sábado, 7 de outubro de 2017

CARTA: VERGONHA(ANALFABETISMO) - COM GABARITO

VERGONHA

        Numa quarta-feira, 17 de julho, fui a uma agência da Caixa Econômica Federal, que, em época de pagamento de FGTS, é um verdadeiro caos. Nessa agência assisti a uma cena que muitos podem considerar piegas, outros, constrangedora, e mesmo alguns talvez até a considerem normal; para mim, foi humilhante. Naquele momento tive vergonha de ser brasileiro, vamos ao relato. Um senhor, aparentando ter uns 50 anos, roupas simples, retira do bolso sua carteira profissional (para os mais jovens, esclareço que carteira profissional é um documento azul que todo trabalhador deve ter, mas que os empresários estão preferindo ignorar). Pelo que pude perceber, esse senhor estava recebendo seu seguro-desemprego e, no momento de assinar o comprovante de recebimento do seguro, o constrangimento começou. Com voz quase imperceptível e percebendo que todos na fila o observavam, ele balbuciou mais do que falou: “Senhor, eu não sei escrever...” O caixa então pediu o polegar do trabalhador para marcar as digitais no recibo. O braço do homem parecia pesar uma tonelada. Era evidente o seu desconforto, a sua vergonha de ser analfabeto.
        Escrevo a vocês para dizer o que deveria ter dito a ele naquela hora: “Amigo, vergonha quem deve sentir sou eu, que sei ler e escrever e não lhe ensino. Vergonha quem deve sentir é o país, de não ter lhe dado oportunidade de estudar. Desculpe-nos por tudo. Por ter lhe dado um cartão magnético, para o senhor retirar sua esmola, e não ter lhe ensinado a ler para saber usar a máquina da qual sai dinheiro. Desculpe-nos obriga-lo a sujar os dedos, quando era nossa obrigação ensiná-lo a escrever”.

                                           José Paulo da Silva Costa Jr. Recife, PE.
                                    Caros Amigos, ano VI, n° 65, ago. 2002. p. 6.

Interpretação:
1 – Como sabemos que o texto “Vergonha” é uma carta?
      Sabe-se, pela introdução do texto, que a carta foi publicada numa seção da revista para a qual os leitores escrevem mensalmente. Além disso, no início do segundo parágrafo, lê-se: “Escrevo a vocês para dizer...”

2 – O autor da carta define a cena relatada como “humilhante”. Na sua opinião, o que há de humilhante na situação descrita?
      Resposta pessoal do aluno. Considerar que ser um adulto analfabeto num mundo controlado pela escrita.

3 – Faça um comentário sobre a explicação dada entre parênteses.
      A explicação é claramente sarcástica A intenção do autor da carta foi dizer que ultimamente é tão difícil os jovens conseguirem emprego com carteira assinada que provavelmente nem conhecem o documento.

4 – Comente também os vocativos que aparecem no texto.
      “Senhor, eu não sei escrever...” Mesmo dirigindo-se a uma pessoa mais jovem, o senhor que estava recebendo o seguro-desemprego tratou com respeito o funcionário, talvez por sentir-se inferiorizado diante dele.
      “Amigo, vergonha quem deve sentir sou eu...” Nesse caso, o autor da carta quer mostrar solidariedade para com o senhor que passou pelo constrangimento citado.

5 – Explique a intenção do autor ao usar a palavra destacada neste trecho: “Por ter lhe dado um cartão magnético, para o senhor retirar sua esmola, e não ter lhe ensinado a ler para saber usar a máquina da qual sai dinheiro”.
      A intenção é criticar a importância recebida como salário-desemprego, que é muito pequena.

6 – Como as relações de poder ocorreram naquela situação? Que tipo de poder prevaleceu?
      O funcionário do banco sentiu-se dono da situação; não se preocupou com a reação daquele senhor ao marcar as digitais no recibo diante de tantas pessoas. Prevaleceu o tipo de poder dos que sabem diante dos que não sabem.

7 – Você concorda com as palavras que o narrador “deveria ter dito a ele naquela hora” (mas não disse) e escreve nessa carta? Quais seriam as suas palavras para aquele senhor naquelas circunstâncias?

      Resposta pessoal do aluno.

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