APAIXONAR-SE
É BOM, MAS É ESTRESSANTE
“Amor à vista!” As turbulências de um marinheiro de
primeira viagem no mundo dos
relacionamentos.
Qual foi a época mais feliz na sua
vida? Se você pudesse escolher, que idade teria de novo? Se você tem, digamos,
mais de 30 anos, provavelmente já ouviu essas perguntas muitas vezes. As
respostas variam. Muitas pessoas voltar à época da faculdade, outras voltariam
infância, outras ao início do casamento, e assim por diante. No entanto,
raramente ouvimos a resposta: “Voltaria à minha adolescência”.
Por que pouca gente gostaria de voltar
à adolescência? À primeira vista, existe muita coisa boa nessa época: não temos
de ganhar a vida, nossos pais estão vivos, temos roupa lavada e comida de
graça. É, também, a época da descoberta do amor. Paradoxalmente, esse é um dos
motivos pelos quais ninguém quer voltar à adolescência. A iniciação na vida
amorosa geralmente é muito tensa, muito intensa, muito turbulenta, muito
permeada de gozos e agruras. Antes, na infância, o amor era algo que apenas
víamos na TV, entre os mais velhos e, com um pouco de sorte, entre nossos pais.
Agora, na adolescência, o amor está acontecendo com os amigos mais próximos e
(que espanto!) conosco. Aquelas pessoas horrorosas de sexo oposto de repente
estão se tornando suportáveis... admissíveis... interessantes... altamente interessantes...
imprescindíveis!!! Em todos os locais que frequento existem vários possíveis
parceiros amorosos na mesma situação que eu: com os hormônios sexuais
transbordando, disponíveis e muito dispostos a se envolver amorosamente. Os
meus pares já estão namorando, a mídia, as músicas, os livros, o zunzum que
ouço, tudo proclama as maravilhas de um relacionamento amoroso. Preciso
arranjar um! Puxa, como seria bom ficar com aquela pessoa! Faria qualquer coisa
para dar um beijo nela! Quem sou eu? Qual meu cacife para atrair aquele ser tão
interessante?
É aí que começam as agruras amorosas.
Geralmente, aquelas pessoas que são mais atraentes para mim também o são para
todos os meus colegas. Assim sendo, poucos de nós seremos bem-sucedidos (é a
velha questão da relação entre oferta e procura). O pior de tudo é que aquela
pessoa que parecia estar interessada em mim, parecia estar me paquerando, me
rejeitou. Apaixonei-me e, quando tentei ficar com ela, levei um fora. O que
agrava esse quadro é que ele é recorrente: a todo momento estou novamente me
interessando por uma nova pessoa e toda a história se repete. “Como é bom e
como é sofrido!!”, confessou a esse respeito uma adolescente que participou de
uma pesquisa que fiz sobre o assunto. Se sou tímida a coisa piora de vez. Não
consigo “ficar” ou namorar. Perto da pessoa amada baixa uma bobeira. Fico
tenso. Não consigo falar coisas inteligentes, dá um branco, faço coisas idiotas
para atrair sua atenção, o meu charme me abandona. A timidez é extremamente
frequente entre os adolescentes. [...] É estressante. É solitário. Mas é
inevitável. Como escreveu o poeta Carlos Drummond de Andrade, amar se aprende
amando. A notícia boa é que a adolescência acaba um dia. A ruim é que esse
aprendizado dura a vida inteira.
Ailton Amélio da Silva. Veja Jovens,
edição especial da Veja.
Ano 34, n. 38, set. 2001. p. 87.
1 – Segundo o autor, por que
a maioria das pessoas não gostaria de voltar à época da adolescência? Você
concorda com os argumentos apresentados por ele?
Porque é na adolescência que se dá a
iniciação amorosa. São muitas as dúvidas, as ansiedades, as decepções ocorrem a
todo momento. Resposta pessoal do aluno.
2 – Os seguintes trechos
desse texto se aplicam à personagem Brás Cubas? De que maneira?
a)
“A iniciação da vida amorosa geralmente é
muito tensa, muito intensa, muito turbulenta, muito permeada de gozos e
agruras.”
b)
“Puxa, como seria bom ficar com aquela
pessoa! Faria qualquer coisa para dar um beijo nela! Quem sou eu? Qual meu
cacife para atrair aquele ser tão interessante?”
Sim. O relacionamento de Brás Cubas com
Marcela era realmente turbulento: havia as delícias e havia os amargores. Com
relação ao cacife, Brás Cubas usava das prerrogativas de filho de pai abastado
para conseguir o dinheiro de que precisava e conquistar Marcela.
3 – Além da concorrência, da
inexperiência, do medo da rejeição, da timidez, o jovem que ainda não trabalha
enfrenta uma outra limitação, em seus relacionamentos, que é vivida pela
personagem Brás Cubas:
a)
Que limitação é essa?
É o fato de não possuir, ainda, algum rendimento que lhe dê
independência econômica.
b)
Em que isso pode influir num relacionamento
amoroso?
Haverá limitação de passeios, cinema, teatro, restaurantes e outros
programas que acarretem despesa.
c)
No caso de Brás Cubas, como esse empecilho
foi vencido? Esse mesmo artifício poderia ser utilizado nos dias de hoje?
Brás Cubas pediu empréstimos na praça, provavelmente em nome de seu
pai. Hoje tudo seria diferente: é preciso dar garantias legais ou fiadores e
ser maior de idade para se conseguir um empréstimo.
4 – Se os problemas vividos
pelos adolescentes da atualidade, diante de suas primeiras experiências
amorosas, são os mesmos vividos por Brás Cubas, no século XIX, o que é possível
concluir?
É possível concluir que os jovens
costumam enfrentar as mesmas dificuldades, não importando a época em que vivam,
principalmente no que se refere à vida afetiva. A timidez e a insegurança são
características da adolescência de todos os tempos.
5 – Para fechar seu texto, o
autor do artigo cita Drummond, segundo o qual “amar se aprende amando” e dá
duas notícias: uma boa e uma ruim. Comente a notícia ruim.
A notícia ruim não é, afinal, tão ruim
assim: de fato, o aprendizado do amor recomeça a cada novo relacionamento. Como
o desenrolar de um caso amoroso é praticamente imprevisível, só se pode
aprender enquanto ele estiver em curso. Talvez esteja nesse eterno aprender a
graça do jogo.
6 – Após a leitura do texto
Apaixonar-se é bom, mas é estressante, você reconsideraria os atos de Brás
Cubas? Por quê?
Sim. Ele estava na fase de auto afirmação,
de querer manter o objetivo de sua paixão a qualquer preço.
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