domingo, 1 de junho de 2025

CRÔNICA: ALFABETIZAR ... TATIANA BELINKY - COM GABARITO

 Crônica: Alfabetizar...

               Tatiana Belinky

        Eu não sou professora – não tenho direito a esse título, não tive formação acadêmica para merecê-lo, até porque parei no segundo ano de Filosofia, e dali em diante "filosofei" pela vida por minha própria conta... Mas hoje, se fosse para ostentar um título muito honroso, eu gostaria que ele fosse o de alfabetizadora. Sim, porque para mim o momento mais importante do magistério, de todo o magistério, é o do professor primário, o "mestre-escola"; e dentro deste, o degrau verdadeiramente fundamental, primordial, é o do alfabetizador – ou quiçá deva dizer da alfabetizadora, a mulher, representante sem dúvida majoritária desta mais nobre das profissões.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlEWPrRuLD4D3RFhWWwy8BwHxrjVJADxmgVSioNbj9OLN4Xipxsjxb3zmKy-EnJq0vihPvL6j61qDrorNTrzvM9Oi8D-LjbEinmZdqL5PCSKyIjfDiX_g5mDFJHZGar-k40XEtRuFvgrvMgt70PYedfNIAuU8Uev-nXniVJgnSyMto0OlVylLLK9hRuNc/s1600/images.jpg


        Alfabetizar, qualquer que seja o método – e hoje os há mais eficientes do que muitos antigos, haja vista os de Paulo Freire ou Emília Ferreiro, para só citar dois (embora os métodos mais antigos não tenham deixado de produzir grandes nomes de escritores, poetas, dramaturgos, romancistas, pensadores, há séculos e mesmo milênios) –, alfabetizar é abrir os olhos de crianças, de jovens e de adultos para o mundo deslumbrante de Sua Majestade, a Palavra, na sua grande função de ferramenta do pensamento. A Palavra Escrita, para ser lida...

        Ensinar a ler, que maravilha! Abrir o caminho para a leitura, para o livro, maravilha! Dá vontade de fazer algumas citações, como por exemplo, "Bendito quem semeia, / livros à mancheia, / e faz o povo pensar!", de Castro Alves; ou "Um país se faz com homens e livros", de Monteiro Lobato. Ou até a "sacada" brilhante de Ziraldo: "Ler é mais importante do que estudar"...

        O grande papel do alfabetizador é, sim, ensinar a ler – mas a ler "de verdade", com fluência natural, sem decifrar penosamente o código escrito, sem tropeçar em letras, sílabas e palavras, sem "gaguejar" nas frases –, a ler "como quem respira" (ainda citando Ziraldo). E isto se consegue só com textos que de uma forma ou outra interessem aos alunos de qualquer tipo ou idade e nunca com "frases de cartilha" ocas e sem sentido...

        Alfabetizar é dar instrumentos ao estudante para saber fazer uso dessa habilidade adquirida em fins práticos, sim. Mas principalmente para presenteá-lo com o dom da leitura prazerosa – o acesso à literatura, com as suas emoções estéticas e éticas, a poesia, o romance, a aventura – toda uma riqueza sem fim... É ensiná-lo a "querer" ler, sem nunca "mandar". Ensiná-lo a gostar de ler...

        E aqui vai mais uma das minhas citações preferidas, do premiado escritor francês e professor de literatura, Daniel Pennac, na primeira frase do primeiro capítulo do seu livro Como um romance: "O verbo ler não comporta imperativo – como o verbo amar e o verbo sonhar... Não se manda – não se pode – mandar amar ou mandar sonhar. E o mesmo deve valer para a leitura, o encantamento e o prazer de ler – de ler de livre e espontânea vontade – o que só é possível quando se é alfabetizado 'pra valer'."

        E isto inclui, naturalmente, o aprender a escrever, a se expressar e se comunicar por escrito – mas aqui já se trata da segunda parte da alfabetização básica – “uma outra história que fica para uma outra vez", e não cabe no espaço desta pequena crônica...

        O que cabe aqui é mesmo uma entusiasmada saudação à Equipe Pedagógica do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores, com os votos de merecido sucesso da Tatiana Belinky.

Fonte: Letra e Vida. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – Coletânea de textos – Módulo 3 – CENP - São Paulo – 2005. p. 15-16.

Entendendo a crônica:

01 – Por que Tatiana Belinky, apesar de não ser professora, gostaria de ser reconhecida como alfabetizadora?

      Tatiana Belinky, mesmo sem formação acadêmica em pedagogia, gostaria do título de alfabetizadora porque considera essa a profissão mais nobre e o momento mais fundamental do magistério. Para ela, o ato de alfabetizar é o alicerce de todo o aprendizado e a chave para abrir o mundo do conhecimento.

02 – Qual é a principal função da Palavra Escrita, segundo a autora?

      A principal função da Palavra Escrita, segundo a autora, é ser a "ferramenta do pensamento". Ao abrir o mundo deslumbrante da Palavra, o alfabetizador oferece o instrumento essencial para que o indivíduo possa refletir, compreender e se expressar de forma mais profunda.

03 – Quais são os dois objetivos centrais do processo de alfabetização, além do uso prático da habilidade?

      Os dois objetivos centrais são, primeiro, ensinar a ler "de verdade", ou seja, com fluência natural e sem dificuldade, "como quem respira". Em segundo lugar, e talvez mais importante, é presentear o aluno com o dom da leitura prazerosa, abrindo o acesso à literatura, às emoções estéticas e éticas, e ensinando-o a "querer" ler, sem imposição.

04 – Como a crônica contrapõe os métodos de alfabetização antigos e modernos?

      A crônica menciona que, embora haja métodos modernos mais eficientes (citando Paulo Freire e Emília Ferreiro), os métodos antigos também produziram grandes nomes da literatura e do pensamento. Isso sugere que a eficácia da alfabetização vai além do método em si, focando mais no resultado de abrir o mundo da leitura para o indivíduo.

05 – Qual a importância de se usar textos que interessem aos alunos no processo de alfabetização?

      É crucial usar textos que interessem aos alunos porque isso permite que a leitura se torne fluente e natural, sem a necessidade de decifrar penosamente o código. A autora enfatiza que o prazer e o engajamento são alcançados com "textos que de uma forma ou outra interessem" e nunca com "frases de cartilha" ocas e sem sentido.

06 – O que a citação de Daniel Pennac sobre o verbo "ler" revela sobre a filosofia de ensino da autora?

      A citação de Daniel Pennac ("O verbo ler não comporta imperativo – como o verbo amar e o verbo sonhar...") revela a filosofia da autora de que a leitura não deve ser imposta. Assim como o amor e o sonho, o prazer de ler deve ser uma escolha livre e espontânea, algo que só é possível quando a pessoa é alfabetizada "pra valer" e desenvolve o desejo genuíno pela leitura.

07 – Por que a crônica não aprofunda o tema da escrita, apesar de mencioná-lo como parte da alfabetização básica?

        A crônica não aprofunda o tema da escrita porque, para a autora, o aprender a escrever e se expressar por escrito é a "segunda parte da alfabetização básica". Ela considera esse um tópico que "fica para uma outra vez" e que "não cabe no espaço desta pequena crônica", focando no objetivo principal de saudar o processo de alfabetização e o papel do alfabetizador na iniciação à leitura.

 

 

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