quarta-feira, 4 de junho de 2025

TEXTO: A CONTEMPORANEIDADE DO "PANIS ET CIRCENSES"- COM GABARITO

 Texto: A contemporaneidade do “Panis et circenses”

        No período denominado “século de ouro”, na Roma Antiga, instituiu-se o chamado “Panis et circenses”. A população recebia o alimento, a diversão, e tudo estava resolvido. Posteriormente, com a Revolução Industrial, deu-se a ideia do imediatismo, da rapidez nas linhas de produção. A história expõe que as ações e os pensamentos a longo prazo são cada vez menos priorizados pelo ser humano, em decorrência de uma construção ideológica que preza pela síntese, pelo veloz. Mas por quais razões isso ocorre?

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjH_cpsIzBPA81RIgqXuZNr1Yg1msVQaHLYDi_FGy_GY-F6RGIGDL7C8OmLI98PJrvlPV6Y378EkY3fT38gGDXUmTHEqF0a6lajBa3WRYN1-l5DZ6Qi4JjWx3RZQBRPYmXHXbsPXFZFdkhbtDWwQIrnTCloXqoW_UEpk5etVIU7p0SN4rMGgHc8ULCdB2k/s1600/PaniseCircenses.jpeg


        O tempo é tido – ou dado – como o agente condicionante da vida contemporânea. Ou melhor, a falta dele. Tornamo-nos escravos dos ponteiros, tornamo-nos vítimas de medidas que nós mesmos criamos. Esperar tornou-se uma tortura: deve-se viver – ou simplesmente “existir” – de acordo com o modelo just-in-time. Quando G. Lipovetsky afirma que a cultura do sacrifício está morta, é possível aplicar tal ideia ao fato de que a cultura do agora destruiu paulatinamente o poder do ser humano sobre o tempo, fazendo-o temer o passar dos dias, dos meses, do ano. Teme-se o envelhecimento, teme-se a morte.

        Mas o que verdadeiramente morre, se morrer o homem? O legado humano reduz-se porque não há tempo para deixar registro. Deve-se ler o jornal, pegar o metrô, trabalhar. Práticas como a leitura vêm sendo abandonadas pelas novas gerações que nasceram com um cronômetro instalado em suas mentes. O altruísmo e o amor natural e desinteressado já não existem, pois vive-se em prol do individual, do singular, não havendo, portanto, o estabelecimento de um “todo” harmonioso e relativamente equilibrado que leva o nome de “coletivo”. Levaria.

        Sucumbir ao paradoxo dos instantes, em prol da ascensão dos valores pregados por aqueles que defendem o estilo de vida que somos condicionados a levar, é anular a essência do ser humano como item imprescindível para o estabelecimento e disseminação da condição animal a que pertencemos. Exigir o veloz, o imediato e o sintético, sem ter a consciência de que estes valores são injetados em nossas mentes, é ter a confirmação de que o “Panis et circenses” da Roma Antiga é tão contemporâneo quanto o advento da globalização.

Candidato da FUVEST. Disponível em: https://document.onl/documents/a-contemporaneidade-do-panis-et-circenses.html. Acesso em 26/06/2021.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 309.

Entendendo o texto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

-- Altruísmo: interesse pelo bem-estar do próximo.

-- Panis et circenses: expressão latina que significa “pão e circo”.

02 – Qual o conceito de "Panis et circenses" e como o texto o relaciona com a contemporaneidade?

      "Panis et circenses" refere-se à prática da Roma Antiga de fornecer alimento e diversão à população para mantê-la controlada. O texto argumenta que esse conceito é contemporâneo porque, assim como no passado, a sociedade atual é condicionada a valorizar o imediato e o sintético, distraindo-se das questões mais profundas, o que se assemelha ao "pão e circo" moderno.

03 – Como a Revolução Industrial e a ideia do "just-in-time" contribuíram para a valorização do imediatismo na sociedade atual?

      A Revolução Industrial introduziu a ideia de rapidez nas linhas de produção, criando uma cultura do imediatismo. O conceito de "just-in-time" intensifica essa mentalidade, fazendo com que a espera se torne "tortura" e as ações a longo prazo sejam menos priorizadas, transformando as pessoas em "escravas dos ponteiros".

04 – De acordo com o texto, quais são os impactos da cultura do "agora" no legado humano e nas práticas sociais?

      A cultura do "agora" reduz o legado humano porque não há tempo para deixar registros significativos. Práticas como a leitura são abandonadas, e o altruísmo e o amor desinteressado deixam de existir, pois a vida se torna focada no individual, desestruturando a ideia de um "coletivo" harmonioso.

05 – O que o autor quer dizer com a afirmação de G. Lipovetsky de que "a cultura do sacrifício está morta" no contexto da crônica?

      No contexto da crônica, essa afirmação significa que a cultura da gratificação instantânea e da velocidade destruiu a capacidade humana de lidar com o tempo e a paciência. As pessoas não estão mais dispostas a "sacrificar" o presente pelo futuro, temendo o envelhecimento e a morte, o que as leva a valorizar o imediato.

06 – Qual a conclusão principal do autor sobre a relação entre o "Panis et circenses" e a condição humana na contemporaneidade?

      A conclusão principal é que a adesão aos valores do veloz, do imediato e do sintético, sem a consciência de que são "injetados" em nossas mentes, é a confirmação de que o "Panis et circenses" da Roma Antiga é tão presente quanto a globalização. Isso significa que o ser humano está anulando sua essência ao sucumbir a esse paradoxo dos instantes, sendo condicionado a uma "condição animal" que preza pela gratificação superficial em detrimento de uma reflexão mais profunda.

 

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