GLÓRIAS
E PRIVAÇÕES
Os anos passaram. Os meninos cresciam.
Os livros saíam. Campos Lara tornara-se o grande romancista do país. Tinha um
nome nacional. Cartas chegaram de toda parte. Fugira sempre dos políticos.
Ouvira, anos seguidos, os impropérios da esposa, por não querer procurar coronelões
e chefes eleitorais que o admiravam, para pedir emprego.
--- Você não presta mesmo para nada.
Por que é que não arranja, pelo menos, um emprego público?
Nunca pedira. Não pediria nunca. Mas o
seu nome enchera de tal forma o país, que um deputado amigo se lembrou de
arranjar-lhe uma achega. Campos Lara, além de ser o maior romancista nacional,
era amanuense de uma secretaria de Estado.
A glória literária, sempre crescente,
abria-lhe todas as portas. Não as procurava, mas estavam abertas. O diretor de
um colégio veio oferecer estudo grátis para os meninos. A Irene, a Anita, o
Joãozinho estudavam agora.
No fundo, Maria Rosa preferia que, em
vez de escola, as crianças arranjassem emprego. O trabalho compensa. Irene
poderia ser uma boa datilógrafa. Joãozinho faria carreira, na casa de Gomes,
Correia & Cia. O estudo poderia estraga-los, fazê-los iguais ao pai. No
apogeu da sua carreira literária, a merecer em toda parte mesuras e barretadas,
de vez em quando um repórter em casa, para fotografar o romancista à sua mesa
de trabalho, ou simplesmente a mesa – um retratara apenas o tinteiro e a caneta
–, Campos Lara vivia mediocremente, pobremente. Uma peleja tão grande, para
ganhar pouco mais do que um empregado de escritório.
Mas nem se atrevia a falar ao marido. Em
certas coisas, Campos Lara conseguia ser inflexível. Os filhos teriam que
estudar. E, apreensiva sempre, Maria Rosa auscultava as tendências das meninas,
já mocinhas, especialmente do filho, temerosa de ver o germe literário se
revelar. Sua esperança era que o seu quinhão de sangue os salvasse. Os filhos,
muito mais dela do que dele. A sua carne, o seu sangue, o seu sofrimento.
Haviam crescido ao seu lado, passando privações, vendo o mau exemplo e o
fracasso do pai. E, sempre que podia, mandava o Joãozinho brincar à casa do
Gomes, com o garoto mais velho, ver a diferença, invejar lhe a riqueza!
Orígenes Lessa. O feijão e o sonho.
São Paulo:
Ática. p. 122.
1 – “O trabalho compensa.”
Pensando nisso, Maria Rosa preferiria ver os filhos trabalharem em vez de irem
à escola. Você concorda com ela? Qual a justificativa para esse modo de pensar?
Reposta pessoal do aluno. O ideal é que
as pessoas estudem sempre, para melhorar no campo profissional.
2 – Campos Lara jamais
pedira nada a ninguém, mesmo vendo a família enfrentar as piores dificuldades.
Por qual motivo teria vivido assim?
Eram o orgulho e a vaidade que o
impediam.
3 – “Campos Lara vivia
mediocremente, pobremente.” Mesmo depois de ter seu talento reconhecido, a
condição de vida do poeta continuou precária. A glória literária, nesse caso,
Justifica tudo?
Nem sempre; no caso de Campos Lara, foi o
que aconteceu.
4 – Como é a atitude de
Campos Lara com a mulher e os filhos?
Campos Lara, oferece uma vida pobre e
sofrida à mulher e aos filhos.
5 – Maria Rosa foi feliz com
Campos Lara? Justifique sua resposta?
Não. Embora admirasse e amasse o marido,
Maria Rosa nunca perdoou Campos Lara por este não ter lhe proporcionado uma
vida mais confortável.
6 – Maria Rosa instiga os
filhos a serem ambiciosos, para que não tenham as pretensões literárias do pai.
O que você pensa disso? Um filho escolhe a carreira espelhando-se na do pai?
Resposta pessoal do aluno. Os filhos não
necessariamente escolhem a mesma carreira do pai, mas é inegável que se deixam
influenciar pelas ideias e posturas dos familiares.
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