terça-feira, 23 de agosto de 2022

ROMANCE: O PEQUENO PRÍNCIPE - (FRAGMENTO) - ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY - COM GABARITO

 Romance: O pequeno príncipe – Fragmento

       [...]

        E foi então que apareceu a raposa: [...]

        -- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. – Estou tão triste...

        -- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. – Não fui cativada ainda. [...]

        -- Que quer dizer "cativar"? [...]

        -- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. – Significa "criar laços...” [...] - Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

        -- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...

        -- [...] se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo... [...] Por favor... cativa-me! – disse ela. [...].

        -- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.

        -- É preciso ser paciente - respondeu a raposa. [...]

        No dia seguinte o principezinho voltou.

        -- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa.  Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas, se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... [...]. Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:

        -- Ah! Eu vou chorar.

        -- A culpa é tua, [...] tu quiseste que eu te cativasse...

        -- Quis, disse a raposa.

        -- Mas tu vais chorar! Disse o principezinho.

        -- Vou, disse a raposa.

        -- Então, nãos sais lucrando nada!

        -- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo. [...] Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo. [...]

        E voltou, então, à raposa:

        -- Adeus, disse ele...

        -- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos. [...] Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante. [...] Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...

        -- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

 SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O pequeno príncipe. Tradução de Dom Marcos Barbosa. 41. ed. Rio de Janeiro: Agir, 2015.

Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020 – editora Ática – p. 96-7. (Fragmento).

Entendendo o romance:

01 – O que a presença de um animal falante pode revelar sobre o teor da narrativa?

      A presença do animal falante pode revelar que se trata de uma narrativa de fantasia, repleta de ensinamentos sobre a amizade e sobre as relações humanas de modo geral, o que a aproxima de gêneros como as fábulas e os contos de fadas, que têm função moralizante.

02 – O que significa o verbo cativar, segundo a raposa?

      Significa “criar laços...”, ou seja, estabelecer relação de afeto com alguém.

03 – A raposa afirma que cativar é uma “coisa muito esquecida”.  Que ela pode ter dito isso? Qual é sua opinião sobre essa afirmação? Acha que ela se aplica aos dias de hoje?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Provavelmente, a resposta da raposa reflete a dificuldade de estabelecer laços, algo que pode ser aplicado às relações atuais.

04 – Por que a raposa diz ao príncipe que, se for cativada, terá outro olhar sobre o campo de trigo? Justifique sua resposta explicando a comparação feita pela personagem.

      Porque o trigal dourado fará a raposa se lembrar dos cabelos loiros do pequeno príncipe e passará a ter um sentido afetivo para ela. A raposa compara o dourado dos cabelos do príncipe à cor do trigo.

05 – Explique o segredo que a raposa revela ao principezinho.

      Significa que, quando cativamos alguém, somos responsáveis pela felicidade dessa pessoa, pois ela passa a fazer parte de nossa vida, de tal modo que nos cabe cuidar dela para sempre.

06 – O que quer dizer se tornar “eternamente responsável” pelo que se cativou”

      Que o essencial é invisível para os olhos, pois só se pode ver bem com o coração. Ou seja, uma das coisas mais importantes na vida é o que sentimos, são nossos afetos.

 

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