quarta-feira, 3 de agosto de 2022

TEXTO: O OLHAR TAMBÉM PRECISA APRENDER A ENXERGAR - CARLOS HEITOR CONY - COM GABARITO

 Texto: O olhar também precisa aprender a enxergar

Texto 1

    Durante muitos e muitos anos, o Aleijadinho era desdenhado pelas cultas gentes. Tratava-se de um ignorante, que fazia leões com corpo de cachorro e cara de macaco. Em 1902, um crítico de artes plásticas austríaco viu a estátua do profeta Daniel em Congonhas do Campo e ficou horrorizado. Registrou em seu diário: “Só um povo imbecilizado pela sífilis e pela malária consentiria que tal monstruosidade ficasse ao lado do profeta Daniel.” [...]

CONY, Carlos Heitor. Folha de S. Paulo, São Paulo, 14 abr. 2005. Opinião, p. A2.

Texto 2

        O olhar também precisa aprender a enxergar

        Há uma historinha adorável, contada por Eduardo Galeano, escritor uruguaio, que diz que um pai, morador lá do interior do país, levou seu filho até a beira do mar. O menino nunca tinha visto aquela massa de água infinita. Os dois pararam sobre um morro. O menino, segurando a mão do pai, disse a ele: “Pai, me ajuda a olhar”. Pode parecer uma espécie de fantasia, mas deve ser a exata verdade, representando a sensação de faltarem não só palavras, mas também capacidade para entender o que é que estava se passando ali.

        Agora imagine o que se passa quando qualquer um de nós para diante de uma grande obra de arte visual: como olhar para aquilo e construir seu sentido na nossa percepção? Só com auxílio mesmo. Não quer dizer que a gente não se emocione apenas por ser exposto a um clássico absoluto, um Picasso ou um Niemeyer ou um Caravaggio. Quer dizer apenas que a gente pode ver melhor se entender melhor a lógica da criação.

FISCHER, Luís Augusto. Folha de S. Paulo, São Paulo.

               Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 158.

Entendendo os textos:

01 – O que revela o trecho do texto 1, de Carlos Heitor Cony?

      A passagem revela a rejeição ao que é diferente, a relatividade do conceito de “belo”, intolerância por parte de um crítico estrangeiro, preconceito contra a arte e o povo brasileiro.

02 – Explique o sentido de olhar e enxergar no título do texto 2, de Luís Augusto Fischer.

      Refere-se a uma gravação de sentido: primeiro olhar, depois enxergar. Olhar tem o sentido de dirigir os olhos para alguém, para algo ou para si; mirar, contemplar. Enxergar tem a acepção de distinguir pela visão; sentir, deduzir, inferir, julgar e entender.

03 – Relacionando a história contada pelo escritor uruguaio com “o que se passa quando qualquer um de nós para diante de uma grande obra de arte visual”, registre no caderno a ideia defendida pelo autor do texto 2.

I.O belo natural e o belo artístico provocam distintas reações de nossa percepção.

II.A educação do olhar leva a uma percepção compreensiva das coisas belas.

III. O belo artístico é tanto mais intenso quanto mais espelhe o belo natural.

IV. A lógica da criação artística é a mesma que rege o funcionamento da natureza.

V. A educação do olhar devolve ao adulto a espontaneidade da percepção das crianças.

      Alternativa II. De acordo com o texto de Luís Augusto Fischer, o olhar pode ser educado e a percepção pode ser aguçada para admirar e fruir a beleza natural ou artística.

04 – Analise a construção do texto 2 e registre no caderno a alternativa que explicita sua estrutura textual.

I. Há paralelismo de ideias entre os dois parágrafos, como, por exemplo, o que ocorre entre a frase do menino e a frase “Só com auxílio mesmo”.

II. A expressão “espécie de fantasia”, que aparece no primeiro parágrafo, é retomada e traduzida em “lógica de criação”, no segundo parágrafo.

III. A expressão “Agora imagine” tem como função assinalar a inteira independência do segundo parágrafo em relação ao primeiro.

IV. A afirmação contida no título restringe-se aos casos dos artistas mencionados no final do texto.

V. As ocorrências da expressão “a gente” constituem traços da impessoalidade e da objetividade que marcam a linguagem do texto.

      Alternativa I. Assim como o filho necessita da mediação do pai para entender a grandeza do mar, o autor constata que “só com auxílio mesmo” podemos desenvolver nossa percepção estética. A palavra mesmo retoma a ideia expressa no primeiro parágrafo.

 

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