terça-feira, 17 de outubro de 2017

ARTIGO DE OPINIÃO: OS FREMENTES ANOS 20 - COM GABARITO

ARTIGO DE OPINIÃO: OS FREMENTES ANOS 20

        [...]
        Por trás dessa vertigem coletiva da ação e da velocidade, engendrando-a, estimulando-a, sem permitir a reflexão sobre suas consequências nas mentes e na cultura, as inovações tecnológicas invadiam o cotidiano num surto inédito, multiplicando-se mais rapidamente do que as pessoas pudessem se adaptar a elas e corroendo os últimos resquícios de um mundo estável e um curso de vida que as novas gerações pudessem modelar pelas antigas. As novas formas de energia ampliavam o tempo sem parar, na proporção inversa em que encurtavam os espaços. A matéria passava a obedecer cegamente a essas fontes invisíveis de energia e tudo parecia instável, a se mover, até as estruturas de aço maciço da Torre Eiffel subindo aos céus, ou as seculares muralhas de Viena desaparecendo da noite para o dia, para dar lugar a novas avenidas cheias de veículos velozes e palácios modernos erguidos num piscar de olhos. É muito sugestivo, nesse sentido, o depoimento de Raymond Loewy.
        Aos catorze anos, em Paris, onde eu havia nascido, eu já tinha visto o nascimento do telefone, do aeroplano, do automóvel, da eletricidade doméstica, do fonógrafo, do cinema, do rádio, dos elevadores, dos refrigeradores, dos raios X, da radioatividade e, não menos importante, da moderna anestesia.
        Pode parecer impressionante, mas o fato é que Loewy foi muito discreto na sua avaliação. Ele, por exemplo, deixou de mencionar as linhas de montagem, os transatlânticos, as motocicletas, as instalações de gás domésticas, os modernos fogões e sistemas de aquecimento, a máquina de costura, o aspirador de pó, as máquinas de lavar, as instalações sanitárias e válvulas hídricas modernas, o concreto armado, os alimentos enlatados, os refrigerantes gaseificados, os sorvetes industrializados, a aspirina, as lâmpadas elétricas, as máquinas de escrever e de calcular, o ditafone, a caixa registradora e – essas revoluções dos sentidos – o parque de diversões eletrificadas, a roda-gigante e a montanha-russa. A lista é ainda muito modesta, mas pode servir como referência. Num intervalo menor que o de uma geração, o mundo se transformara completamente. A voracidade de mercados de consumo dos grandes complexos industriais o forçava a orientarem a sua produção para as grandes massas urbanas, o que também era inédito. O automóvel, aparecido como extravagância no final do século XIX, tornou-se produto de luxo no começo do século e recebeu suas primeiras versões populares no contexto da Guerra, tornando-se imediatamente uma necessidade. O problema geral das imaginações era menos o de conceber o novo mundo do que livrar-se do antigo. A Guerra se encarregaria disso em grande parte. Seu rescaldo, porém, seria o culto da ação coletiva e da violência, que ela decantara em estado puro em suas várias manifestações.
        As modernas formas de comunicação de massas, a fotografia, o cinema e os cartazes reiteravam essa ênfase tecnológica sobre a ação e a velocidade, ressaltando ademais o papel privilegiado conceito nessa nova ordem cultural à imagem, à luz e à visualidade.
[...]
                                 Nicolau Sevcenko. Orfeu extático na Metrópole:
                    São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20.
                           São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 162-3.

DECANTAR: livrar-se das impurezas, voltar ao estado puro.
DITAFONE: aparelho que grava textos ditados para transcrição.
REITERAR: confirmar.
RESCALDO: resultado de alguma coisa, saldo.
VORACIDADE: grande atividade, avidez.

Interpretação do texto:
1 – O primeiro parágrafo do texto trata das inovações tecnológicas e suas consequências.
a)   No próprio texto, o autor dá inúmeros exemplos dessas inovações tecnológicas. Há alguma(s) delas que ainda provoca(m) surpresa no meio em que você vive? Quais?
Resposta pessoal do aluno.

b)   Cite duas consequências dessas inovações tecnológicas no início do século XX.
- Estimular a ação e a velocidade.
- Corroer os últimos resquícios de um mundo estável.


2 – Veja a litogravura ao lado. Que trecho do primeiro parágrafo tem relação com essa litogravura?
      “... tudo parecia instável, a se mover...”.

3 – No terceiro parágrafo, caracteriza-se a roda-gigante e a montanha-russa como “revoluções do sentido”. Em sua opinião, por quê?
      Porque permitem o deslocamento rápido do ponto de vista do observador.

4 – Explique, com suas palavras, estre trecho do texto:
      [...] “A voracidade dos mercados de consumo dos grandes complexos industriais os forçava a orientar a sua produção para as grandes massas urbanas” [...].
      Resposta pessoal do aluno.


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