Crônica: Nem tudo começa com um beijo – Fragmento
Jorge Araújo
XI
O apartamento tem vista para a solidão.
As pessoas cruzam-se nos elevadores, é “bom-dia”, “boa-tarde”, são vizinhos,
mas não se conhecem, cada um fechado no seu mundo. As crianças, quando não
estão na escola, vivem trancadas na rua. Os jovens, nos intervalos da rebeldia,
matam o tédio nas esquinas. Os velhos, esquecidos em quartos atrofiados, contam
os dias que faltam para a casa de repouso. O desempregado mora em muitas
famílias, os biscates são o pão nosso de cada dia. É um mundo triste, tão triste
que até dói.

Nestes prédios, o mundo do 2° andar
direito pouco ou nada difere do 10° andar esquerdo. É o mesmo cheiro de
refogado à hora do jantar, são os mesmos trajes de treino – lilás para eles,
cor-de-rosa para elas – adormecidos no varal à espera do fim de semana, as
mesmas lombadas de enciclopédias britânicas novinhas em folha estacionadas nas
estantes.
[...]
ARAÚJO, Jorge; PEREIRA,
Pedro Sousa. Nem tudo começa com um beijo. São Paulo: Agir, 2005. p. 87.
(Fragmento).
Fonte: Língua Portuguesa:
Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart
– 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 241.
Entendendo a crônica:
01 – Qual é o tema principal
abordado pelo autor neste fragmento?
O autor aborda
principalmente a solidão e o isolamento presentes na vida urbana contemporânea,
onde as pessoas, mesmo vivendo próximas, não se conectam verdadeiramente.
02 – Como o autor descreve a
interação entre os vizinhos no prédio?
A interação entre os vizinhos é descrita
como superficial e impessoal. Eles se cruzam nos elevadores, trocam
"bom-dia" e "boa-tarde", mas "não se conhecem, cada um
fechado no seu mundo."
03 – Que destino é sugerido
para as crianças, jovens e idosos neste ambiente?
Para as crianças,
o destino é viver "trancadas na rua" (provavelmente uma metáfora para
ficarem restritas a espaços limitados dentro de casa). Os jovens "matam o
tédio nas esquinas" nos intervalos da rebeldia. Já os velhos são
"esquecidos em quartos atrofiados" e "contam os dias que faltam
para a casa de repouso", indicando abandono e espera pelo fim.
04 – O que o autor quer dizer
com a frase "O desempregado mora em muitas famílias, os biscates são o pão
nosso de cada dia"?
Essa frase
destaca a realidade econômica difícil e a precariedade do trabalho. Sugere que
o desemprego é uma condição comum e que muitas famílias dependem de trabalhos
informais e temporários ("biscates") para sobreviver, refletindo a
dura realidade de muitas pessoas.
05 – De que forma o autor
enfatiza a uniformidade e a falta de individualidade nos prédios descritos?
O autor enfatiza
a uniformidade ao afirmar que "o mundo do 2° andar direito pouco ou nada
difere do 10° andar esquerdo". Ele aponta elementos comuns como o
"mesmo cheiro de refogado à hora do jantar", os "mesmos trajes
de treino" adormecidos no varal, e as "mesmas lombadas de
enciclopédias britânicas novinhas em folha estacionadas nas estantes",
mostrando uma rotina e um estilo de vida padronizados e sem distinções
significativas entre os moradores.
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