domingo, 1 de junho de 2025

POEMA: EU SOU TREZENTOS ... MÁRIO DE ANDRADE - COM GABARITO

 Poema: EU SOU TREZENTOS...

             MÁRIO DE ANDRADE

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta, 
As sensações renascem de si mesmas sem repouso, 
Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras! 
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfcPxp-VuugFgH4YhuL4BQsR3X7Ie6eMTepfPMVr1dhkjprSeSzOAbWQTTrzbg-vRt-RRq_DlztLc7yS47RfBEVfdP2QcJj2vFdL5Labz7YpXd1Q_nIyIl0PfQG5YW0HIJAgrgKHn9dSy8tNfjCK9cc8499e-LLbBUz8UqtMqdDxW_TKG8ElVofLntQas/s320/CAI%C3%87ARA.jpg


Abraço no meu leito as melhores palavras, 
E os suspiros que dou são violinos alheios; 
Eu piso a terra como quem descobre a furto 
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta, 
Mas um dia afinal eu toparei comigo... 
Tenhamos paciência, andorinhas curtas, 
Só o esquecimento é que condensa, 
E então minha alma servirá de abrigo.

Poesias completas. São Paulo: Círculo do Livro. s. d. p. 189.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 96.

Entendendo o poema:

01 – Qual a primeira afirmação do eu lírico e o que sugere essa repetição numérica ("Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta")?

      A primeira afirmação do eu lírico é "Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta". Essa repetição numérica sugere uma multiplicidade de identidades, sensações e experiências que o eu lírico sente possuir. A imprecisão do número ("trezentos" e logo em seguida "trezentos-e-cinquenta") reforça a ideia de uma identidade fluida e em constante transformação, difícil de definir com precisão.

02 – Identifique as exclamações na primeira estrofe e interprete o que elas revelam sobre o estado emocional do eu lírico.

      As exclamações na primeira estrofe são "Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras!". Essas exclamações carregam um tom de intensidade, admiração e talvez até de estranhamento diante da variedade de elementos que compõem sua experiência. "Espelhos" podem simbolizar a reflexão sobre si mesmo em suas múltiplas facetas. "Pirineus" evocam uma grandiosidade natural e distante, enquanto "caiçaras" remetem a uma identidade cultural brasileira específica. A disposição dessas exclamações sugere um espírito inquieto e abrangente.

03 – Como o eu lírico descreve a relação com as palavras e os suspiros na segunda estrofe? Que efeito essa descrição produz?

      O eu lírico descreve que abraça "no meu leito as melhores palavras" e que seus suspiros são "violinos alheios". Essa descrição produz um efeito de intimidade com a linguagem, como se as palavras fossem um conforto ou um amante. Já a imagem dos suspiros como "violinos alheios" sugere que suas emoções podem ser expressas através de algo externo, talvez através da arte ou da experiência de outros, indicando uma permeabilidade entre o eu e o mundo.

04 – Qual a ação inusitada que o eu lírico descreve em relação ao ato de beijar e o que essa imagem pode simbolizar?

      O eu lírico descreve que pisa a terra "como quem descobre a furto / Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!". Essa imagem inusitada sugere uma busca constante por autoconhecimento e por reafirmação de sua identidade em lugares inesperados e cotidianos. Os "próprios beijos" encontrados furtivamente podem simbolizar momentos de autoaceitação, de reconhecimento de si mesmo em meio à vida agitada da cidade.

05 – Qual a esperança ou resolução expressa na última estrofe em relação ao encontro consigo mesmo e ao papel do esquecimento?

      Na última estrofe, o eu lírico expressa a esperança de que "um dia afinal eu toparei comigo...", indicando uma busca por uma identidade mais unificada. Ele pede paciência ("Tenhamos paciência, andorinhas curtas") e afirma que "só o esquecimento é que condensa", sugerindo que o tempo e o deixar para trás certas experiências são necessários para que sua alma encontre um abrigo, talvez uma forma mais estável ou compreensível de ser. O esquecimento, paradoxalmente, é visto como um processo de sedimentação da identidade.

 

 

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