Artigo de divulgação científica: Pessimismo
Para começar, precisamos de pessimistas por perto. Como diz o psicólogo americano Martin Seligman: “Os visionários, os planejadores, os desenvolvedores, todos eles precisam sonhar com coisas que ainda não existem, explorar fronteiras. Mas, se todas as pessoas forem otimistas, será um desastre”, afirma. Qualquer empresa precisa de figuras que joguem a dura realidade sobre os otimistas: tesoureiros, vice-presidentes financeiros, engenheiros de segurança...
Esse realismo é coisa pequena se
comparado com o pessimismo do filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860).
Para ele, o otimismo é a causa de todo sofrimento existencial. Somos movidos
pela vontade – um sentimento que nos leva a agir, assumir riscos e conquistar
objetivos. Mas essa vontade é apenas uma parte de um ciclo inescapável de
desilusões: dela vamos ao sucesso, então à frustração – e a uma nova
vontade.
Mas qual é o remédio, então? Se livrar
das vontades e passar o resto da vida na cama sem produzir mais nada? Claro que
não. A filosofia do alemão não foi produzida para ser levada ao pé da letra.
Mas essa visão seca joga luz no outro lado da moeda do pessimismo: o excesso de
otimismo – propagandeado nas últimas décadas por toneladas de livros de
autoajuda. O segredo por trás do otimismo exacerbado, do pensamento positivo
desvairado, não tem nada de glorioso: ele é uma fonte de ansiedade. É o que
concluíram os psicólogos John Lee e Joane Wood, da Universidade de
Waterloo, no Canadá. Um estudo deles mostrou que pacientes com autoestima baixa
tendem a piorar mais ainda quando são obrigados a pensar positivamente.
Na prática: é como se, ao repetir para
si mesmo que você vai conseguir uma promoção no trabalho, por exemplo,
isso só servisse para lembrar o quanto você está distante disso. A conclusão
dos pesquisadores é que o melhor caminho é entender as razões do seu pessimismo
e aí sim tomar providências. E que o pior é enterrar os pensamentos negativos
sob uma camada de otimismo artificial. O filósofo britânico Roger Scruton vai
além disso. Para ele, há algo pior do que o otimismo puro e simples: o
“otimismo inescrupuloso”. Aquelas utopias que levam populações inteiras a
aceitar falácias e resistir à razão. O maior exemplo disso foi a ascensão do
nazismo – um regime terrível, mas essencialmente otimista, tanto que deu origem
à Segunda Guerra com a certeza inabalável da vitória. E qual a resposta de
Scruton para esse otimismo inescrupuloso? O pessimismo, que, segundo ele,
cria leis preparadas para os piores cenários. O melhor jeito de evitar o pior,
enfim, é antever o pior.
Extraído de M. Horta.
“O lado bom das coisas ruins”, Superinteressante, São Paulo, n. 302, março
2012. Disponível em: http://super.abril.com.br/cotidiano/lado-bom-coisass-ruins-680705.shtml.
Fonte: Livro Língua Portuguesa –
Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 340-1.
Entendendo o artigo de
divulgação científica:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Visionário: idealista; que tem ideias excêntricas, extravagantes.
·
Utopia: projeto de natureza irrealizável; quimera; fantasia.
·
Falácia: raciocínio verossímil, porém falso; engano; trapaça.
02 – Você é pessimista ou
otimista? Por quê?
Resposta pessoal
do aluno.
03 – Há vantagens em ser
otimista? E em ser pessimista?
Resposta pessoal
do aluno.
04 – O texto “Pessimismo” é trecho de um artigo
publicado em uma revista de divulgação científica.
a) Qual é o título e quem é o autor do artigo do qual o trecho foi extraído?
O artigo de divulgação científica intitula-se “O lado bom da coisas
ruins” e foi escrito por M. Horta.
b) Como você descobriu essas informações?
Pela fonte que aparece logo após o texto.
05 – Qual é o objetivo do
texto “Pessimismo”?
Comparar atitudes
pessimistas e otimistas e destacar o papel positivo do pessimismo nos planos
individual, social e político.
06 – No texto “Pessimismo” foram usadas diferentes
estratégias argumentativas:
• Confronto entre
pessimismo e otimismo;
• Uso da primeira
pessoa do plural, fazendo com que o autor se inclua entre aqueles que refletem
a respeito do assunto;
• Citação de autoridades;
• Exemplificação com fatos
da vida cotidiana e eventos históricos.
Explique a estratégia argumentativa
empregada pelo autor:
a) No primeiro parágrafo.
O autor cita como argumento
a opinião do psicólogo Martin Seligman para legitimar sua tese: a importância da presença de pessoas pessimistas em empresas
(grupos de planejadores, desenvolvedores, empreendedores e altos funcionários),
otimistas, para manter o senso da dura realidade e a eficiência da empresa.
b) No segundo parágrafo.
O autor cita o ponto de vista
do filósofo (pessimista) alemão Arthur Schopenhauer, que atribui ao otimismo
todos os sofrimentos existenciais do mundo.
c) No terceiro parágrafo.
O autor faz uma ressalva
à posição extremada de Arthur Schopenhauer, mas retoma a tese de que o otimismo exacerbado, na vida pessoal,
provoca ansiedade. O autor confirma
esse posicionamento citando um estudo de dois psicólogos canadenses da
Universidade de Waterloo: John Lee e Joane Wood. Segundo esse estudo, pacientes
que têm baixa autoestima podem piorar seu estado psíquico quando são obrigados
a pensar de modo otimista.
d) No quarto parágrafo.
O autor faz um alerta
contra o otimismo artificiais e cita
o filósofo britânico Roger Scruton, que aponta o “otimismo inescrupuloso” no
plano político: o que leva um povo a acreditar em projetos irrealizáveis e
mentiras. Esse especialista exemplifica tal tese com dois eventos históricos: a
ascensão do nazismo e a eclosão da Segunda Guerra Mundial.
07 – Qual é a conclusão
do texto?
No final, o
redator conclui sua tese citando a resposta que Scruton encontrou para o
“otimismo inescrupuloso”: o pessimismo, que acaba por criar maneiras de
evitarmos o pior, antevendo-o. Ou seja: é melhor esperar pelo pior, para evitar
surpresas desagradáveis.
08 – Você concorda com esse
ponto de vista? Por quê?
Resposta pessoal
do aluno.
09 – No caderno, dê exemplos
de seu cotidiano para:
a) Ilustrar a tese defendida no texto.
Resposta pessoal do aluno.
b) Contestar a tese defendida no texto.
Resposta pessoal do aluno.
10 – A revista de
divulgação científica em que o texto foi publicado é dirigida ao
público interessado no assunto, especialmente os jovens. Registre no
caderno os recursos que o redator usou para atingir esse público.
a)
Empregou linguagem clara e objetiva.
b)
Buscou interação com o leitor.
c)
Usou expressões da linguagem coloquial.
d)
Remeteu o leitor a situações cotidianas.
Todas as
alternativas estão corretas.
11 – Explique o uso dos
termos destacados nos trechos a seguir na articulação das ideias do texto “Pessimismo”:
a) Para começar, precisamos dos pessimistas [...].
Expressão coloquial, empregada para se aproximar do leitor e
introduzir o assunto.
b) Esse realismo é coisa pequena [...].
Retoma a ideia de realismo
exposta anteriormente, e que, segundo o texto, é “coisa pequena” se comparada
ao pessimismo de Arthur Schopenhauer.
c) E que o pior é enterrar os pensamentos negativos sob uma camada de otimismo artificial.
Acrescenta outro argumento contrário ao otimismo artificial, na vida
pessoal.
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