Poema: CRISTO
José
Régio
Quando eu nasci, Senhor, já tu lá estavas,
Crucificado, lívido, esquecido.
Não respondeste, pois, ao meu gemido,
Que há muito tempo já que não falavas...

Redemoinhavam, longe, as turbas bravas,
Alevantando ao ar fumo e alarido.
E a tua benta Cruz de Deus vencido,
Quis eu erguê-la em minhas mãos escravas!
A turba veio então, seguiu-me os rastros;
E riu-se, e eu nem sequer fui açoitado,
E dos braços da Cruz fizeram mastros...
Senhor! eis-me vencido e tolerado:
Resta-me abrir os braços a teu lado,
E apodrecer contigo à luz dos astros!
Poemas de Deus e do
diabo. 8. ed. Porto: Brasília Ed. 1972. p. 31.
Fonte: Livro –
Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja,
Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 211.
Entendendo o poema:
01 – Qual a primeira
constatação do eu lírico ao se referir a Cristo no início do poema, e que tom
essa constatação estabelece para o restante dos versos?
A primeira
constatação do eu lírico é que, no momento de seu nascimento, Cristo já estava
crucificado, "lívido, esquecido". Esse tom estabelece uma atmosfera
de sofrimento preexistente, de abandono e de um silêncio divino que precede a
própria existência do eu lírico, permeando todo o poema com uma sensação de
ausência de resposta e de um fardo já imposto.
02 – Como o eu lírico descreve
a reação das "turbas bravas" e qual o contraste que ele estabelece
com a imagem de Cristo na cruz?
O eu lírico
descreve as "turbas bravas" como algo distante, em movimento caótico
("Redemoinhavam, longe"), produzindo "fumo e alarido". Esse
barulho e agitação contrastam fortemente com a imagem de Cristo
"crucificado, lívido, esquecido" e com o seu silêncio, evidenciando a
indiferença ou hostilidade do mundo em relação ao sofrimento de Cristo.
03 – Qual a ação que o eu
lírico deseja realizar em relação à cruz de Cristo e o que essa ação simboliza?
O eu lírico
deseja erguer a "benta Cruz de Deus vencido" em suas "mãos
escravas". Essa ação simboliza uma tentativa de resgate, de identificação
com o sofrimento de Cristo e talvez um desejo de dar um novo significado ou de
assumir o peso dessa cruz em um mundo que parece tê-la abandonado.
04 – Descreva a reação da
turba diante da tentativa do eu lírico de erguer a cruz. Qual a ironia presente
nessa reação?
A turba seguiu os
rastros do eu lírico e riu-se dele, e ele sequer foi açoitado. A ironia reside
no fato de que Cristo, ao carregar a cruz, sofreu açoitamento e a crucificação,
enquanto o eu lírico, em sua tentativa de reerguer o símbolo desse sofrimento,
é apenas ridicularizado e ignorado pela mesma turba. Isso sugere uma
banalização do sacrifício e uma perda da sua significância para o mundo.
05 – Qual a resolução final do
eu lírico diante de sua própria derrota e da aparente indiferença do mundo? Que
imagem final encerra o poema?
A resolução final
do eu lírico é aceitar sua derrota ("eis-me vencido e tolerado") e se
unir ao sofrimento de Cristo: "Resta-me abrir os braços a teu lado, / E apodrecer
contigo à luz dos astros!". A imagem final é a de ambos, o eu lírico e
Cristo, em um estado de decadência lado a lado, sob a fria e distante luz dos
astros, enfatizando um sentimento de desolação e de um destino compartilhado de
sofrimento e esquecimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário