Entrevista com: Léa Fagundes sobre a inclusão digital – Fragmento
Pioneira
no uso da informática educacional no Brasil, Léa Fagundes cobra políticas
públicas para o setor e defende a ajuda mútua entre professores e alunos
Por
Marcelo Alencar
[...]

A
senhora coordena programas ligados à inclusão digital em escolas públicas. Que
lições tirou dessa experiência?
Na década de 1980, descobri que o
computador é um recurso "para pensar com", e que os alunos aprendem
mais quando ensinam à máquina. Em escolas municipais de Novo Hamburgo, crianças
programaram processadores de texto quando ainda não existiam os aplicativos do
Windows, produziram textos de diferentes tipos, criaram protótipos em robótica
e desenvolveram projetos gráficos.
Hoje, encontro esses meninos em cursos
de ciência da computação, mecatrônica, engenharia e outras áreas. Na Escola
Parque, que atendia meninos de rua em Brasília, a informática refletiu na
formação da garotada, melhorando sua auto-estima e evidenciando o desempenho de
pessoas socialmente integradas. Alguns desses garotos foram contratados como
professores e outros como técnicos.
Os
alunos da rede pública têm o mesmo desempenho no uso da informática que os de
escolas particulares e bem equipadas?
Sim. A tese de doutorado que defendi em
1986 me permitiu comprovar o funcionamento dos mecanismos cognitivos durante a
construção de conhecimentos.
Nos anos 1990 iniciei as experiências
de conexão e confirmei uma das minhas hipóteses: as crianças pobres
consideradas de pouca inteligência pelas escolas, quando se conectam e se
comunicam no ciberespaço, apresentam as mesmas possibilidades de
desenvolvimento que os alunos bem atendidos e saudáveis.
A
educação brasileira pode vencer a exclusão digital?
Há excelentes condições para que isso
aconteça. No Brasil já temos mais de 20 anos de estudos e experiências sobre a
introdução de novas tecnologias digitais na escola pública. Esses dados estão
disponíveis. O Ministério da Educação vem criando projetos nacionais com apoio
da maioria dos estados, como o Programa Nacional de Informática Educativa
(Proninfe) e o Programa Nacional de Informática na Educação (Proinfo). Muitas
organizações sociais e comunitárias também colaboram nesse processo.
O
que mais emperra o uso sistemático da informática nas escolas públicas?
A falta de continuidade dos programas
existentes nas sucessivas administrações. Não se pode esperar que educadores e
gestores tomem a iniciativa se o estado e a administração da educação não
garantem a infraestrutura nem sustentam técnica, financeira e politicamente o
processo de inovação tecnológica.
Como
o computador pode contribuir para a melhoria da educação?
Inclusão digital não é só o amplo
acesso à tecnologia, mas a apropriação dela na resolução de problemas. Veja a
questão dos baixos índices de alfabetização e de letramento, por exemplo. Uma
solução para melhorá-los seria levar os alunos a sentir o poder de se comunicar
rapidamente em grandes distâncias, ter ideias, expressá-las como autores e
publicar seus escritos no mundo virtual.
[...].
Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/planejamento-e-financiament/podemos-vencer-exclusao-digital-425469.shtml.
Acesso em: 18/7/2012.
Fonte: Livro –
Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja,
Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p.
316-317.
Entendendo a entrevista:
01 – Qual a principal
descoberta de Léa Fagundes sobre o uso do computador na educação na década de
1980?
Léa Fagundes descobriu que o computador é
um recurso "para pensar com" e que os alunos aprendem mais quando
ensinam à máquina.
02 – Que exemplos a
entrevistada cita para ilustrar o sucesso da informática educacional em escolas
públicas?
Ela cita que, em
Novo Hamburgo, crianças programaram processadores de texto, produziram
diferentes tipos de textos, criaram protótipos em robótica e desenvolveram
projetos gráficos. Na Escola Parque em Brasília, a informática melhorou a
autoestima dos garotos e evidenciou seu desempenho, levando-os a serem
contratados como professores e técnicos.
03 – Segundo Léa Fagundes,
existe diferença no desempenho de alunos da rede pública e particular no uso da
informática? Qual a sua hipótese comprovada?
Não, ela afirma
que não há diferença. Sua hipótese comprovada é que crianças pobres,
consideradas de pouca inteligência, quando se conectam e se comunicam no
ciberespaço, apresentam as mesmas possibilidades de desenvolvimento que alunos
bem atendidos e saudáveis.
04 – O que Léa Fagundes aponta
como o principal obstáculo para o uso sistemático da informática nas escolas
públicas brasileiras?
O principal
obstáculo é a falta de continuidade dos programas existentes nas sucessivas
administrações governamentais, que não garantem a infraestrutura nem o suporte
técnico, financeiro e político necessário.
05 – Qual a diferença entre
"acesso à tecnologia" e "inclusão digital" na visão de Léa
Fagundes?
Para Léa Fagundes, inclusão digital não é
apenas o amplo acesso à tecnologia, mas sim a apropriação dela na resolução de
problemas.
06 – De que maneira o
computador pode, segundo a entrevistada, contribuir para a melhoria dos índices
de alfabetização e letramento?
Ao permitir que
os alunos sintam o poder de se comunicar rapidamente em grandes distâncias, ter
ideias, expressá-las como autores e publicar seus escritos no mundo virtual.
07 – Quais são as condições
existentes no Brasil que, para Léa Fagundes, favorecem a superação da exclusão
digital?
Ela menciona que
o Brasil já possui mais de 20 anos de estudos e experiências sobre a introdução
de novas tecnologias digitais na escola pública, dados disponíveis, e que o
Ministério da Educação (MEC) vem criando projetos nacionais com apoio da
maioria dos estados (como Proninfe e Proinfo), além da colaboração de diversas
organizações sociais e comunitárias.
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