sábado, 13 de agosto de 2022

CRÔNICA: SERÁ O FIM DO CADEADO DO AMOR? (FRAGMENTO) MARCELO RUBENS PAIVA - COM GABARITO

 Crônica: Será o fim do cadeado do amor? – Fragmento

                 Marcelo Rubens Paiva

   Numa das paisagens urbanas mais deslumbrantes, fruto da engenharia humana, a Pont des Arts, de Paris, casais do mundo todo resolveram intervir e prender cadeados em seu gradil, como prova de amor.

        Não amor à civilização, humanidade, igualdade, fraternidade e liberdade.

        Mas ao casinho, ao namorido, ao parceiro, ao amante.

        Trancavam um cadeado no beiral de ferro trabalhado há séculos, da ponte construída no começo de 1800, e jogavam a chave no Sena, esperando um amor duradouro.

        Me lembro que a vi com meia dúzia de cadeados. Fui a Paris umas quatro vezes (a trabalho) e acompanhei o crescimento desordenado e exponencial desta aberração urbana, numa das minhas e de muitos paisagens preferidas.

        Paris é abarrotada de turistas.

        É a cidade-luz, do romance, do amor, das artes, o museu a céu aberto.

        Prender cadeados numa obra de arte, além de pretensioso, não ia dar certo.

        Nem sei se funciona numa relação amorosa se sustentar apenas com a tranca de um cadeado de bicicleta que custa de dez a 50 euros.

        Não deu: começou a abalar a estrutura de 45 toneladas.

        Finalmente, o gradil começou a ser retirado, depois de meses de debate na Prefeitura.

        Nem teve protestos. E sim turistas, com suas câmeras.

        […]

        Enquanto os apaixonados não encontrarem formas mais sensatas de provar o amor, falta agora catar as estimadas 700 mil chaves que estão no leito do Sena, que corre abaixo.

        Daria para construir outra ponte com elas.

PAIVA, Marcelo Rubens. Publicado em: 3 jun. 2015. Disponível em: http://cultura.estadao.com.br/blogs/marcelo-rubens-paiva/sera-o-fim-do-cadeado-do-amor/. Acesso em: 8 jan. 2016. (Fragmento).

     Fonte: Língua Portuguesa – Se liga na língua – Literatura, Produção de texto, Linguagem – 2 Ensino Médio – 1ª edição – São Paulo, 2016 – Moderna – p. 348.

Entendendo a crônica:

01 – Segundo o texto, por que os casais prendiam cadeados nessa ponte?

      Porque, segundo a tradição, os cadeados fechados na ponte eternizariam o relacionamento dos casais.

02 – Qual é a opinião do autor sobre esse hábito? Cite palavras ou expressões que justifiquem a resposta.

      O autor não concorda com essa tradição, que ele chama de “aberração urbana” e ato “pretensioso”. O advérbio finalmente, usado para caracterizar a ação de retirada, também indica crítica àquela prática.

03 – Releia o segundo e o terceiro parágrafos do texto e explique a função argumentativa da contraposição apresentada.

      O terceiro parágrafo descreve o tipo de relacionamento representado pelos cadeados na ponte com termos que indicam superficialidade, o que mais se reforça quando esses termos são confrontados com valores humanos atemporais e universais indicados no segundo parágrafo, os quais estão firmemente associados à história da França.

04 – Por que foi empregado sinal indicativo de crase no segundo parágrafo? Seu uso é correto na introdução de todos os complementos? Explique.

      Sim. A preposição a introduz os complementos do substantivo amor (civilização, humanidade, igualdade, fraternidade e liberdade) e, uma vez que esses complementos são substantivos femininos, é correta a sinalização de crase, válida para todos eles.

05 – Por que foi usada a preposição a antes dos substantivos do terceiro parágrafo?

      A palavra amor está subentendida na oração desse parágrafo, porque já foi citada na oração do parágrafo anterior, o que exige o emprego da preposição a antes dos artigos masculinos.

06 – Justifique a ausência do sinal indicativo de crase no a em “Fui a Paris”.

      O substantivo Paris não admite o artigo feminino, por isso não há crase.

07 – A troca de Paris por França exigiria a indicação de crase? Justifique.

      Sim. O substantivo França admite o artigo feminino, logo haveria contração da preposição com o artigo.

08 – O articulista ressalva que suas várias viagens a Paris ocorreram “a trabalho”. Na sua opinião, que imagem ele constrói dele mesmo ao fazer essa ressalva?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Paris é considerada um local romântico e, por isso, a ressalva pode formar a ideia de que o articulista é avesso a determinadas manifestações afetivas, o que coincide com a opinião dele sobre a retirada dos cadeados da ponte.

09 – Quais valores semânticos podem ser atribuídos à preposição na expressão viagem a trabalho? Por que não houve a indicação de crase?

      Pode-se entender a trabalho como uma expressão de causa ou de finalidade. Não há indicação de crase porque o substantivo que vem depois da preposição é masculino.

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