Crônica: O menino e o Homem
Fernando Sabino
PRÓLOGO
Quando chovia, no meu tempo de menino,
a casa virava um festival de goteiras. Eram pingos do teto ensopando o soalho
de todas as salas e quartos. Seguia-se um corre-corre dos diabos, todo mundo
levando e trazendo baldes, bacias, panelas, penicos e o que mais houvesse para
aparar a água que caía e para que os vazamentos não se transformassem numa
inundação. Os mais velhos ficavam aborrecidos, eu não entendia a razão: aquilo
era uma distração das mais excitantes.
E me divertia a valer quando uma nova
goteira aparecia, o pessoal correndo para lá e para cá, e esvaziando as
vasilhas que transbordavam. Os diferentes ruídos das gotas d´água retinindo no
vasilhame, acompanhados do som oco dos passos em atropelo nas tábuas largas do
chão, formavam uma alegre melodia, às vezes enriquecida pelas sonoras pancadas
do relógio de parede dando horas.
Passado o temporal, meu pai subia ao
forro da casa pelo alçapão, o mesmo que usávamos como entrada para a reunião da
nossa sociedade secreta. Depois de examinar o telhado, descia, aborrecido. Não
conseguia descobrir sequer uma telha quebrada, por onde pudesse penetrar tanta
água da chuva, como invariavelmente acontecia. Um mistério a mais, naquela casa
cheia de mistérios.
[...]
EPÍLOGO
Paro de escrever, levanto os olhos do
papel para o relógio de parede: cinco horas. As sonoras pancadas começam a soar
uma a uma, como antigamente em nossa casa.
É um relógio bem antigo. Foi do meu
avô, depois do meu pai, hoje é meu e um dia será do meu filho. Seu tique-taque
imperturbável me acompanha todas as horas de vigília o dia inteiro e noite
adentro, segundo a segundo, do tempo vivido por mim.
[...]
Cansado de tantas recordações, afasto-me
do relógio e caminho até a janela, olho para fora.
Assombrado, em vez de ver os
costumeiros edifícios, cujos fundos dão para o meu apartamento em Ipanema, o
que eu vejo é uma mangueira ─ a mangueira do quintal de minha casa, em Belo
Horizonte. Vejo até uma manga amarelinha de tão madura, como aquela que um dia
quis dar para a Mariana e por causa dela acabei matando uma rolinha. Daqui da
minha janela posso avistar todo o quintal, como antigamente: a caixa de areia
que um dia transformei numa piscina, o bambuzal de onde parti para o meu
primeiro voo. Volto-me para dentro e descubro que já não estou na sala cheia de
estantes com livros do meu apartamento, mas no meu quarto de menino: a minha
cama e a do Toninho, o armário de cujo espelho um dia se destacou um menino
igual a mim...
Saio para a sala. Vejo meus pais
conversando de mãos dadas no sofá, como costumavam fazer todas as tardes, antes
do jantar. Comovido, dirijo-me a eles:
─ Papai... Mamãe...
Mas eles não me veem. Nem parecem
ter-me ouvido, como se eu não existisse. Ganho o corredor, passo pela copa onde
o relógio está acabando de bater cinco horas. Atravesso a cozinha, vendo a
Alzira a remexer em suas panelas, sem tomar conhecimento da minha existência.
Desço a escada para o quintal e dou com um garotinho agachado junto às poças
d´água da chuva que caiu há pouco, entretido com umas formigas. Dirijo-me a
ele, e ficamos conversando algum tempo.
Depois me despeço e refaço todo o
caminho de volta até o meu quarto. Vou à janela, olho para fora. O que vejo
agora é a paisagem de sempre, o fundo dos edifícios voltados para mim,
iluminados pelas luzes do entardecer em Ipanema. Ouço o relógio soando a última
pancada das cinco horas. Viro-me, e me vejo de novo no meu apartamento.
Caminho até a mesa, debruço-me sobre a
máquina que abandonei há instantes. Leio as últimas palavras escritas no papel:
... Até desaparecer em direção ao
infinito.
Sento-me, e escrevo a única que falta:
FIM.
