Poema: Psicologia
de um vencido
Augusto dos Anjos
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
Augusto dos Anjos. Eu
e Outras Poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.
Entendendo o poema:
01 – A linguagem do poema
surpreende e modifica uma tradição poética brasileira, em grande parte
construída com base em sentimentalismo, delicadezas, sonhos e fantasias.
a)
Destaque do texto vocábulos empregados
poeticamente por Augusto dos Anjos e tradicionalmente considerados
antipoéticos.
Carbono, amoníaco, epigênesis, hipocondríaco, verme, etc.
b)
De que área do conhecimento humano provêm
esses vocábulos?
Provêm da ciência, particularmente da Química.
02 – O poema pode ser
dividido em duas partes: a primeira trata do próprio eu lírico; a segunda, da
morte.
a)
Como o eu lírico encara a vida e a si mesmo
nas duas primeiras estrofes?
Vê a vida e a si mesmo de forma pessimista, pois entende que o homem
é matéria, química, e considera que tudo caminha para a destruição.
b)
Que enfoque é dado à morte nas duas últimas
estrofes?
A morte é considerada o destina final de toda forma de vida. Cabe
ressaltar também a crueza do tratamento dado à morte, representada pela imagem
do verme a comer “sangue podre”.
03 – O título é uma espécie
de síntese das ideias do poema. Justifique-o.
Embora o título
contenha a palavra psicologia, o poema detém-se a tratar da matéria das
substâncias químicas que formam o eu, evitando maior introspecção. Apesar
disso, é possível constatar o negativismo interior do eu lírico, que se
considera “vencido” em virtude da fragilidade física do ser humano e da força
implacável da morte.
04 – O poema é centrado no
eu. Apesar disso, pode-se dizer que suas ideias são universalizantes?
Justifique.
Sim. Porque a
condição humana retratada pelo poema (constituição e fragilidade física do ser
humano, fatalidade da morte) não é exclusiva do eu lírico, mas universal.
05 – Identifique no texto ao
menos uma característica naturalista e outra simbolista.
A característica
naturalista do poema está no cientificismo; A característica simbolista,
encontra-se na visão decadentista do eu lírico sobre a vida.
06 – O poema tem como temática:
a) A
influência dos signos do zodíaco sobre a vida humana.
b) Os
medos enfrentados pelos homens durante a infância.
c) A angústia diante da decomposição fatal do corpo humano.
d) As
doenças que levam o homem à morte.
07 – Apresenta uma comparação os versos:
a)
“Sofro, desde a epigênese da infância
A influência dos signos do
zodíaco”.
b)
“Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa
repugnância...”
c)
“E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da
terra”.
d)
“Sobe-me à boca uma ânsia análoga à
ânsia
Que escapa da boca
de um cardíaco.”
08 – São palavras que fazem parte do vocabulário
científico:
a) Guerra
e terra.
b) Zodíaco
e ânsia.
c) Inorgânica e epigênese.
d) Signos
e operário.
09 – Segundo os versos do poema, o eu lírico:
a) É
uma pessoa cardíaca.
b) Declarou
guerra à vida.
c) Sente-se
um verme.
d) Considera-se um
sofredor.
10 – “Monstro de escuridão e rutilância”, o verso
apresenta:
a) Uma antítese.
b) Um
eufemismo.
c) Uma
hipérbole.
d) Uma metonímia.
11 – O verme representa para o eu lírico:
a) Uma
doença.
b) Um predador.
c) Um
aliado.
d) Uma solução.
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