Poema: AS JANELAS – Fragmento
Guillaume
Apollinaire
Do vermelho ao verde todo amarelo morre
Quando cantam as araras nas florestas natais
[...]
Aves chinesas de uma asa só voando em dupla
É preciso um poema sobre isso
Enviaremos mensagem telefônica

Traumatismo gigante
Faz escorrer os olhos
Garota bonita entre jovens turinenses
O moço pobre se assoava na gravata branca
Você vai erguer a cortina
E agora veja a janela se abre
Aranhas quando as mãos teciam a luz
Beleza palidez insondáveis violetas
Tentaremos em vão ter algum descanso
Vamos começar à meia-noite
Quando se tem tempo tem-se a liberdade
Marisco Lampreia múltiplos Sóis e o Ouriço do crepúsculo
Um velho par de sapatos amarelos diante da janela
Tours
As Torres são as ruas
[...]
Ó Paris
Do vermelho ao verde todo jovem perece
Paris Vancouver Hyères Maintenon Nova York e as Antilhas
A janela se abre como uma laranja
O belo fruto da luz.
Guillaume Apollinaire.
Tradução de Décio Pignatari. In: Décio Pignatari, org. 31 poetas e 214 poemas –
Do Rig-Veda e Safo a Apollinaire. São Paulo: Companhia das Letras, 199. p.
109-110.
Fonte: Livro –
Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja,
Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 31.
Entendendo o poema:
01 – Qual o significado da
palavra lampreia, no texto?
É um animal
marinho.
02 – Qual a imagem inicial do
poema e o que a cor amarela parece simbolizar na primeira estrofe?
A imagem inicial
do poema é a transição de cores "do vermelho ao verde", culminando na
morte do "todo amarelo". A cor amarela, nesse contexto, parece
simbolizar transitoriedade, o fim de um ciclo ou talvez um estado de declínio
entre a vitalidade (vermelho) e a esperança ou natureza (verde).
03 – Identifique duas imagens
que evocam o exótico ou o distante no poema e explique brevemente seus
possíveis significados.
Duas imagens que
evocam o exótico são "araras nas florestas natais" e "Aves
chinesas de uma asa só voando em dupla". As araras remetem a terras
tropicais e exuberantes, sugerindo um lugar distante e talvez idealizado. As
aves chinesas de uma asa só, voando em dupla, criam uma imagem surreal e
misteriosa, ligada a uma cultura distante e a uma necessidade de
complementaridade para alcançar o movimento.
04 – Quais elementos do poema
sugerem a modernidade e a quebra com a poesia tradicional?
Vários elementos sugerem a modernidade e
a quebra com a tradição: a menção a "mensagem telefônica" como forma
de comunicação, a expressão abrupta "Traumatismo gigante", a
justaposição de imagens díspares sem uma conexão lógica aparente ("Garota
bonita entre jovens turinenses / O moço pobre se assoava na gravata
branca"), e a própria fragmentação do poema. A ausência de rima e métrica
regulares também contribui para essa sensação de modernidade e liberdade
formal.
05 – Analise a metáfora
presente na penúltima estrofe: "A janela se abre como uma laranja / O belo
fruto da luz." O que essa comparação sugere?
A metáfora
compara a abertura da janela a uma laranja, descrita como o "belo fruto da
luz". Essa comparação sugere uma explosão de luminosidade e vitalidade,
assim como ao abrir uma janela e deixar a luz entrar. A laranja, com sua forma
arredondada e cor vibrante, evoca também uma sensação de plenitude e frescor,
como se a janela fosse uma fonte de energia e beleza natural.
06 – Qual a sensação geral que
o fragmento do poema transmite ao leitor, considerando a variedade de imagens e
a aparente falta de uma narrativa linear?
A sensação geral
que o fragmento transmite é de fragmentação, dinamismo e uma tentativa de
capturar a complexidade e a simultaneidade da experiência moderna. A variedade
de imagens, que vão do exótico ao cotidiano, do concreto ao abstrato, cria uma
atmosfera onírica e impressionista. A ausência de uma narrativa linear força o
leitor a conectar as imagens de forma intuitiva, evocando sentimentos de
estranhamento, beleza, melancolia e a constante transformação do mundo
("Do vermelho ao verde todo jovem perece"). O poema parece celebrar a
liberdade da linguagem e a capacidade de evocar múltiplas sensações através da
justaposição de elementos diversos.
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