domingo, 1 de junho de 2025

POEMA: CRISTO - JOSÉ RÉGIO - COM GABARITO

 Poema: CRISTO

             José Régio
Quando eu nasci, Senhor, já tu lá estavas,
Crucificado, lívido, esquecido.
Não respondeste, pois, ao meu gemido,
Que há muito tempo já que não falavas...

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWG6vl1XSyX4Q8hPNlTZVkSl_9ojQTVpZw2kFyw-kbQ3OHYXZugDLFajBVtBh6Ueu_HwIJZaGvc6jRqwQ6TuhfEsaRkU6JQlJvKf8HZr1cIQcjTL3g0stZ7WJUX3IrnHR_j0JCzpaY6IhG1zJk_Zb_Jxy3t_jYVwfUbUTG1yEBHLGWX1dNOL-zcZXNhvI/s1600/download.png



Redemoinhavam, longe, as turbas bravas,
Alevantando ao ar fumo e alarido.
E a tua benta Cruz de Deus vencido,
Quis eu erguê-la em minhas mãos escravas!

A turba veio então, seguiu-me os rastros;
E riu-se, e eu nem sequer fui açoitado,
E dos braços da Cruz fizeram mastros...

Senhor! eis-me vencido e tolerado:
Resta-me abrir os braços a teu lado,
E apodrecer contigo à luz dos astros!

Poemas de Deus e do diabo. 8. ed. Porto: Brasília Ed. 1972. p. 31.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 211.

Entendendo o poema:

01 – Qual a primeira constatação do eu lírico ao se referir a Cristo no início do poema, e que tom essa constatação estabelece para o restante dos versos?

      A primeira constatação do eu lírico é que, no momento de seu nascimento, Cristo já estava crucificado, "lívido, esquecido". Esse tom estabelece uma atmosfera de sofrimento preexistente, de abandono e de um silêncio divino que precede a própria existência do eu lírico, permeando todo o poema com uma sensação de ausência de resposta e de um fardo já imposto.

02 – Como o eu lírico descreve a reação das "turbas bravas" e qual o contraste que ele estabelece com a imagem de Cristo na cruz?

      O eu lírico descreve as "turbas bravas" como algo distante, em movimento caótico ("Redemoinhavam, longe"), produzindo "fumo e alarido". Esse barulho e agitação contrastam fortemente com a imagem de Cristo "crucificado, lívido, esquecido" e com o seu silêncio, evidenciando a indiferença ou hostilidade do mundo em relação ao sofrimento de Cristo.

03 – Qual a ação que o eu lírico deseja realizar em relação à cruz de Cristo e o que essa ação simboliza?

      O eu lírico deseja erguer a "benta Cruz de Deus vencido" em suas "mãos escravas". Essa ação simboliza uma tentativa de resgate, de identificação com o sofrimento de Cristo e talvez um desejo de dar um novo significado ou de assumir o peso dessa cruz em um mundo que parece tê-la abandonado.

04 – Descreva a reação da turba diante da tentativa do eu lírico de erguer a cruz. Qual a ironia presente nessa reação?

      A turba seguiu os rastros do eu lírico e riu-se dele, e ele sequer foi açoitado. A ironia reside no fato de que Cristo, ao carregar a cruz, sofreu açoitamento e a crucificação, enquanto o eu lírico, em sua tentativa de reerguer o símbolo desse sofrimento, é apenas ridicularizado e ignorado pela mesma turba. Isso sugere uma banalização do sacrifício e uma perda da sua significância para o mundo.

05 – Qual a resolução final do eu lírico diante de sua própria derrota e da aparente indiferença do mundo? Que imagem final encerra o poema?

      A resolução final do eu lírico é aceitar sua derrota ("eis-me vencido e tolerado") e se unir ao sofrimento de Cristo: "Resta-me abrir os braços a teu lado, / E apodrecer contigo à luz dos astros!". A imagem final é a de ambos, o eu lírico e Cristo, em um estado de decadência lado a lado, sob a fria e distante luz dos astros, enfatizando um sentimento de desolação e de um destino compartilhado de sofrimento e esquecimento.

 

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