quarta-feira, 18 de outubro de 2017

POEMA: VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA - MANUEL BANDEIRA - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

Fonte da imagem - https://www.blogger.com/u/4/blog/post/edit/7220443075447643666/7118670276075777877#     
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Manuel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive.

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau de sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água.

Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar.

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
--- Lá sou amigo do rei ---
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
                                            Manuel Bandeira. Idem, ibid. p. 117-8.
Interpretação do texto:
1 – Qual o significado de Pasárgada para o eu lírico?
      Pasárgada pode ser entendido como o mundo do sonho, da fantasia, da ilogicidade, onde é possível realizar tudo.

2 – No poema ocorre antítese entre aqui e lá. Identifique o espaço a que se refere cada um desses advérbios.
      Aqui refere-se à realidade concreta do poeta; lá identifica o sonho, a utopia do eu lírico.

3 – Qual verso do poema sintetiza o motivo da evasão da realidade?
      “Aqui eu não sou feliz”.

4 – Esse mecanismo de evasão da realidade foi frequente em outro estilo de época. Qual?
      No Romantismo.

5 – A realidade de Pasárgada não obedece à lógica. Cite dois fatos dessa realidade que permitem tal conclusão.
1-   O parentesco entre o eu lírico e Joana, a Louca de Espanha.
2-   A possibilidade de chamar a mãe d’água para lhe contar histórias.

6 – Na adolescência, o poeta Manuel Bandeira contraiu tuberculose, que na época era uma doença fatal. Releia a terceira estrofe do poema e reflita: as atividades que o eu lírico vê como possíveis em Pasárgada são rotineiras na juventude. Por que, então, ele as valoriza tanto?
      Porque o dado biográfico é interessante para a compreensão e a análise da poesia de Bandeira. As atividades possíveis em Pasárgada parecem excepcionais para um indivíduo doente, privado de realiza-las.

7 – Os anseios que o eu lírico pretende concretizar em Pasárgada são de natureza predominantemente espirituais ou materiais?
      São predominantemente materiais.

8 – Na biografia de Bandeira consta que lhe serviu de babá uma mulata chamada Rosa, que é citada no poema. Quem lá em Pasárgada, exercerá o papel que Rosa desempenhou aqui? Por quê?
      A mãe-d’água, que lhe contará histórias.

9 – A mãe-d’água é, grosso modo, uma versão da sereia, personagem da mitologia europeia. De que poder mágico era dotada essa personagem? Identifique a semelhança entre esse poder e o da mãe-d’água citado no poema.
      A sereia procurava seduzir os marinheiros com seu canto irresistível para que eles, seguindo-a, morressem no fundo do mar. O canto da sereia corresponderia às histórias da mãe-d’água.

10 – Para se livrar de dogmas, preconceitos, limitações de todo tipo, é necessário, mesmo em Pasárgada, gozar de uma condição. Qual?
      Ser amigo do rei.


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