Texto: Crianças
de fibra
Iolanda
Huzak e Jô Azevedo
Pé em sandália de couro cru e solado de
pneu, a espora vai batendo no lombo do jegue para a topa ir mais rápido.
Francisco, 13 anos, é mirradinho, parece bem mais novo, como outros cambiteiros
– os responsáveis pelo transporte da cana para o engenho e da palha para os
bois no curral. O sol passa dos 40graus na região do Crato e já é quase hora do
almoço. O engenho funciona a todo vapor, em Barbalha, município com 40 mil
habitantes, um dos seis produtores de cana-de-açúcar do vale do Cariri. São 70
engenhos na região.
O grito do fiscal agita a tropa e
Francisco toca em direção ao engenho. O trabalho é dividido em “fora” e
“dentro”. Fora, há o corte da cana, a formação dos feixes e o transporte,
trabalho de cortadores e cambiteiros. Dentro, trabalha o tombador, que joga a
cana na tronqueira, onde o botador a apanha e coloca na moenda. Feita a garapa,
o bagaço é jogado em um monte; e o bagaceiro-fresco pega e leva para o pátio,
onde os ciscadores espalham para que seque.
Dentro do engenho, nas caldeiras, os
caldeireiros cozinham e reviram o caldo com a espumadeira, retirando espuma e
impurezas, até que o ponto seja dado pelo mestre da rapadura. O calor chega a
mais de 60 graus, com muito vapor saindo no nível do chão. Todos trabalham de
calção e têm a pele inchada. Ganham o equivalente a três dólares por semana. Os
trabalhadores podem levar um pouco de melado ou mesmo rapadura para casa,
completando sua alimentação.
“É
uma escravidão, mas eles acham vantagem, pois no corte é mais duro”,
comenta Francisco José de Oliveira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Missão Velha.
Num engenho, a caminha de Missão Velha,
para cada cortador de cana adulto há um menino ou adolescente rebocando feixes
até o trator, que substituiu os burros. Os meninos também ajudam a cortar cana.
Júlio, 13 anos, enrola os feixes, vigiado pelo cabo. É o mais novo dos seis
filhos de um botador de fogo que está há 15 anos no engenho:
“Aqui não tem futuro pra quem estuda. Onde
vou trabalhar?”
Iolanda
Huzak e Jô Azevedo. Crianças de fibra.
Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 2000.
Entendendo o texto:
01 – Trata-se de um texto informativo ou ficcional? Por
quê?
É um texto informativo, pois as autoras relatam fatos
verdadeiros sobre o trabalho infantil em nosso país.
02 – Releia o primeiro
parágrafo do texto:
a)
Faça uma pesquisa para descobrir em que
estado do Brasil fica a cidade de Crato.
Fica no estado do Ceará.
b)
Na região em que você mora, há engenhos de
açúcar?
Resposta pessoal do aluno.
03 – Releia o segundo e o
terceiro parágrafo:
a)
Tente descobrir em que consiste o trabalho
do:
·
Tombador: jogar a cana na tronqueira.
·
Botador: apanhar a cana e coloca-la na moenda.
·
Bagaceiro-fresco: pegar o bagaço e leva-lo para o pátio.
·
Ciscador: espalhar o bagaço para que seque.
·
Caldeireiro: cozinhar, revirar o caldo da cana, retirar espuma e
impurezas.
·
Mestre
da rapadura: dizer se o caldo
está no ponto.
b)
O ambiente de trabalho perto das caldeiras é
bastante insalubre, isto é, faz muito mal às pessoas. Por quê?
Porque o calor excessivo faz mal à saúde.
04 – Observe a fala de
Júlio: “Aqui não tem futuro pra quem
estuda”. Será que Júlio tem oportunidade de estudar? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal
do aluno.
05 – Você já precisou
trabalhar para ajudar a família? Conte como foi.
Resposta pessoal
do aluno.
06 – Em sua opinião, que
oportunidades perde uma criança que trabalha?
Resposta pessoal
do aluno.
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