Soneto: Busque
Amor novas artes, novo engenho
Luís Vaz de Camões
Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar me, e novas esquivanças;
que não pode tirar me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
para matar me, e novas esquivanças;
que não pode tirar me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.
Que dias há que n'alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê.
Luís de Camões. In:
A. J. da Costa Pimpão. Op. cit. pág. 118.
Entendendo o soneto:
01 – Faça a escansão do primeiro verso.
Bus/que A/mor no/vas ar/tes
no/vo em/ge/nho.
02 – A primeira estrofe é um
desafio ao Amor. Qual o argumento utilizado pelo sujeito lírico para explicar a
impossibilidade de sofrer mais?
O maior mal seria perder a esperança.
Como esta já não existe, o Amor nada mais pode contra ele.
03 – A segunda estrofe
exprime a perplexidade do sujeito lírico diante do absurdo de sua situação: a
esperança de não sofrer mais, por não ter mais esperança. Qual é o paradoxo com
que ele exprime essa situação absurda?
“... perigosas seguranças”.
04 – No oitavo verso o autor
utiliza uma metáfora náutica: “andando em bravo mar, perdido o lenho”.
Metáforas como esta são lugares-comuns na poesia renascentista. Procuremos
entende-la: “bravo mar” é metáfora de “vida agitada”; “lenho” é “navio”, por
metonímia. No contexto do poema, o que o “lenho”, ou navio perdido representa?
Representa a
esperança perdida. A perda da esperança é o “naufrágio” do sujeito lírico.
05 – É grande a intensidade
emocional deste soneto. Entretanto, Camões equilibra a expressão do desespero
amoroso com o raciocínio (lembre-se de que o Classicismo procura o equilíbrio
entre razão e emoção), desenvolvendo um discurso em tese e antítese.
a)
Resuma a tese apresentada nos quartetos.
O pior mal que o Amor poderia causar ao sujeito lírico seria
tirar-lhe as esperanças. Como ele já não as possui, nada mais deve temer.
b)
A antítese começa com a conjunção adversativa
“mas”. Resuma a contradição apresentada no primeiro terceto.
Apesar da impossibilidade lógica de os seus desgostos aumentarem, o
Amor lhe reserva ainda um grande mal invisível, escondido na alma.
06 – O sujeito lírico
conclui confessando sua incapacidade de compreender o processo amoroso.
Transcreva os versos que melhor exprimem a ideia de que o Amor é um sentimento
contraditório e incompreensível.
Os dois últimos versos do soneto.
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