Poema: Os cortejos
Mário de
Andrade
Monotonias das minhas retinas...
Serpentinas de entes frementes a se desenrolar...
Todos os sempres das minhas visões! "Bon Giorno,
caro".

Horríveis as cidades!
Vaidades e mais vaidades...
Nada de asas! Nada de poesia! Nada de alegria!
Oh! os tumultuários das ausências!
Paulicéia — a grande boca de mil dentes;
e os jorros dentre a língua trissulca
de pus e de mais pus de distinção...
Giram homens fracos, baixos, magros...
Serpentinas de entes frementes a se desenrolar...
Estes homens de São Paulo,
todos iguais e desiguais,
quando vivem dentro dos meus olhos tão ricos,
parecem-me uns macacos, uns macacos.
Poesias completas. São
Paulo: Círculo do Livro. s. d. p. 40.
Fonte: Livro –
Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja,
Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 95.
Entendendo o poema:
01 – Qual a sensação inicial
expressa pelo eu lírico em relação às suas próprias percepções
("Monotonias das minhas retinas...") e como ele descreve o movimento
das pessoas que observa?
A sensação
inicial expressa pelo eu lírico é de monotonia em suas próprias percepções
("Monotonias das minhas retinas..."). Ele descreve o movimento das
pessoas que observa como "Serpentinas de entes frementes a se
desenrolar...", sugerindo um fluxo contínuo, talvez repetitivo e
inquietante, de indivíduos.
02 – Como o eu lírico expressa
sua aversão às cidades na segunda estrofe? Quais elementos ele associa a essa
crítica?
O eu lírico
expressa sua aversão às cidades chamando-as de "Horríveis!" e as
associa a "Vaidades e mais vaidades...". Ele sente falta de elementos
que considera essenciais, como "Nada de asas! Nada de poesia! Nada de
alegria!". A cidade é vista como um lugar de "tumultuários das
ausências", onde algo fundamental está faltando.
03 – Que imagem forte e
negativa o eu lírico utiliza para descrever a cidade de São Paulo
("Paulicéia")?
O eu lírico
utiliza a imagem forte e negativa de "Paulicéia — a grande boca de mil
dentes; / e os jorros dentre a língua trissulca / de pus e de mais pus de
distinção...". Essa metáfora apresenta a cidade como uma entidade voraz e
doentia, com uma linguagem corrompida pela superficialidade e pela busca
incessante por distinção social.
04 – Como o eu lírico descreve
fisicamente os homens de São Paulo que observa, e a que comparação depreciativa
ele os associa quando os vê através de seus "olhos tão ricos"?
O eu lírico
descreve fisicamente os homens de São Paulo como "fracos, baixos,
magros...". Quando os observa através de seus "olhos tão ricos",
ele os associa a uma comparação depreciativa, chamando-os de "uns macacos,
uns macacos", sugerindo uma visão de inferioridade, imitação ou falta de
individualidade.
05 – Qual a principal crítica
social e/ou existencial que parece emergir do poema "Os Cortejos"?
A principal
crítica que emerge do poema parece ser uma crítica à superficialidade, à
monotonia e à falta de autenticidade da vida urbana moderna, especialmente em
São Paulo. O eu lírico expressa um profundo desencanto com as vaidades sociais,
a ausência de poesia e alegria, e a aparente homogeneização e perda de
individualidade dos habitantes da cidade, vistos como seres repetitivos e até
mesmo animalescos. O poema revela um olhar crítico e desiludido sobre a
sociedade e a condição humana no contexto urbano.
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