Crônica: Boneca Karajá: patrimônio imaterial do Brasil – Fragmento
Afonso Henrique Fernandes
O povo Karajá, uma das mais conhecidas
etnias indígenas do Brasil, ocupava originariamente as regiões localizadas na
extensão do rio Araguaia nos estados do Pará, Tocantins, Mato Grosso e Goiás.
Atualmente o aldeamento mais importante está localizado na ilha do Bananal no
Tocantins. A estimativa total da população Karajá gira entorno de 3.200
pessoas.
Apesar de ter sofrido com o avanço da
colonização ocidental, este grupo é um dos que melhor conseguiu preservar seus
costumes ao longo dos anos. Além de serem relativamente conhecidos no resto do
país, símbolos importantes como a língua, a pesca e alguns rituais se mantêm
nas práticas cotidianas. O principal exemplo desta preservação da cultura
Karajá é justamente a boneca de cerâmica feita por eles.
Para além de sua função enquanto
ornamento, as bonecas Karajá são uma boa amostra da cultura deste povo,
possuindo importantes significados sobre a sua organização social. Além disso,
nos dias de hoje, a produção e a comercialização das bonecas têm servido de relevante
fonte de renda para boa parte das famílias. Por isso, a boneca Karajá foi
recentemente reconhecida como patrimônio imaterial do Brasil.
O reconhecimento da boneca enquanto
patrimônio imaterial contribui justamente na preservação do “saber fazer”. A
técnica de produção da boneca é utilizada apenas pelos Karajás e é passada de
geração a geração. O processo, que tem duração de uma média de uma semana, é
controlado e dominado pelas mulheres e acompanhado pelas filhas que vão
aprendendo com as mães. A técnica consiste basicamente na coleta da argila,
preparo da massa, modelagem, secagem e pintura.
As faixas etárias dos Karajás são
definidas e representadas por símbolos estéticos representados pelas pinturas
corporais e formatos de cabelo. Este código também se apresenta nas bonecas.
Dessa forma, são produzidos conjuntos de bonecas que ilustram as distintas
composições familiares presentes na etnia Karajá. Também é possível encontrar
referências à fauna da região e à mitologia dos Karajás.
A
preservação deste patrimônio, passado de geração em geração, passa por
constantes ressignificações que dialogam com as alterações no ambiente e nas
interações sociais. Um exemplo deste processo é o fato de que hoje é possível
distinguir dois tipos distintos de boneca, a Hўkўnaritxoko (boneca antiga) e a
Ritxoko (boneca moderna). Enquanto a Hўkўnaritxoko representa a boneca
tradicional feita para os próprios Karajás, a Ritxoko está voltada para a
comercialização e, dessa forma, atente a objetivos mais decorativos.
Além disso, esta preservação do
patrimônio contribuiu para que se avance na difusão do conhecimento sobre os
povos indígenas do Brasil e na construção de uma memória que não relegue a esses
povos um espaço marginal.
[...]
FERNANDES, Afonso
Henrique. Boneca Karajá: patrimônio imaterial do Brasil. disponível em: http://saemuseunacional.wordpress.com/2014/02/18/boneca-karaja-patrimonio-imaterial-do-brasil/.
Acesso em: 5 nov. 2014. (Fragmento adaptado).
Fonte: Língua
Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e
Shirley Goulart – 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 78-79.
Entendendo a crônica:
01 – Onde o povo Karajá
ocupava originariamente e onde se localiza seu aldeamento mais importante
atualmente?
Originalmente, o
povo Karajá ocupava as regiões ao longo do rio Araguaia nos estados do Pará,
Tocantins, Mato Grosso e Goiás. Atualmente, o aldeamento mais importante está
localizado na ilha do Bananal, no Tocantins.
02 – Apesar da colonização, o
que o povo Karajá conseguiu preservar e qual é o principal exemplo dessa
preservação?
Apesar do avanço
da colonização ocidental, os Karajás conseguiram preservar bem seus costumes,
incluindo a língua, a pesca e alguns rituais. O principal exemplo dessa
preservação cultural é a boneca de cerâmica feita por eles.
03 – Qual a importância da
boneca Karajá além de sua função ornamental, e qual o reconhecimento recente
ela recebeu?
Além de sua
função ornamental, as bonecas Karajá possuem importantes significados sobre a
organização social do povo. Atualmente, a produção e comercialização das
bonecas também servem como fonte de renda para muitas famílias. Por essa
importância, a boneca Karajá foi recentemente reconhecida como patrimônio
imaterial do Brasil.
04 – Como a técnica de
produção da boneca Karajá é transmitida e quais são as etapas básicas do
processo?
A técnica de
produção da boneca é transmitida de geração em geração, sendo controlada e
dominada pelas mulheres, que são acompanhadas pelas filhas que aprendem com
suas mães. O processo envolve a coleta da argila, preparo da massa, modelagem,
secagem e pintura.
05 – De que forma as bonecas
Karajá representam a organização social e a cultura do povo?
As bonecas Karajá
incorporam os símbolos estéticos (pinturas corporais e formatos de cabelo) que
definem as faixas etárias dos Karajás. Assim, são produzidos conjuntos de bonecas
que ilustram as distintas composições familiares, e também é possível encontrar
referências à fauna regional e à mitologia Karajá nas bonecas.
06 – Quais são os dois tipos
distintos de boneca Karajá existentes hoje e qual a diferença entre elas?
Atualmente, existem dois tipos distintos de boneca: a
Hўkўnaritxoko (boneca antiga) e a Ritxoko (boneca moderna). A Hўkўnaritxoko
representa a boneca tradicional feita para os próprios Karajás, enquanto a
Ritxoko é voltada para a comercialização e possui objetivos mais decorativos.
07 – De que maneira a
preservação do patrimônio da boneca Karajá contribui para a difusão do
conhecimento sobre os povos indígenas?
A preservação
desse patrimônio contribui para difundir o conhecimento sobre os povos indígenas
do Brasil e para a construção de uma memória que lhes confira um espaço de
destaque e não marginalizado na história e cultura do país.
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