SABINO, Fernando. O menino
no espelho. Rio de Janeiro: Record, 1998.
Entendendo a crônica:
01 – Qual a causa do
corre-corre na casa do menino?
Quando chovia a
casa virava um festival de goteiras.
02 – Qual o trecho do texto
que nos deixa perceber que havia muitas goteiras?
“Seguia-se um
corre-corre dos diabos, todo mundo levando e trazendo baldes, bacias, panelas,
penicos e o que mais houvesse para aparar a água que caía e para que os
vazamentos não se transformassem numa inundação.”
03 – Como os mais velhos e o
menino encaravam as goteiras da casa?
“Os mais velhos
ficavam aborrecidos, eu não entendia a razão: aquilo era uma distração das mais
excitantes.”
04 – Após ler o prólogo e o
epílogo, responda quem é o narrador em cada uma das partes do romance.
É o autor
Fernando Sabino.
05 – No trecho do epílogo
“Cansado de tantas recordações, afasto-me do relógio e caminho até a janela, olho para fora.” A que se
refere a palavra destacada?
Era um relógio
antigo que o fazia lembrar-se de sua infância.
06 – Onde morou o
narrador-personagem?
Em Belo
Horizonte.
07 – Da janela do seu
apartamento, em Ipanema, o que o narrador-personagem imagina que vê e, depois
do momento de recordação, o que vê realmente?
Uma mangueira do
seu quintal. Ele vê a paisagem de sempre, o fundo dos edifícios voltado para
ele.
08 – Que elementos são
característicos desse quintal, na infância, em Belo Horizonte?
A caixa de areia
que um dia transformei numa piscina, o bambuzal de onde parti para o meu
primeiro voo.
09 – Que efeito causa no
narrador suas lembranças da infância?
As lembranças de
como era o quarto, a sala e o que tinha neles.
10 – Por que os pais do
narrador-personagem e Alzira não o veem?
Porque era
somente uma lembrança de imagens vivida por ele.
11 – Ao longo do epílogo,
podemos perceber, explicitamente, palavras que representam os estados físicos e
emocionais do narrador. Localize e transcreva essas palavras.
Estado físico:
homem de meia idade. “... hoje é meu e um dia será do meu filho”.
Estado emocional: saudades de sua
infância. “... como antigamente em nossa casa.”
12 – Que elemento do
apartamento do narrador, em Ipanema, proporciona a viagem ao passado e o
retorno ao presente?
É um relógio bem
antigo, que foi do teu avô e do pai.
O Menino e o Homem. Nesta introdução o fato mais
ResponderExcluirrelevante é:
(A) O festival de goteiras que para Fernando era uma festa e motivo de aborrecimento para os mais
velhos.
(B) A brincadeira no quintal, com uma fila de formiguinhas, as quais tentavam ultrapassar o rio criado
por Fernando com a água da chuva.
(C) A chegada de um homem aparentando ter cinquenta anos que conversa com Fernando assuntos
que ele parecia saber, o qual é o próprio narrador-escritor.
(D) As diversas peripécias contadas por Fernando ao homem misterioso.
ALGUÉM SABE QUAL É A RESPOSTA
2) Quanto às características das personagens em “O Menino no Espelho”, de Fernando Sabino, é incorreto
ResponderExcluirafirmar que:
(A) Fernando é o protagonista. Menino e inocente usa sua imaginação e fantasia para contar suas histórias
mirabolantes no decorrer dos capítulos.
(B) Fernanda, uma galinha branca e gorda, pela qual Fernando se afeiçoou e salvou.
(C) Mariana, sua amiga de quem Fernando leva um não ao lhe fazer um pedido de namoro. (D)
Hindemburgo é um coelho cinzento, esperto e integrante da sociedade secreta “Olho de Gato”.
PRECISO URGENTEEE
PRECISO DESSAS RESPOSTAS HOJEEEEEE
ResponderExcluirNão achei a resposta(¬_¬)ノ
ExcluirEu ñ achei a resposta que eu queria ☹
ResponderExcluirNão achei a resposta que eu queria mas obrigada do mesmo jeito
ResponderExcluirNao achei também
Excluirnão a chei a respostaa
ResponderExcluir.
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