Reportagem: As cores de uma nação – Fragmento
Beatriz Levischi
Mais de um século após a abolição da
escravatura, permanece o fosso sociocultural que segrega os negros.
Princípio I – Toda criança tem direito
à igualdade, sem distinção de raça, religião ou nacionalidade.
Declaração dos Direitos
da Criança
Em um país que se gaba de ser plural e
miscigenado, o preconceito sobrevive tão arraigado quanto nos tempos da
escravidão. Segundo pesquisa realizada em 2007 pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE, negros e pardos têm menos escolaridade e um
rendimento médio equivalente à metade do recebido pela população que se declara
branca. Nem as cotas conseguiram acabar com o fosso que impede os jovens
afrodescendentes de se formar nas melhores instituições brasileiras e buscar
igualdade no mercado de trabalho.

Nesse contexto desfavorável, a
Associação Grupo Cultural Jongo da Serrinha luta para transformar em realidade
o sonho de uma nação que acolhe e valoriza todas as raças. No subúrbio de
Madureira, no Rio de Janeiro, a instituição atende cerca de cem meninos e
meninas, oferecendo condições para que eles brinquem, aprendam e entrem em contato
com as raízes negras.
Herança
africana – Misto de dança e música, o jongo foi trazido de Angola para o
Brasil pelos negros bantos. Com a Lei Áurea, de 1888, os escravos libertos do
Vale do Paraíba deixaram as fazendas de café e foram para as cidades em busca
de emprego. Primeiro, estabeleceram-se nas regiões centrais; depois, migraram
para os morros, onde continuaram a tradição de seus ancestrais. Movimento
artístico genuinamente negro, hoje, ele é considerado a avô do samba.
“O jongo abraça as pessoas. E esse
aconchego é tipicamente africano”, explica Luiza Marmello, coordenadora
pedagógica do Jongo da Serrinha, nome do morro onde está a maior comunidade
jongueira o país. As oficinas ministradas pelos educadores da ONG trabalham a
cultura popular, com ênfase nas danças de raiz. A iniciativa abrange também
oficinas de circo, teatro, capoeira, música (canto, violão, percussão e
cavaquinho) e artes plásticas.
Afeto
e inclusão – Na Serrinha, os mais velhos contam histórias aos mais novos,
os brinquedos são construídos pelas próprias crianças e os espetáculos
apresentados na comunidade têm preços populares. Tudo para democratizar o
acesso e valorizar a rica cultura africana que o país herdou. Por lá, ser negro
é motivo de orgulho. Mas não foi sempre assim.
Luiza recorda uma situação que viveu no
início do projeto, em 2001. Uma criança passava horas assistindo às aulas, mas
não conversava nem queria brincar com ninguém. “Todo dia, eu o cumprimentava e
pedia um beijo, sem resposta. Demorou meses para que aquele garoto superasse a
vergonha e se sentisse incluído”.
Disponível em: http://www.educacional.com.br/reportagens/direitos-da-crianca/parte-01.asp.
Acesso em: 5 nov. 2014.
Fonte: Língua
Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e
Shirley Goulart – 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 83-84.
Entendendo a reportagem:
01 – Qual a principal
problemática social abordada no início do texto, mesmo após a abolição da
escravatura?
A principal
problemática é a permanência do fosso sociocultural que segrega os negros,
evidenciando que o preconceito ainda está arraigado, apesar de o Brasil se
gabar de ser plural e miscigenado.
02 – Que dados da pesquisa do
IBGE (2007) demonstram a desigualdade enfrentada por negros e pardos no Brasil?
Segundo a
pesquisa do IBGE de 2007, negros e pardos apresentam menor escolaridade e um
rendimento médio equivalente à metade do recebido pela população que se declara
branca.
03 – Qual o objetivo da
Associação Grupo Cultural Jongo da Serrinha e onde ela atua?
A Associação
Grupo Cultural Jongo da Serrinha luta para transformar em realidade o sonho de
uma nação que acolhe e valoriza todas as raças. Ela atua no subúrbio de
Madureira, no Rio de Janeiro, atendendo cerca de cem meninos e meninas.
04 – Qual a origem do jongo e
como ele se relaciona com a história dos negros libertos no Brasil?
O jongo é um
misto de dança e música trazido de Angola pelos negros bantos. Após a Lei Áurea
(1888), os escravos libertos do Vale do Paraíba o levaram para as cidades e,
posteriormente, para os morros, onde continuaram essa tradição ancestral. Hoje,
é considerado o avô do samba.
05 – Além do jongo, quais
outras atividades são oferecidas nas oficinas da ONG na Serrinha?
Além das oficinas
que trabalham a cultura popular com ênfase nas danças de raiz, a iniciativa abrange
também oficinas de circo, teatro, capoeira, música (canto, violão, percussão e
cavaquinho) e artes plásticas.
06 – Como a comunidade da
Serrinha promove o afeto e a inclusão e a valorização da cultura africana?
Na Serrinha, os
mais velhos contam histórias aos mais novos, os brinquedos são construídos
pelas próprias crianças, e os espetáculos na comunidade têm preços populares,
tudo para democratizar o acesso e valorizar a rica cultura africana herdada
pelo país. O ambiente é construído para que ser negro seja motivo de orgulho.
07 – Qual o exemplo dado por
Luiza Marmello sobre a superação da vergonha e a inclusão das crianças no
projeto?
Luiza recorda o
caso de uma criança que passava horas assistindo às aulas, mas não conversava
nem brincava. Demorou meses para que o garoto superasse a vergonha e se
sentisse incluído, após Luiza o cumprimentar e pedir um beijo diariamente sem
resposta inicial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário