convencer o leitor?

      O argumento é irrefutável.

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