quarta-feira, 4 de junho de 2025

CONTO: A PAIXÃO SEGUNDO G.H. - FRAGMENTO - CLARICE LISPECTOR - COM GABARITO

 Conto: A PAIXÃO SEGUNDO G. H. – Fragmento

            Clarice Lispector

        [...]

        Não tenho uma palavra a dizer. Por que não me calo, então? Mas se eu não forçar a palavra a mudez me engolfará para sempre em ondas. A palavra e a forma serão a tábua onde boiarei sobre vagalhões de mudez.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFyH4mvUwYH6lkbJX1_5BGFdI1zaV_VQ6Um2TIGwpVDPnwTiO-4Glq88J8oAr3cb05ZI-eI0KzzxRmIA1hTjHap2IVvx1js0C9i97Vr6E11oxZj1wy_gdslTNP5OQmjfH99zlESbyaAcxJMRN-bAB5vjrg3eaLPPA2o9sO2D5euorQtUp0Sar5dWYODbU/s320/91uh24xeIKL._UF894,1000_QL80_.jpg


        [...]

        Vou criar o que me aconteceu. Só porque viver não é relatável. Viver não é vivível. Terei que criar sobre a vida. E sem mentir. Criar sim, mentir não. Criar não é imaginação, é correr o grande risco de se ter a realidade. Entender é uma criação, meu único modo. Precisarei com esforço traduzir sinais de telégrafo – traduzir o desconhecido para uma língua que desconheço, e sem sequer entender para que valem os sinais. Falarei nessa linguagem sonâmbula que se eu estivesse acordada não seria linguagem.

        [...].

São Paulo: ALLCA XX/Scipione Cultural, 199. p. 14-15.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 299.

Entendendo o conto:

01 – Qual o dilema inicial que a narradora expressa em relação à sua capacidade de se comunicar?

      O dilema inicial da narradora é a tensão entre o desejo de falar e a iminência do silêncio total. Ela sente que se não "forçar a palavra", a mudez a "engolfará para sempre em ondas", indicando que a linguagem é sua única tábua de salvação contra o vazio.

02 – Por que a narradora afirma que "viver não é relatável" e "viver não é vivível"?

      A narradora afirma isso porque entende que a experiência pura da vida transcende a capacidade da linguagem de capturá-la integralmente. Ela percebe que a vivência em si é tão profunda e multifacetada que não pode ser contida ou expressa de forma direta e completa pelas palavras.

03 – Qual a diferença que a narradora estabelece entre "criar" e "imaginar", e qual a importância de "criar" para ela?

      Para a narradora, "criar não é imaginação, é correr o grande risco de se ter a realidade". Isso significa que "criar" não é inventar algo que não existe, mas sim um processo de apreensão e compreensão da realidade em sua essência mais profunda, um modo de "traduzir o desconhecido" para que a experiência vivida possa ser de alguma forma acessada e comunicada.

04 – Que analogia a narradora usa para descrever o processo de tentar traduzir o indizível?

      A narradora usa a analogia de "traduzir sinais de telégrafo", mais especificamente, "traduzir o desconhecido para uma língua que desconheço, e sem sequer entender para que valem os sinais". Essa analogia ilustra a dificuldade extrema e a natureza quase impossível de sua tarefa de expressar o que vivenciou.

05 – Que tipo de linguagem a narradora prevê que usará para expressar o que lhe aconteceu e qual a característica peculiar dessa linguagem?

      A narradora prevê que usará uma "linguagem sonâmbula". A característica peculiar dessa linguagem é que, se ela estivesse "acordada", essa forma de expressão não seria considerada linguagem. Isso sugere uma comunicação que transcende a lógica e a racionalidade convencionais, emergindo de um estado de consciência alterado, necessário para alcançar a verdade de sua experiência.

 

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