Texto: O olhar também precisa aprender a enxergar
Durante muitos e muitos anos, o
Aleijadinho era desdenhado pelas cultas gentes. Tratava-se de um ignorante,
que fazia leões com corpo de cachorro e cara de macaco. Em 1902, um crítico de artes
plásticas austríaco viu a estátua do profeta Daniel em Congonhas do Campo e
ficou horrorizado. Registrou em seu diário: “Só um povo imbecilizado pela
sífilis e pela malária consentiria que tal monstruosidade ficasse ao lado do
profeta Daniel.” [...]
CONY, Carlos
Heitor. Folha de S. Paulo, São Paulo, 14 abr. 2005. Opinião, p. A2.
Texto
2
O olhar também precisa aprender a
enxergar
Há uma historinha adorável, contada
por Eduardo Galeano, escritor uruguaio, que diz que um pai, morador
lá do interior do país, levou seu filho até a beira do mar. O menino nunca
tinha visto aquela massa de água infinita. Os dois pararam sobre um
morro. O menino, segurando a mão do pai, disse a ele: “Pai, me ajuda a
olhar”. Pode parecer uma espécie de fantasia, mas deve ser a exata
verdade, representando a sensação de faltarem não só palavras, mas também
capacidade para entender o que é que estava se passando ali.
Agora imagine o que se passa quando
qualquer um de nós para diante de uma grande obra de arte visual: como olhar
para aquilo e construir seu sentido na nossa percepção? Só com auxílio mesmo.
Não quer dizer que a gente não se emocione apenas por ser exposto a um
clássico absoluto, um Picasso ou um Niemeyer ou um Caravaggio. Quer dizer
apenas que a gente pode ver melhor se entender melhor a lógica da criação.
FISCHER, Luís
Augusto. Folha de S. Paulo, São Paulo.
Fonte: Livro Língua Portuguesa –
Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 158.
Entendendo os textos:
01 – O que revela o trecho
do texto 1, de Carlos Heitor Cony?
A passagem revela
a rejeição ao que é diferente, a relatividade do conceito de “belo”,
intolerância por parte de um crítico estrangeiro, preconceito contra a arte e o
povo brasileiro.
02 – Explique o sentido de olhar e enxergar no título do texto 2, de Luís Augusto Fischer.
Refere-se a uma
gravação de sentido: primeiro olhar, depois enxergar. Olhar tem o sentido de dirigir os olhos para alguém, para algo ou
para si; mirar, contemplar. Enxergar
tem a acepção de distinguir pela visão; sentir, deduzir, inferir, julgar e
entender.
03 – Relacionando a história
contada pelo escritor uruguaio com “o que se passa quando qualquer um de nós
para diante de uma grande obra de arte visual”, registre no caderno a ideia
defendida pelo autor do texto 2.
I.O belo natural e o belo
artístico provocam distintas reações de nossa percepção.
II.A educação do
olhar leva a uma percepção compreensiva das coisas belas.
III. O belo artístico é
tanto mais intenso quanto mais espelhe o belo natural.
IV. A lógica da criação
artística é a mesma que rege o funcionamento da natureza.
V. A educação do olhar
devolve ao adulto a espontaneidade da percepção das crianças.
Alternativa II.
De acordo com o texto de Luís Augusto Fischer, o olhar pode ser educado e a
percepção pode ser aguçada para admirar e fruir a beleza natural ou artística.
04 – Analise a construção do
texto 2 e registre no caderno a alternativa que explicita sua estrutura
textual.
I. Há paralelismo de
ideias entre os dois parágrafos, como, por exemplo, o que ocorre entre a
frase do menino e a frase “Só com auxílio mesmo”.
II. A expressão
“espécie de fantasia”, que aparece no primeiro parágrafo, é retomada e
traduzida em “lógica de criação”, no segundo parágrafo.
III. A expressão “Agora
imagine” tem como função assinalar a inteira independência do segundo parágrafo
em relação ao primeiro.
IV. A afirmação contida
no título restringe-se aos casos dos artistas mencionados no final do texto.
V. As ocorrências da
expressão “a gente” constituem traços da impessoalidade e da objetividade que
marcam a linguagem do texto.
Alternativa I.
Assim como o filho necessita da mediação do pai para entender a grandeza do
mar, o autor constata que “só com auxílio mesmo” podemos desenvolver nossa
percepção estética. A palavra mesmo
retoma a ideia expressa no primeiro parágrafo.
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