quarta-feira, 24 de abril de 2019

SONETO: Ó VIRGENS! ANTÔNIO NOBRE - COM QUESTÕES GABARITADAS

Soneto: Ó Virgens!
        
     Antônio Nobre

Ó virgens que passais, ao sol-poente,
Pelas estradas ermas, a cantar!
Eu quero ouvir uma canção ardente
Que me transporte ao meu perdido lar...

Cantai-me, n'essa voz omnipotente,
O sol que tomba, aureolando o mar,
A fartura da seara reluzente,
O vinho, a graça, a formosura, o luar!

Cantai! cantai as límpidas cantigas!
Das ruinas do meu Lar desaterrai
Todas aquelas ilusões antigas.

Que eu vi morrer num sonho, como um ai.
Ó suaves e frescas raparigas;
Adormecei-me nessa voz... Cantai! 
 In A. Soares Amora. Presença da literatura portuguesa.
“O Simbolismo”. São Paulo, Difel, 1974.
Entendendo o soneto:
01 – Que características do Simbolismo percebemos na expressão “ao meu perdido Lar”?
      Duas características: o uso de letras maiúsculas em substantivos comuns, dando-lhes um sentido de transcendência, de valor absoluto e a ideia de um “lar” metafísico, distante, de uma origem nostálgica, sobrenatural, idealizada.

02 – Com o sujeito lírico vislumbra o seu “transporte” a esse “perdido Lar”? Trata-se de um transporte real ou imaginário?
      A forma é o canto ardente da Virgens que passam; este canto transporta o sujeito lírico ao seu amigo lar imaginariamente, porque o evocam, fazem-no lembrar-se dele.

03 – Na segunda estrofe, quais são os objetos do canto das Virgens e o que representam para o sujeito lírico?
      As virgens cantam o sol, o mar, o campo (“A fartura da seara reluzente”) e o luar, isto é, os elementos da natureza, que representam o vinho e a graça, ou seja, a embriaguez e o encantamento, par o sujeito lírico.

04 – Transcreva o verso da 3ª estrofe em que melhor se perceba a musicalidade, presente em todo o poema.
      O verso é: “Cantai! Cantai as límpidas cantigas!”

05 – Que recursos sonoros essencialmente simbolistas do verso transcrito são responsáveis por sua musicalidade?
      As repetições de palavras e de sons, como as vogais a e i (assonância) e as consoantes c e t (aliterações).

06 – No desfecho do soneto (as duas estrofes finais), como percebemos as seguintes características simbolistas do poema:
a)   A recusa da realidade.
Percebemos a recusa da realidade pela expressão “... ilusões antigas / Que eu vi morrer num sonho...”.

b)   O desejo de evasão, a evocação da morte.
Ambas as ideias estão implícitas na vontade de adormecer, ouvindo o canto das Virgens, com a qual o sujeito lírico termina o soneto.


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