segunda-feira, 22 de agosto de 2022

POEMA: SER INDÍGENA - SER OMÁGUA - MÁRCIA WAYNA KAMBEBA - COM GABARITO

Poema: Ser indígena – Ser Omágua

              Márcia Wayna Kambeba


Sou filha da selva, minha fala é Tupi.

Trago em meu peito,

as dores e as alegrias do povo Kambeba

e na alma, a força de reafirmar a

nossa identidade,

que há tempo ficou esquecida,

diluída na história.

Mas hoje, revivo e resgato a chama

ancestral de nossa memória.

 

Sou Kambeba e existo sim:

No toque de todos os tambores,

na força de todos os arcos,

no sangue derramado que ainda colore

essa terra que é nossa.

Nossa dança guerreira tem começo,

mas não tem fim!

Foi a partir de uma gota d’água

que o sopro da vida gerou o povo Omágua.

E na dança dos tempos

pajés e curacas

mantêm a palavra

dos espíritos da mata,

refúgio e morada

do povo cabeça-chata.

 

Que o nosso canto ecoe pelos ares

como um grito de clamor a Tupã,

em ritos sagrados,

em templos erguidos,

em todas as manhãs!

KAMBEBA, Márcia Wayna. Ay kakyri Tama. Manaus: Grafisa, 2013.

Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020 – editora Ática – p. 296.

Entendendo o poema:

01 – Por que a voz do eu lírico pode ser identificada à voz da própria autora? Que efeito essa identificação provoca na leitura do poema?

      A voz lírica se faz presente já no primeiro verso (“[Eu] Sou filha da selva, minha fala é Tupi.”), confirmando-se nos demais. Assim, essa identificação provoca o efeito de “testemunho”, de uma história vivida que é, nos versos, poeticamente recriada.

02 – Qual é a principal ideia desenvolvida pelo eu lírico na segunda estrofe? Explique a partir de trechos do poema.

      A segunda estrofe tem início com o verso: “Sou Kambeba e existo sim:” – a partir dele, o eu lírico afirma a força de resistência de seu povo, pois a “dança guerreira tem começo, / mas não tem fim!”, e apresenta algumas de suas tradições, que estão vivas, pois “na dança dos tempos / pagés e curacas / mantêm a palavra / dos espíritos da mata”. Portanto, a principal ideia desenvolvida na estrofe é a afirmação identitária.

03 – A terceira estrofe expressa um desejo do eu lírico. Qual é esse desejo? De que forma ele expressa um ideal de resistência dos povos indígenas?

      A terceira estrofe expressa o desejo de que o canto do povo Omágua ecoe pelos ares, como um grito de clamor a Tupã, em ritos sagrados, em templos erguidos, em todas as manhãs. Esse desejo expressa um ideal de resistência na medida em que revela o desejo de perpetuação das tradições (canto, grito de clamor a Tupã, ritos sagrados, templos erguidos) do povo Omágua ao longo do tempo (em todas as manhãs).

 

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